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Sobre o Santuário de Faulkner

  Depois de escrever uma obra-prima que acabou vendendo quase nada ( The Sound and The Fury ), casado, dono de uma casa de fazenda caindo aos pedaços e duro de dar dó, Faulkner resolveu chutar o balde:  Comecei a pensar em um livro em termos de dinheiro… tentei adivinhar o que uma pessoa no Mississippi acha que são os assuntos do momento, escolhi os que me pareciam os mais prováveis e inventei uma história, a mais escabrosa que eu conseguisse imaginar.  Conta a lenda que, quando leu o primeiro manuscrito de Sanctuary , o editor Harrison Smith teria dito “pelo amor de Deus, eu não posso publicar isso. Vamos acabar os dois sendo presos!” Não era a primeira nem a última vez em que Faulkner tinha um manuscrito seu rejeitado. O escritor simplesmente deu de ombros e foi escrever As I Lay Dying nos intervalos quando trabalhava alimentando de carvão a caldeira da Universidade do Mississippi.   Qual foi a surpresa de Faulkner quando um tempo depois recebeu de Harrison S...

Era uma vez Faulkner no Guiness Book

O motivo da inclusão de Faulkner no Guiness Book: uma frase de 1.288 palavras do romance Absalom, Absalom! , que faz justiça à vontade expressa de Faulkner de "... tentar dizer tudo em uma frase, entre uma maiúscula e um ponto. Eis a frase: "Just exactly like Father if Father had known as much about it the night before I went out there as he did the day after I came back thinking Mad impotent old man who realized at last that there must be some limit even to the capabilities of a demon for doing harm, who must have seen his situation as that of the show girl, the pony, who realizes that the principal tune she prances to comes not from horn and fiddle and drum but from a clock and calendar, must have seen himself as the old wornout cannon which realizes that it can deliver just one more fierce shot and crumble to dust in its own furious blast and recoil, who looked about upon the scene which was still within his scope and compass and saw son gone, vanished, more insuperable to...

Seis pérolas críticas

Foto Minha: Sem Título 1. A obsessão com o passado é geral e volta e meia citam Faulkner com " The past is never dead. It's not even past."  Só que quem "diz" isso é um personagem num romance, num diálogo meio furado em que a personagem Temple Drake nega seu passado repetidamente e o seu advogado sai-se com essa tirada, aliás bem faulkneriana. Digamos que o mesmo serve para praticamente todas as citações atribuídas a escritores como Clarice Lispector ou Guimarães Rosa - trata-se de palavras que eles botam na boca dos seus personagens, que geralmente não são ventríloquos que ficam dizendo exatamente o que pensavam os autores. Aliás o talento de um escritor de ficção geralmente não é dizer coisas interessantes, mas sim, com propriedade e beleza, botar na boca de papel dos seus personagens de papel palavras de tinta. 2. Santo Agostinho chamava a memória de estômago da alma. Ali se digere aquilo que os sentidos um dia absorveram. Algum panaca resolve que fica ...

Obituário: Faulkner

Trecho de uma carta famosa do meu amigo de FCBK William Faulkner :  "É meu objetivo e fruto de todos os meus esforços que o sumário e a história da minha vida, que é em uma só sentença obituário e epitáfio também, seja os dois então: Ele escreveu os livros e ele morreu"  [It is my aim and every effort bent, that the sum and history of my life, which in the same sentence is my obit and epitaph too, shall be them both: He wrote the books and he died].

Postais do Inferno: Sobre tamanhos

"Eu estou tentando dizer tudo numa só frase, entre uma Maiúscula e um ponto final. Estou ainda tentando conter tudo, se possível, na cabeça de um alfinete. Eu não sei como fazê-lo. Eu só sei continuar tentando cada vez de um jeito diferente."  “I’m trying to say it all in one sentence, between one Cap and one period. I’m still trying to put it all, if possible, on one pinhead. I don’t know how to do it.  All I know to do is to keep on trying in a new way.” William Faulkner, carta a Malcolm Cowley Desenho meu: Auto-Retrato  "( …) o que me interessa, na ficção, primeiro que tudo, é o problema do destino, sorte e azar, vida e morte. O homem a “N” dimensões ou então, representado a uma só dimensão: uma linha, evoluindo num gráfico. Para o primeiro caso, nem o romance ainda não chega; para o segundo, o conto basta. Questão de economia. ” João Guimarães Rosa, entrevista a Ascendino Leite -->

Faulkner e seus fósforos

Faulkner rindo da nossa cara em Los Angeles Faulkner usou essa cena lindíssima de um fósforo aceso no meio da noite mais de uma vez. Acho que a mais famosa é essa aí, de Luz em Agosto [ Light in August ], onde a coisa é quase um motive – volta e meia aparece o personagem principal acendendo um fósforo no meio do escuro: "So Christmas lit the cigarette and snapped the match toward the open door, watching the flame vanish in midair. Then he was listening for the light, trivial sound which the dead match would make when it struck the floor. And then it seemed to him that he heard it. Then it seemed to him, sitting on a cot in a dark room, that he was hearing a myriad sounds of no greater volume-- voices, murmurs, whispers, of trees, darkness, earth, people, his own voice, other voices evocative of names and times and places-- which he had been conscious of all his life without knowing it, which were his life, thinking God perhaps and me not knowing that too . He could see it ...

I don't. I don't! I don't hate it! I don't hate it!"

Uma passagem marcante de Absalom, Absalom! hoje em dia me marca de um outro jeito, diferente de antes. É o seguinte diálogo, entre o colega canadense Shreve Cannon e Quentin Compson, num quarto gelado da Universidade de Harvard: Sol no Assoalho ou The Iron New England Light, 2006 "Tell about the South," said Shreve McCannon. "What do they do there? How do they live there? Why do they?…Tell me one more thing. Why do you hate the South?" "I don't hate it," Quentin said, quickly, at once, immediately; "I don't hate it," he said. "I don't hate it he thought, panting in the cold air, the iron New England dark: I don't. I don't! I don't hate it! I don't hate it!"  Ela me marca diferente hoje porque é o que eu sinto hoje a respeito de um país que, num lance de amarga ironia, é parte integrante do meu trabalho e um fantasma inexoravelmente mais apagado ano após ano. É o que sinto porque todas discuss...