Foto Minha: Sem Título |
2. Santo Agostinho chamava a memória de estômago da alma. Ali se digere aquilo que os sentidos um dia absorveram. Algum panaca resolve que fica mais bonito traduzir como "ventre da alma" e daí para imaginarem a alma parindo coisas a partir da semente do passado é um pulo. Sêneca tem um personagem manipulador e fofoqueiro. Num dado momento o sujeito diz: tudo o que é do humano me diz respeito. E uma fieira de gente cita Sêneca para se dizer humanista. Não se pode simplesmente culpar a tradução por essas coisas. Se quiserem encontrar um bode expiatório que seja a vontade de erudição. Porque toda vontade de erudição está eivada de ignorância e quanto mais alguém é reconhecido como sendo uma pessoa erudita, mais eivado de ignorâncias fica o seu discurso.
3. O mundo é, em sua maioria, construído assim, em cima de equívocos. Ainda que muitos não passem mesmo de equívocos, alguns deles são produtivos e interessantes. Aliás produzir equívocos férteis e interessantes é um talento misterioso. Mas não creio que se trate de sorte. Atribuir ao acaso tudo o que não damos conta de compreender é uma das mil e uma maneiras de esconder empáfia em humildade.
4. Procedimento retórico produtor de muita bobagem que, quando embalada num belo exemplar de intelectual francês, logo arruma uma manada de adeptos: dar um exemplo negativo para então desclassificar toda uma categoria. Seu verso complementar é dar um exemplo positivo e então pregar aquela categoria como potencial redentora da humanidade. E assim seguimos dando cabeçadas no escuro...
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