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Showing posts from March, 2009

Encheção de Linguística

Para ilustrar esse post sobre jogo de cena e sobre a volta de quem nunca foi embora, nada melhor que um peça ditada por Eça de Queirós sobre a vida depois da morte de Getúlio Vargas... Fonte:http://remoabc.files.wordpress.com/2008/09/cartaz-getulio.jpg Vivendo por metáforas: “jogo” político e “atuação” política A política [em qualquer lugar] é curiosa e não é por nada que a gente usa para lá e para cá o termo “jogo politico”. Explico com um exemplo: quando está na oposição, X reclama indignado do abuso das Medidas Provisórias de Y. Quando Y passa para a oposição passa a reclamar indignado das MPs de X, que, por sua vez, abusa das MPs agora que está no poder, em nome da “governabilidade”. Indignados viram pragmáticos e pragmáticos viram indignados de um dia para o outro, sem com isso perder um pingo de “convicção” em suas “atuações parlamentares” [e note como o termo “atuação” fica bem aqui]. E assim ninguém faz nada com um sistema que funciona capengo desde o Sarney – e já se vão mais

BMR - final

Conto Contos de Machado de Assis A cartomante A causa secreta Academias de Sião Missa do Galo A igreja do Diabo O caso da vara Pilades e Orestes Trio em lá menor O alienista Pai contra mãe Espelho O enfermeiro Suje-se gordo! Uns braços Um homem célebre Canção de esponsais Teoria do Medalhão De Sagarana de Guimarães Rosa O burrinho pedrês Traços biográficos de Lalino Salãthiel Duelo São Marcos Corpo Fechado Conversa de bois A hora e a vez de Augusto Matraga De Laços de Família de Clarice Lispector Amor Feliz Aniversário O crime do professor de matemática Uma galinha O búfalo A menor mulher do mundo Os laços de família De Contos Reunidos de Rubem Fonseca Passeio Noturno 1 Passeio Noturno 2 Intestino Grosso O cobrador O outro Feliz ano novo Confraria dos espadas Corações Solitários Poesia Seleções de Gregório de Mattos Seleções de Castro Alves Seleções de Cruz e Souza Seleções de Manuel Bandeira Seleções de Carlos Drummond de Andrade Seleções de João Cabral de Mello Neto Seleções de H

V

Romance Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis Macunaíma de Mário de Andrade Vidas Secas de Graciliano Ramos Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa Expedição Montaigne de Antônio Callado

IV

Não-Ficção De Sermões de Vieira Sexagésima [1655] Quarta-Feira de Cinza [1672] Santo Antônio (aos Peixes) [1654] Primeira Dominga do Advento [1650] Bom Sucesso das Armas de Portugal Contra as de Holanda [1640] Mandato [1655] Primeira Dominga da Quaresma [1653] Os Sertões de Euclides da Cunha “Manifesto Antropófago” de Oswald de Andrade Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Hollanda
III Mas essa velha idéia de Reyes me seduziu, pela maneira como ela foi apresentada e principalmente porque vivo em contato permanente com gente que não conhece NADA de literatura brasileira e não dá para sugerir, digamos, 25 livros brasileiros a alguém que já é especializado em outra coisa que demanda muito tempo e só quer se educar um pouco mais. Bom, imagine alguém te sugerindo ler uma coleção de 55 livros chineses – e olha que o tamanho da história da China – para você se educar “minimamente” sobre literatura chinesa. Como se diz na minha terra “tem base?” A idéia de uma biblioteca mínima chinesa de 55 livros “tem base”, mas, infelizmente, eu só tenho uma vida... É com esse espírito (na melhor das hipóteses) que as pessoas se sentem quando vêm me perguntar sobre literatura brasileira ou latino americana! [continua...]
fonte: http://www.yale.edu/ytravel/images/Yale%20Gate.png II Eu trabalho em um lugar obcecado com a idéia (que sempre detestei) de exercer esse cargo infame que os americanos chamam ironicamente gatekeeper, ser esse guardião das portas sagradas do panteão da literatura, que diz o que pode e o que não pode entrar. Por exemplo, acho infame essa discussão sobre se letras de MPB são poesia ou não, uma discussão que não acompanhei em detalhes [a vida é curta] mas que me pareceu marcada pelo desejo de alguns de se instituir como gatekeepers da “grande” poesia. Acho mesmo que num mundo ideal toda a lista de “melhores” de qualquer coisa devia ter o nome do autor/autores no título, como em “Melhores Contos do Século XX para Fulano de Tal”. E quando digo nomes, por favor, estou falando de pessoas físicas – nada de instituições como em, por exemplo, “Os Melhores Poemas Brasileiros para a Acadêmia de São João de Meriti”. Imagino agora gente que conhece minimamente o mundo editorial de verdade (ess

Biblioteca Mínima Representativa 1 [post em 5 partes]

Reyes no Rio de Janeiro Fonte:http://riodejaneiro.cervantes.es/FichasCultura/Imagenes/11267.JPG I Quando vivia no Rio de Janeiro como embaixador do México nos anos 30, Alfonso Reyes escrevia Monterrey, Correo literário de Alfonso Reyes , uma revista-de-um-homem-só, espécie de precursor dos blogues de hoje em dia (a idéia é de um artigo de José Emilio Pacheco sobre Monterrey). Reyes escrevia todo o conteúdo da revista, mandava imprimir na gráfica e então enviava a seus amigos e conhecidos de todos os cantos da América Latina e da Europa. Em um dos números Reyes lançou um desafio: queria que todas as literaturas nacionais da América Latina escolhessem sua “Biblioteca Mínima Representativa” – uma apresentação fundamental dessas literaturas, “la que ofreceríamos al viajero ilustre. Ella podría consultarse en todos nuestros consulados, legaciones y embajadas. Cada comisionado oficial llevaría en su maleta (…) La ofreceríamos a las bibliotecas públicas extranjeras y aun a las escuelas de los

O última a sair feche as portas, apague a luz e tranque as janelas

A gringolândia está derretendo! São mais ou menos 500.000 empregos que viram fumaça por mês desde novembro do ano passado. Isso mesmo: mais de 2 milhões de desempregados em menos de quatro meses, numa espécie de inversão macabra daquela dança de números da campanha eleitoral brasileira "criarei 100 milhões de empregos em 2 anos!" "Eu farei mais: criarei 122 milhões de empregos em um ano e meio" Ah, é? Pois eu criarei 333 milhões de empregos em 3 meses" etc. Desde que um risonho ator de segunda categoria virou presidente até o filhinho-de-papai de Yale disfarçado de cowboy sair a um par de meses, esse país inteiro viveu uma fantasia capitalista impossível: viver de consumir, apenas. Termos como "economia pós-industrial" ou "economia de serviços" não passam de eufemismos - e instrutivos exemplos de como os eufemismos podem ser perigosos - para uma economia que só cresce na medida em que o consumo do que você não precisa com o dinheiro que você

O último a sair, por favor, apague a luz e feche a porta

Depois de Che Guevaras vendendo guaraná e Mao Tsé Tungs vendendo casas populares, isso. Agora só nos falta mesmo um curso de "empreendorismo revolucionário"... Fonte: http://jaeh.files.wordpress.com/2007/10/mkt_de_guerrilha.jpg

O último a sair, por favor, apague a luz

"One of the most pathetic aspects of human history is that every civilization expresses itself most pretentiously, compounds its partial and universal values most convincingly, and claims immortality for its finite existence at the very moment when the decay which leads to death has already begun." Reinhold Neibuhr, escrito há uns 50 anos atrás

Da série: ainda existem grandes canções de amor

Fiona Apple canta feito com intensidade de uma possessa e escreve canções de amor como os blues de Muddy Waters: oscilando entre declarações de devoção e ameaças mais ou menos veladas. Para o vídeo com versão acústica clique aqui - embora esse arranjo não tem a marca registrada dela: o piano tocado por ela mesma com uma mão esquerda "pesada", marcando o ritmo. Para o video com a versão original clique aqui . Foto:http://img.photobucket.com/albums/v287/hereinmyvortex/FionaApple.jpg As Fast As You Can Fiona Apple I let the beast in too soon, I don't know how to live Without my hand on his throat; I fight him always and still Oh darling, it's so sweet, you think you know how crazy How crazy I am You say you don't spook easy, you won't go, but I know And I pray that you will Fast as you can, baby runfree yourself of me Fast as you can I may be soft in your palm but I'll soon grow Hungry for a fight, and I will not let you win My pretty mouth will frame the p

Da série: e hoje todos dizem que lutaram pela democracia

Foto:http://publica.corretorunibancoaig.com.br/arq/revista/edicoes/e48/brc.htm “Não há ditadura no Brasil. O Brasil é um país liberal, o país da alegria. Nós somos um povo livre. Nossos líderes sabem o que é melhor para nós e nos governam com espírito de tolerância e patriotismo.” Péle, respondendo a pergunta sobre a nossa ditadura militar em entrevista ao jornal La Opinión em 1972 . [Não quero com esses posts - o outro foi o do editorial tenebroso da FSP em 1971 - ficar apontando o dedo na cara dos outros. Não estou aqui dizendo que Pelé torturou ninguém nem que ganhou rios de dinheiro com obras faraônicas que ninguém podia fiscalizar. Considero essas declarações do Pelé como uma espécie de apoio desinteressado e desconheço qualquer elaboração mais profunda do seu ponto de vista - jogadores de futebol são grandes pelo que fazem dentro do campo e não tem a obrigação de ser brilhantes fora dele. Em vista da polêmica sobre o termo "ditabranda" na FSP, a minha única intenção é

Poesia minha: Prólogo

Prólogo No princípio, nada: Pés fincados no meio do barro. E veio o verbo, o sexo, o fogo, a roda, o livro, deuses, anjos e inferno e o sujeito se levantou, se vestiu fechou o portão da casa, saiu pro trabalho e nunca mais voltou. [Obs. Essa é velha e eu nem gosto mais muito dela; paciência. A gente pare esses filhos e, raquíticos ou não, eles têm que sair pelo mundo afora um dia.]

Grandes Canções de Amor

Mais uma vez esse blogue faz um esforço de provar que é possível escrever canções de amor sem cair nas convenções aborrecidas da dor de corno nem rimar "amor" com "dor", "na cama" com "me ama", "paixão" com "emoção", etc... This Tornado Loves You [clique no título se quiser ouvir a canção no youtube] Neko Case My love, I am the speed of sound I left the motherless, fatherless Their souls dangling inside out from their mouths But it's never enough I want you Carve your name across three counties Ground it in with bloody hides Their broken necks will lie in the ditch Till you stop it, stop it, stop it, stop it Stop this madness I want you I have waited with a glacier's patience Smashed every transformer with every trailer Till nothing was standing Sixty five miles wide Still you are nowhere, still you are nowhere Nowhere in sight Come out to meet me Run out to meet me Come into the light Climb the boxcars to the engine

Faço minhas as palavras dos outros

Cordel dos Excomungados I Peço à musa do improviso Que me dê inspiração, Ciência e sabedoria, Inteligência e razão, Peço que Deus que me proteja Para falar de uma igreja Que comete aberração. II Pelas fogueiras que arderam No tempo da Inquisição, Pelas mulheres queimadas Sem apelo ou compaixão, Pensava que o Vaticano Tinha mudado de plano, Abolido a excomunhão. III Mas o bispo Dom José, Um homem conservador, Tratou com impiedade A vítima de um estuprador, Massacrada e abusada, Sofrida e violentada, Sem futuro e sem amor. IV Depois que houve o estupro, A menina engravidou. Ela só tem nove anos, A Justiça autorizou Que a criança abortasse Antes que a vida brotasse Um fruto do desamor. V O aborto, já previsto Na nossa legislação, Teve o apoio declarado Do ministro Temporão, Que é médico bom e zeloso, E mostrou ser corajoso Ao enfrentar a questão. VI Além de excomungar O ministro Temporão, Dom José excomungou Da menina, sem razão, A mãe, a vó e a tia E se brincar puniria Até a quarta geraç

Fragmento de conto meu: "Meu rio"

Lembra que a gente alugou o apartamento no centro achando que assim não ia ter essa onda de cidade pequena? Belo Horizonte naquela época devia ser a maior cidade pequena do mundo – talvez ainda seja, não sei. Lembra quando a gente foi tentar alugar um apartamento na Lagoinha, perto da Rua Itapecerica? Logo os moradores e depois a rua inteira estavam ali, olhando e comentando enquanto a gente conversava com o corretor na saída do prédio. Então a gente acabou alugando aquele dois-quartos no centro, lembra? A história inventada saiu decorada na ponta da língua, cada hora um dos dois falando um pedaço, detalhes nem demais nem de menos, um sempre completando o outro: Viemos estudar. Vestibular no fim do ano. Engenharia, os dois. Cursinho intensivo. Do norte, bem para lá de Diamantina – São João. Primos . E aí então foram 40 dias trancados lá dentro daquele apartamento quase vazio, com todas as janelas fechadas cheias de jornal velho colado naquele calor horroroso. Quer dizer, trancados

Para o dia da muher: Van Dykes

Li na revista New Yorker essa semana um artigo SENSACIONAL sobre um grupo fascinante de lésbicas militantes dos anos 70. Era um grupo bem pequeno, radicalmente lésbico-feminista, que simplesmente não dirigia sequer uma palavra a qualquer homem e que viviam em comunas rurais espalhadas pelos Estados Unidos, comunidades chamadas de “womyn’s territory” [elas não queriam saber de “men” nem nome mulher] em que nem crianças do sexo masculino podiam entrar. Umas poucas dessas mulheres se encontram pelas estradas da vida e decidem criar um novo grupo chamado "Van Dykes". O nome é uma brincadeira com um sobrenome que existe [e que nome tinha o ator Dick Van Dyke…], com os carros em que elas viviam e viajavam [vans] e com “dyke” que quer dizer sapatão na gíria. Todas elas então mudam de nome, adotando o mesmo sobrenome [Van Dyke] como uma nova família e vivem viajando em uma pequena caravana de vans que vai de comuna em comuna, de festival em festival. As Van Dykes são totalmente cont

José Vasconcelos em Salvador, entre laranjas e pêssegos

Brasil, 1922. Para comemorar o centenário da independência, o governo de Epitácio Pessoa patrocina uma grande feira internacional no Rio de Janeiro. Do México vem José Vasconcelos, então ministro da cultura. A primeira parada é em Salvador: "Quise detenerme en el mercado para ver las negras con sus trajes pintorescos, para examinar los frutos del trópico, tan gratos a los sentidos; pero advertí que el funcionario no deseaba que advirtiese la existencia de los negros; el espetáculo está suprimido del turismo oficial; probablemente hasta se avergonzaba de las naranjas que, tan dulces y ardientes, se ofrecían en pirámides; pero es fruta del trópico, y la civilización es hija del Norte; tal vez hubiera deseado que su tierra jugosa produjese duraznos ácidos, para parecerse al Norte." ( La raza cósmica , 50)

Hayao Miyazaki

Para usar o recurso favorito dos preguiçosos eu posso simplesmente dizer que Hayao Miyazaki é o Walt Disney do Japão. Mas para falar a verdade, os filmes de Miyazaki são muito melhores do que os clássicos da Disney. Dono de uma imaginação visual e narrativa especial, Miyazaki surpreende várias vezes com sacadas inusitadas em cada filme que faz e nenhum de seus filmes padecem da pieguice maniqueísta dos filmes da Disney, criando histórias muito mais interessantes e intrigantes para as crianças e os adultos. Um exemplo em termos visuais: o castelo com patas, mistura fantástica de monstrengo e máquina que dá nome ao filme Howl’s Moving Castle [ver foto, trailer aqui]. Em termos visuais e também narrativos temos a sensacional sacada da história de um espírito chamado No Face [Sem Cara] [ver foto] no filme Spirited Away – é para deixar Lewis Carroll de cabelo em pé. No Face entra no Spa para espíritos do filme com a ajuda da heroína Chihiro. Uma vez lá dentro, No Face tenta agradar os outr

Mário de Andrade, 1942

"Tendo deformado toda minha obra por um antiindividualismo dirigido e voluntarioso, toda a minha obra não é mais que um hiperindividualismo implacável. É melancólico chegar assim no crepúsculo sem contar com a solidariedade de si mesmo". Como diria o amigo Carlos Drummond de Andrade: "Você é duro, José".

Recomendação: Para ler sem olhar

Esse blogue é ótimo. Diego Viana discute as coisas com uma prosa clara de quem pensa com a própria cabeça e sem apelações. E ler alguém pensando de verdade faz muito bem para a cabeça de qualquer um. Além do mais, as discussões são importantes sem ser pretensiosas. Respondi a um post recente dele assim: Eu sou professor de uma institutuição de elite americana e percebo mesmo nela esse mesmo movimento geral em direção ao que eu chamo simplesmente, talvez tacanhamente de “imbecilidade”. Para mim essa crise tem a ver com a expansão do que a gente poderia chamar de cultura corporativa a todas as esferas de atividade humana, e a educação e o conhecimento não estão imunes de forma alguma. Essa cultura corporativa prima pelo pragmatismo mais rasteiro e imediatista possível que reduz qualquer esfera humana a um simples par de fórmulas fáceis. Os resultados são trágicos: os EUA gastam mais $ que qualquer outro país do mundo e têm 38o melhor serviço de saúde [nomeie uns 30 países e vc vai ver