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Showing posts from May, 2017

Dez motivos para morar e para não morar em Babylon [segunda parte]

Parte 2 Agora os motivos para não morar em Babylon: O bananão que há 1. As bananas daqui têm gosto de papel e um cascão grosso - são um lixo. 2. As mangas aqui tem gosto de papel azedo e são também um lixo. O caso das mangas ainda é pior porque eu costumo ir ao Brasil em julho, portanto fora da estação das mangas. Então são 10 anos sem comer uma manga de verdade. 3. O assédio constante, incansável de vendedores picaretas de todos os tipos golpe no telefone, email, correio, rádio, televisão, redes sociais, outdoors, anúncios pregados no ônibus, folheto de supermercado e até na porta da sua casa. A malandragem aqui é toda feita com papel passado, e ninguém pensa duas vezes antes de se aproveitar mesmo das pessoas mais desamparadas. Parece até que eles farejam de longe aquele estrangeiro que não sabe falar inglês muito bem e não acha que não existe malandragem em Babylon. 4. A política aqui, no nível municipal e estadual, é em grande medida completamente dominada por um dos doi

Dez motivos para morar e para não morar em Babylon [em duas partes]

Observação prévia: meu ponto de vista é absolutamente particular e pessoal e não tem nada desse tal de valor científico de que tanto se fala por aí e eu não tenho nenhum conselho para dar para ninguém, nem que venham, nem que não venham, nem que fiquem, nem que se mandem. PARTE 1 Braeburn 1. Queijo cheddar "sharp", que não tem nada a ver com esse queijo prato com cor de tangerina que se vende com o nome xédar no Brasil. 2. Cogumelos fresquinhos em qualquer supermercado mixuruca da cidade por preços bem acessíveis. 3. 700 tipos diferentes de maçãs, principalmente aquelas bem doce-azedinhas e crocantes do tipo Jazz ou Braeburn. 4. Ingredientes e comida mexicana, jamaicana, porto-riquenha e cubana fartos e variados. 5. Meus filhos estudam numa escola pública onde nem eu nem ele somos "clientes", onde é proibido ter aula de religião e onde tem aula de música desde sempre. Lá eles almoçam sempre e eventualmente tomam café da manhã. 6. Meus filhos têm colegas

O melhor invisível

O Brasil continua a produzir música popular interessante. Só que ela nunca vai tocar na Grobo. Um exemplo do melhor de Belo Horizonte é a banda Graveola e o Lixo Polifônico. Tudo deles está aqui . Compartilho uma canção do primeiro disco deles de 2009.  Amaciar Dureza Graveola e o Lixo Polifônico E viveu uma semana, foi-se o ano, foi-se Ana, destinada a caminhar os seus passados lentos. Sem trabuco, sem trambique, Ana ia com seu pique, seu destino a transitar, sertão, cantiga e vento. Ela foi um desacato, um descarrego, tantos regos refletindo seus momentos, santos sentimentos. Ela não podia crer nos deuses: Madre Pedra, Padre Zé. Na lua viu jornadear lua de sonho, lua de vida. Por onde passou sentiu o seu destino amargurado, pequeno, coitado, calado, jorrado, seus mimos, seus sinos, seus anos passados. Na vida amaciar dureza. Na vida amaciar... E viveu uma semana. Era Ana, eram anos Quanta vida enclausurada nesse mundo tempo Era a cor dos seus cabelos, ta

Anti-resenha: Dora Bruder de Patrick Modiano

De repente, lendo Dora Bruder de Patrick Modiano, tenho um possível momento de iluminação. Isso acontece quando o narrador engata uma série de rápidas biografias de escritores obscuros, medianos e famosos que cruzaram antes dele os mesmos lugares que ele mesmo e a sua obsessão/protagonista Dora percorreu antes de desaparecer para sempre na fumaça do Holocausto. O narrador se lembra desses escritores que tentaram dizer qualquer coisa sobre a época em que viviam e foram esmagados e tacitamente os compara consigo mesmo, escritor obcecado por certos lugares de Paris naquele período, lugares que tinham sido passagem da jovem protagonista que dá nome ao livro. No mesmo capítulo ele recorda também uma viagem num camburão da polícia e à delegacia, viagem feita por ele mesmo em plena adolescência, [des]acompanhado pelo pai. O pai que o ignorava ostensivamente dentro do aperto do camburão, o pai que havia ele mesmo chamado a polícia para dar queixa do filho que tinha sido mandado pela mãe par

Na falta de lugar melhor

Eu diria que em torno de 40% da população brasileira [no máximo] está firmemente polarizada entre esquerda e direita num conflito cada vez mais feroz. Cada um desses dois lados conta com aproximadamente 20% do leitorado, e é bom lembrar que esses 20% são geralmente fragmentados entre posições significativamente diferentes. As pessoas de esquerda nunca, em hipótese alguma, votariam num almofadinha de coluna social e as pessoas de direita, dificilmente, votariam de novo num operário filho de retirantes. Mas os outros 60% da população poderiam votar em um e logo em seguida no outro sem passar por qualquer tipo de crise existencial. Nenhuma dessas duas minorias respeitáveis consegue eleger sozinha um candidato a cargo executivo numa cidade grande; talvez nem mesmo um senador. Cabe sempre a esses candidatos convencer uma parcela respeitável daquele 60% que poderíamos chamar por falta de nome melhor de eleitores desengajados. Não gosto desse nome porque o acho pejorativo. Mas uso o termo m