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Showing posts from March, 2010

Jeff Buckley

Essa eu tenho que agradecer ao meu querido Jovem, que introduziu o tio às maravilhas do Buckley filho e de brinde me devolveu às maravilhas do Buckley pai . O Buckley pai - presente que um outro Jeff me deu quando eu ainda morava em Belo Horizonte - é incrível, mas eu tinha meio que me esquecido dele. Nessa canção o que eu gosto entre outras coisas é a paradoxal mistura de fossa total com alegria esperançosa. A mistura é importante para mim nos dias de hoje. Lover, You Should’ve Come Over Jeff Buckley Looking out the door I see the rain fall upon the funeral mourners Parading in a wake of sad relations as their shoes fill up with water And maybe I'm too young to keep good love from going wrong But tonight you're on my mind so you never know Broken down and hungry for your love with no way to feed it Where are you tonight, child, you know how much I need it Too young to hold on and too old to just break free and run Sometimes a man gets carried away, when he feels like he shoul

Sobre a felicidade

Foto: Livia Corona é uma fotógrafa muito interessante que vale a pena conhecer. Para mim esta foto parece uma metáfora da famosa "busca da felicidade" Sobre a felicidade [da direita] li artigo de Elizabeth Kolbert na New Yorker sobre uma leva de "happiness research scholars" que andam escrevendo sobre como aplicar às políticas públicas as descobertas do campo, dominado em geral por um empirismo grosseiro. Uma conclusão: já que a desigualdade não afeta o grau de felicidade de ricos e pobres, os governos não deviam investir em reduzi-la. Sobre a popularidade de políticas de combate à desigualdade, o mesmo autor diz que suas pesquisas mostram que as pessoas não sabem o que vai fazê-las feliz de fato e que cabe aos governos escolher entre a demagogia e a ciência. O parágrafo final do artigo é preciso na sutileza de dizer o óbvio: “Let’s imagine, for a moment, that we had enjoyed ourselves for the past fifty years. Surely, trashing the planet is just as wrong if peo

Missão Impossível: desarmar patrulhas num matagal de mal-entendidos - Parte III

[foto: pollo con mole] Então – só para enfatizar, eu não quero que me prendam de jeito nenhum nesse matagal de mal-entendidos – não é questão de ser anti-crítico, nem bancar o cabotino com sinal invertido, nem tentar uma versão literária do – para mim detestável – Lulinha Paz e Amor, nem fazer uma leitura conspiratória de uma vida cultural governada por uma luta de interesses espúrios. Para mim o importante é poder discutir literatura finalmente sem patrulhamentos, sabendo que alguns têm o direito de dizer apenas o pouco ou muito que já diz a sua obra; sabendo que não há nem nunca houve uma linha evolutiva muito menos um único caminho redentor para a literatura [nem para nada]; e principalmente sabendo que, mais do que as escolhas literárias em si, é o que o escritor faz com elas que realmente interessa. Não dá para julgar a obra de ninguém pelas escolhas que supostamente a guiaram. Só para citar algumas das dicotomias mais manjadas do século passado [espero]: não é por ser nem urbano

A tragédia no geral abstrato e no particular concreto 2

[foto: escultura de entulho de Gabriel Orozco] [Vamos revezando com o "missão impossível" trechos do poema de José Emilio Pacheco sobre o terremoto no México] 5 Suelo es la tierra que sostiene, el piso que ampara, la fundación de la existencia humana. Sin él no se implantam ciudades ni puede alzarse al poder. "Los pies en la tierra" decimos para alabar la cordura, el sentido de realidad. Y de repente el suelo se echa a andar, no hay amparo: todo lo que era firme se viene abajo.

Missão Impossível: desarmar patrulhas num matagal de mal-entendidos - Parte II

Foto: Poeta Vanguardista Ted Boy Marino é agredido covardemente por defensor do soneto parnasiano. II Agora vamos tentar abrir a tal picada num matagal de mal-entendidos. Não quero que me confundam com alguém que faz um discurso anti-crítico – afinal de contas eu sou professor e pesquisador de literatura. E esclareço que trata-se muito menos ainda de construir um discurso igual com o sinal invertido, ou seja, de montar uma patrulha crítica oposta que vai combater seus inimigos em mais uma briga de bar. Haroldo e Augusto de Campos deram contribuições importantíssimas à critica brasileira, não enquanto voavam as garrafas e cadeiras do bar, mas quando não estavam preocupados demais em ser cabotinos e fizeram revisões importantes de outros autores [por mais que se possa fazer reparos a elas] e traduções importantes [os dois tinham o espírito suficientemente generoso para não se deixar afogar no cabotinismo típico do discurso das vanguardas] e escreveram boa poesia. E finalmente também

Missão Impossível: desarmar patrulhas num matagal de mal-entendidos - Parte I

Falariam no final dos anos 70 sobre a existência de patrulhas ideológicas no Brasil mas acho que ninguém nunca pensou na longa existência na cultura nacional de patrulhas estéticas. Como exemplo desse tipo de patrulha, reproduzo abaixo uma citação bem manjada de Mário Faustino em sua [interessante] coluna do Jornal do Brasil: “Carlos Drummond de Andrade só age poeticamente através dos livros que publica. Não escreve a sério sobre poesia. Não faz crítica de livros de poesia. Ao que sabemos não discute a sério poesia (...) Cala-se.” Faustino estava irritadíssimo porque Drummond não se metia nas épicas brigas de bar entre concretistas e não-concretistas e neo-concretistas sobre a redenção final da poesia brasileira rumo ao nirvana estético da vanguarda. Drummond simplesmente escrevia Claro Enigma e nele “A máquina do mundo”. Como cobrar de alguém que já está escrevendo “A máquina do mundo” qualquer outra “contribuição”, ainda mais que se manifeste sobre a morte do verso ou a relaç

Diário da Babilônia - Books-n-Parks

Finalizando os posts sobre a democratização da leitura na cidade onde eu moro, uma iniciativa feita nos muitos parques da cidade [sim, New Haven têm 200.000 habitantes e 3 parques imensos - calcule agora quantos parques imensos Belo Horizontes teria que ter]. É uma simples e pequena idéia, que eu acho muito simpática: uma dúzia de livros usados dentro de uma caixa que os protege das intempéries [e o que não falta por aqui são intempéries]. A pessoa chega no parque - perto dos playgrounds para as crianças e pode pega um deles para ler ou folhear. A escolha é sua: você pode devolver à caixa quando for embora para casa ou pode até levar o livro para terminar casa sem problema. Nesse caso, só se pede que você deixe outro livro qualquer no lugar - e já acho extraordinário o convite para um gesto de civilidade que não tem nenhum fiscalização ou ameaça de sanção. 

A tragédia no geral abstrato e no particular concreto 1

José Emilio Pacheco escreveu um poema longo, Las ruinas de México, logo depois do terremoto de setembro de 1985. Não é o melhor dele, que é talvez o melhor poeta mexicano do século XX, mas vale alguns fragmentos aqui, como uma espécie de reflexão cruzada com os terremotos deste ano. 10 Con qué facilidad en los poemas de antes hablábamos del polvo, la ceniza, el desastre y la muerte. Ahora están aquí ya no hay palabras capaces de expresar qué significan el polvo, la ceniza, el desastre y la muerte

John Wayne 2

Para provar que essa história de duas expressões faciais é uma calúnia, dou provas documentais de outras duas expressões faciais de John Wayne, que poderíamos chamar de derivadas da expressão com chapéu: De chapéu de pele de Guaximim matando mexicanos no começo dos anos 60 e de boina matando vietnamitas no final dos anos 60.

John Wayne

Li nas memórias de Érico Veríssimo que o filho Luis Fernando dizia que como ator John Wayne tinha apenas duas expressões faciais: com e sem chapéu.

Tom Molloy

Fui exposição dele no Museu Aldrich aqui perto de casa. No fim de semana passada o NYT fez uma resenha 1/2 ofendida chamando Molloy de Irlandês anti-americano. Acho que a coisa é mais complicada do que isso mas não sei se um par de fotos vai ser suficiente para provar isso. O que eu acho é que Tom Molloy conseguiu duas coisas muito difíceis: 1. ser contundente e sutil, 2. ser contundente mas não ficar ditando soluções ou dispensando sentenças de condenação ou absolvição.

Pindorama: ânimos acirrados no parnaso

Round 1: Para quem não sabe muito de poesia brasileira contemporânea pode ser um jeito interessante de se inteirar: são três blogues interessantes de poetas brasileiros que andaram trocando tapas e pontapés recentemente: no meio do furacão jaguadarte do Ricardo Aleixo e dos dois lados do tablado cantar a pele de lontra do Cláudio Daniel e Rocirda Demencock do Ricardo Domeneck. Round 2: Como costuma acontecer em Pindorama a coisa rapidamente degenera para pancadaria e como acontece em qualquer lugar do mundo que eu conheço [aqui incluo México e EUA] é uma batalha de egos meio inflados e carteiras quase vazias, mas antes que as mesas comecem voar coisas razoavelmente interessantes foram ditas nesses blogues. Round 3: Conheço o trabalho dos três e só o trabalho deles. E me abstenho de uma opinião pública aqui no meu cantinho público porque a essa altura "participar do debate" significa comprar a briga dos outros e também porque ninguém nem sabe quem eu sou nem nas rodas de s

La Jirafa - Calle 13

[tenho a maior simpatia por Porto Rico e gosto do bom humor, do nonsense e das imagens desconcertantes desse rap/reguetón que não tem aquela postura de sou machão, sou o máximo, etc] Planta tus pies como dos raices Con ese tumbao' Puede que me hechices Cuidao' Que no te pise Mamita con cautela Sacude la tela En el nombre de tu abuela Mi canelita Mi azucarita Mi linda sara Mi tormentita huracanada Mi santa clara No vo'a dejar que te pise ninguna cosa rara Vo'a prender las velas pa' que no te pase nada Aqui no hay cuchillos Ni pistolas Aqui hay Mucha,mucha Mucha'mucha Mucha cacerola Aqui hay mucho sol Muchas playas Muchas olas Aqui todo es melaza Nada de pangola Te vo'a pintar la playa Azul crayola Fuimonos Que vamonos Que fuimonos Que en yola Si no hay yola Lo seguimos de rola Pa'que Pa'que Veas como flota tu cola Cuando te vi Me dio mucha cosquilla Fue como tener A cuarenta hormigas Rascandome la barriga Tu sabes Tu sabes Tu sabes Que estas que estil

Glauco Villas-Boas morreu!

Teddy Roosevelt de cera e Teddy Roosevelt de carne e osso ou o achincalhe da história

“I don’t go so far as to think that the only good Indians are dead Indians, but I believe nine out of ten are, and I shouldn’t like to enquire too closely into the case of the tenth.” A pérola acima é de Theodore Roosevelt, aquele bonachão risonho e tímido interpretado por Robin Williams no filme Uma Noite no Museu, quando ele se apaixona pela índia Sacagawea, guia e intérprete de uma famosa expedição pelo oeste americano no começo do século XIX. Na outra foto vemos o Roosevelt que não é feito de cera, já aposentado, se divertindo em caçadas no sertão brasileiro com Rondon Pacheco. Suponho que, felizmente, na falta de um pele vermelha sobrou para esse veado campeiro…

Babilônia e Pindorama: Educação

Sinal dos tempos: o governo dos republicanos chamava seu programa de recuperação do sistema de ensino americano de "No Child Left Behind", nome simpático para um programa obcecado com medidores de eficiência, ou seja provas. Agora o governo democrata chama seu programa reformas de "Race to The Top" - o nome dispensa comentários. Não sei como alguém lá em Washington não explica ao Obama que assim ele não agrada nem aos republicanos - que não vão estar satisfeitos enquanto não voltarem ao poder, mesmo que sua propaganda raivosa termine com um maluco qualquer tentando matar esse presidente "estrangeiro" e nem aos democratas - que não precisam eleger um presidente que promova uma "corrida ao topo" que começa com um aplauso entusiasmado a demissões em massa de professores "ineficientes" em Rhode Island. Sobre educação queria reproduzir aqui um belo texto que li recentemente no blogue do Alexandre Nodari: "Ontem, dia 5 de março, acontec

Café Tacvba 1

[Melancolia...] Mediodía Jala una silla, siéntate a un lado aquí. Mira las plantas como reaniman la vista alrededor. Jala una silla, siéntate a un lado aqui donde pega el sol. Mira las plantas, como reaniman la vista alrededor. Parece mentira los pájaros vuelan hasta a mi balcón. Mira los niños juegan con globos de cualquier color. Mira la gente compra helados de cualquier sabor. Parece mentira que haya tanta vida en este lugar que felicidad. Parece mentira que entre tanta gente en esta ciudad no tenga a nadie con quien compartir la vista desde mi casa este sabado al mediodía.

Infruência

Tem gente que acha que é frescura a relutância de um escritor em falar sobre suas leituras – as respostas são geralmente evasivas ou irônicas, do tipo “leio a Bíblia e Dom Quixote uma vez por mês” ou “só leio jornal e revista de jardinagem” ou “tudo o que sei aprendi com meu tio Osvaldo”. Numa simples frase, o dramaturgo Itamar Moses [foto] acertou em cheio no alvo: “Apparently, naming your influences is just like handing people a stick to hit you with.” Que “sorte” tem os jovens escritores [ou cineastas, ou pintores ou o que seja] brasileiros, que praticamente não tem mais que lidar com a crítica no jornal – só textos promocionais de amigos do peito, resenhas desajeitadas de alunos de graduação disfarçados de estagiários de jornal ou então o mais completo silêncio. Enquanto isso, na academia, quase todos esperam pacientes pelo falecimento de um autor para então começar a “dissecá-lo” propriamente.

Recomendação

Todo o mundo que gosta de livros e de lteratura deveria visitar periodicamente o blogue de Denise Bottman, "não gosto de plágio". É um blogue muito informativo e muita vezes bastante divertido. A gaiatice dos pilantras que empurram goela abaixo de leitores incautos "traduções" de Machado de Assis e traduções "novas" de clássicos da literatura me lembra um mote que aparece em estrategicamente colocado em um samba de Cartola, uma coisa boba mas que volta e meia me vem à cabeça: É rir pra não chorar. Mais do que isso, Denise Bottman está fazendo alguma coisa concreta para melhorar as coisas no mundo editorial [e portanto literário] do Brasil.

Para comemorar "10.000" acessos

Ando meio desconfiado do contador de acessos desse blogue. Queria pedir um favor aos meus "inumeráveis leitores": será que vocês poderiam deixar um comentário do tipo "estive aqui" quando acessarem esse humilde blogue?

Maria Felix

Matando a pau em “Doña Diabla”, despachando dois amantes babões sumariamente: As minhas partes favoritas deste clipe: - ¡Con razón te llaman Doña Diabla! [Cabrum] … - ¡La vida sin ti no vale nada! - Pero la vida contigo vale menos! … E quando o cara ameaça o suicídio: - Ningun hombre se mata por una mujer. ¡Se matan por covardes!

Salvador Elizondo

El grafógrafo Escribo. Escribo que escribo. Mentalmente me veo escribir que escribo y también puedo verme ver que escribo. Me recuerdo escribiendo ya y también viéndome que escribía. Y me veo recordando que me veo escribir y me recuerdo viéndome recordar que escribía y escribo viéndome escribir que recuerdo haberme visto escribir que me veía escribir que recordaba haberme visto escribir que escribía y que escribía que escribo que escribía. También puedo imaginarme escribiendo que ya había escrito que me imaginaría escribiendo que había escrito que me imaginaba escribiendo que me veo escribir que escribo.

O começo e o fim dos anos 60

Há exatos 50 anos atrás um professor de psicologia de Harvard em férias no México experimentava pela primeira vez na vida um chá de cogumelo alucinógeno. Maravilhado, Timothy Leary começou o curso de pós-graduação sobre LSD em Harvard que acabaria dando na sua expulsão da universidade e que daria começo ao que hoje conhecemos como os anos 60 nos Estados Unidos. John Lennon leu o livro de Leary e quatro anos depois escrevia "Tomorrow Never Knows". Em 1969 Lennon comporia "Come Together" como jingle para a campanha mais descabelada para governador da Califórnia do próprio Leary [a foto acima é do lançamento da campanha]. Richard Nixon chamou Leary de "o maior perigo para o futuro dos Estados Unidos" [ao que Leary respondeu com sarcasmo característico: "avise a eles que já mandei cercar os Estados Unidos"] . Aquela eleição quem ganhou foi Ronald Reagan, justamente prometendo acabar com a baderna daqueles cabeludos doidões - e ali começou o fim dos a