Falariam no final dos anos 70 sobre a existência de patrulhas ideológicas no Brasil mas acho que ninguém nunca pensou na longa existência na cultura nacional de patrulhas estéticas. Como exemplo desse tipo de patrulha, reproduzo abaixo uma citação bem manjada de Mário Faustino em sua [interessante] coluna do Jornal do Brasil:
“Carlos Drummond de Andrade só age poeticamente através dos livros que publica. Não escreve a sério sobre poesia. Não faz crítica de livros de poesia. Ao que sabemos não discute a sério poesia (...) Cala-se.”
Faustino estava irritadíssimo porque Drummond não se metia nas épicas brigas de bar entre concretistas e não-concretistas e neo-concretistas sobre a redenção final da poesia brasileira rumo ao nirvana estético da vanguarda. Drummond simplesmente escrevia Claro Enigma e nele “A máquina do mundo”. Como cobrar de alguém que já está escrevendo “A máquina do mundo” qualquer outra “contribuição”, ainda mais que se manifeste sobre a morte do verso ou a relação com a tradição literária?
Na mesma época, gente parecida com Faustino mas atuando no campo da prosa – embora militantes de outras patrulhas com outras políticas de saneamento literário – dizia que o Grande Sertão: Veredas era um “erro” que acarretaria graves prejuízos à evolução da literatura brasileira. Acho que essa dispensa comentários.
Comments
as pessoas esperavam grandes mudanças nos anos 50, 60...
a banalidade hoje é meio maçante, mas ao menos nos poupa da ênfase revolucionária.