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Showing posts from July, 2009

Atrás da linguagem da loucura

Escrevi um conto de um par de páginas baseado em um personagem real. Minha idéia era tentar escutar e então me aproximar o máximo possível da linguagem da loucura sem ficar doido. Eis aqui o primeiro parágrafo: "Confesso que era ateu quando o tal pastor apareceu na minha casa e insistiu em conversar comigo. Desci e quando o encontrei reconheci de cara o capitão do disco voador com quem tinha tido contato treze anos antes, em novembro de 1951. Eu disse a ele logo de cara que não queria perder meu tempo com um agente estrangeiro subversivo que se disfarçava em uma forma alienígena simples só para confundir e então dominar povos mais inocentes, mas ele me garantiu que não era verdade. Então convidei-o para almoçar com a intenção de testá-lo, com o cuidado de não transparecer meu intuito. "

Diario de Tenochtitlán 3 - Lomas de Santa Fé

Uma diferença fundamental entre a Cidade do México e as outras metrópolis latino-americanas é que aqui há uma forte tradição de resistência à especulação imobiliária nos bairros mais antigos da cidade. Essa resistência vinha tanto do estado com seu aparato de políticas urbanas como da população dos bairros de classe média que protestavam e não permitiam que se construíssem arranha-céus em seus bairros. Lomas de Santa Fé era primeiro um imenso buraco - daqui se tirava areia para construir a cidade. Depois começaram a encher o buraco com lixo - aqui estava o lixão da cidade com sua conhecida população de miseráveis. Até que governo e iniciativa privada decidiram transformar Lomas de Santa Fé no bairro "moderno" da cidade, onde os prédios de escritórios podiam ser gigantescos como os da Avenida Paulista ou do Centro do Rio.

Diário de Tenochtitlán 2 - Casa Lamm

A casa Lamm é uma das muitas casas do século XIX do Bairro Roma e foi transformada em um charmoso centro cultural.

Diário de Tenochtitlán 1

Os mexicanos são conhecidos por sua polidez. Hoje cheguei e consegui essa foto com o típico aviso de não estacionar em garagem cheio de salamaleques...

Exercício feito na FLIP

[era escolher um personagem de um poema em prosa do Jorge de Lima sobre um desastre de avião. Escolhi as 3 meninas da primeira epígrafe] Nós vamos afundar Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como se dançassem ainda. Não é o ‘o quê é arte’ mas o ‘quando é arte’. Antes dos remorsos desse avião despedaçado que nunca passeou com os filhos, antes dos poetas míopes, do homem de chapéu Panamá, e dos colecionadores de nuvens, antes que o sino dobre e o mosquito amigo do rei penetre a pele velada pelo mosquiteiro furado, nós vamos afundar dançando devagar até o fundo da garrafa e lá vamos nos reencontrar transformadas em bestas de corpo fosforescente, criaturas vivendo sem luz, no fundo mais fundo, submersos no lodo, sem olhos para abrir e ver, só um par de antenas cravadas no couro velho e duro. E, no momento mais agudo, esses monstros lá de baixo vão nos mastigar devagar e, como nossas irmãs hienas, vão nos enterrar na areia e voltar para comer o resto mais tarde. Mas um corp

o mundo inteiro entre uma maiúscula e um ponto final

Enfiar o mundo inteiro entre uma maiúscula e um ponto final, mas só depois de botar aquele vagabundo pra fora de casa e consertar de novo o alarme da minha alegria e aí pronto: é o mundo inteiro contido entre a maiúscula e o ponto final, ainda que depois ninguém entenda patavinas de piripitibas e mesmo assim se ofendam os stalinistas do grande espírito das grandes letras greco-latinas ocidentais e os stalinistas defensores por procuração dos frascos e comprimidos do departamento e estejamos assim todos mal pagos e fodidos; mesmo assim há que se continuar até o fim porque, entre o universo dito e o infinito omitido, o ponto final da frase onde cabe o mundo inteiro é possível, sem truques baratos nem truques raros porque entre populismos para gente que não gosta mesmo de ler e elitismos para gente que não gosta que ninguém leia lá vamos nós nos foder outra vez, mas, sinceramente, quem nunca se fodeu pelo menos doze vezes não merece o papel e a caneta que tem, muito menos o esplendoroso f

Abril de 1954

Imagem: http://www.brasilescola.com/upload/e/big%20bang.jpg [O acesso à internet anda bem restrito e o acúmulo de tarefas terrível, mas garanto aos meus inumeráveis leitores que eu ainda não desisti desse troço aqui.] Rio, abril, 1954 "Foi assim: eu estava fazendo o livro de novelas - que iam ser 9 (número favorável, cabalisticamente) e estavam saindo enormes, algumas parecendo verdadeiros romances. Pois bem, já prontos os rascunhos das seis primeiras aconteceu que a sétima começou a revoltar-se. Os motivos requeriam espaço e mais espaço, o cartapacio crescia, crescia, por mais que eu tirasse, cortasse, comprimisse, empurrasse a coisada para dentro do saco. Fui ficando seriamente angustiado; até que, de repente, me veio a solução salvadora: mudar o escrito para um romance. Foi o que passei a fazer. A pulso, de cabeçada em cabeçada. Ei-lo, pois, que já chegou à página 219, ontem à noite. (...) A coisa está quente, os assuntos são tremendos, quase terroríficos. Não há capítulos, ne