Skip to main content

Posts

Showing posts from September, 2018

Pessimismo em tempos de #elenão

Entusiasmados ou desesperados, assisto partidários do Capitão-Pulha, Haddad, Ciro, Marina e Alckmin tentando seduções baratas, debatendo com sangre frio e clareza ou batendo boca apaixonadamente uns com os outros. A grande novidade, infelizmente, é a extrema direita, pesadelo mundial que chega ao Brasil na esteira de uma crise institucional que começa em 2013 e vai se agravando de desastre em desastre, montando um elenco grotesco de personalidades que eu mais parecem os personagens de um reality show de segunda categoria. Que a luta contra essa extrema direita seja capaz de unir ainda que circunstancialmente o resto do espectro político - quem sabe assim a gente se convença do valor da democracia mesmo quando a gente perde as eleições? Mesmo porque, ainda que derrotemos o Capitão-Pulha, sua mensagem continuará bem viva, esperando por alguém um pouco menos grosseiro que consiga disfarçar melhor a baba do ódio. Uma coisa, também infelizmente, não muda nada neste ciclo eleitoral de 2018

Cai por terra mais um paladino da família

Hoje caiu por terra completamente humilhado o homem-modelo, o famoso homem de sucesso, que se via como modelo de tudo que estava certo e era o retrato do bom senso, que um dia fez um longo discurso cheio de sarcasmo no NAACP culpando a própria comunidade afro-americana pelos seus problemas, inclusive pela violência policial: "These are people going around stealing Coca Cola. People getting shot in the back of the head over a piece of pound cake! Then we all run out and are outraged, 'The cops shouldn't have shot him' What the hell was he doing with the pound cake in his hand? (laughter and clapping). I wanted a piece of pound cake just as bad as anybody else (laughter) And I looked at it and I had no money. And something called parenting said if get caught with it you're going to embarrass your mother. Not you're going to get your butt kicked. No. You're going to embarrass your mother. You're going to embarrass your family." Verificou-se há

Entre Brasil e México: Maximiliano o primo de Pedro que quis ser imperador também

Edouard Manet tenta associar o fuzilamento de Maximiliano aos fuzilamentos denunciados por Goya quando a França de Napoleão ocupou a Espanha. O detalhe é que o invasor aqui é que é o fuzilado Ferdinand Maximiliano Josef é mais conhecido como o efêmero imperador do México que morreu fuzilado em 1867 entre protestos de várias partes do mundo. O que poucos sabem que Maximiliano esteve no Brasil visitando seu primo Pedro antes de se meter nessa aventura mal-fadada patrocinada pelos Franceses. E deixou registro escrito da viagem. Não vou reproduzir aqui nenhum trecho do terceiro volume das suas memórias, no qual Maximiliano discorre sobre a sua visita a Salvador, Rio de Janeiro e Petropólis no Brasil em 1860. Não o faço porque o mundo já tem que digerir uma dose cavalar de violência verbal, racismo e imbecilidade e há muito tempo eu me decidi não contribuir com esse estado de exaltação indignada e raivosa que grassa por aí. Só deixo aqui um simples registro: hoje entendo bem melho

Roque Mexicano dos Anos 80: Caifanes

"Parecemos nubes que se las lleva el viento cuando hay huracanes, cuando hay mal de amores. Parecemos presos y como presos pensamos escapar uno del otro y cometer la fuga... Vamos a dar una vuelta al cielo para ver lo que es eterno." "Piedra déjame piedra no me deformes más. Déjame como soy." "No dejes que nos coma el diablo amor, que se trague tu calor, que eructe mi dolor." "Para que no digas Que no pienso en ti: Ando entre seres oblicuos y ausentes, buscando la forma de hacerlos presentes." "Muchos años uno cree que el caer es levantarse y de repente ya no te paras Que el amor es temporal que todo te puede pasar y de repente estás muy sólo Afuera tú no existes, sólo adentro. Afuera no te cuido, sólo adentro Afuera te desbarata el viento sin dudarlo Afuera nadie es nada, sólo adentro"

Kafka publica seu primeiro livro

Kafka publica seu primeiro livro, Contemplação , no fim de 1912, com uma pequena tiragem de 800 cópias. A editora paga por um anúncio de página inteira no periódico alemão da indústria do livro, explicando que o escritor, já conhecido nos círculos literários por ter publicado textos em revistas como a Hyperion [onde oito dos 18 textos de Contemplação já tinham aparecido], tinha "uma tendência compulsiva de revisar seus trabalhos", e por isso só publicava seu primeiro livro naquele ano. Menos de 450 exemplares de Contemplação são vendidos nos três primeiros anos e até 1924, ano da morte do autor, a primeira edição ainda não havia esgotado. Não se cogita portanto uma segunda edição da obra naquela época. Kafka segue escrevendo mesmo assim e, no mesmo fim de 1912, ele escreve "A Metamorfose".

Milton entre letristas num momento luminoso

A música [sensacional, melodicamente e ritmicamente tão ousada] é de Milton Nascimento, mas a letra é dividida entre os dois parceiros mais importantes dele: Márcio Borges [que predomina na primeira parte da carreira nos anos 70] e Fernando Brant [que predomina na segunda, nos anos 80]. Ainda que eu prefira muito mais o Milton Nascimento dos anos 70, Fernando Brant era um excelente letrista, tão bom quanto Márcio Borges. São letristas excelentes e diferentes: as letras de Márcio Borges são mais ácidas, tem mais arestas e momentos de surrealismo, enquanto as de Fernando são bem mais claras, luminosas, alcançando num equilíbrio difícil entre a circunspecção e a sinceridade.  Suponho, sem saber ao certo, que Fernando Brant começa e que Márcio Borges assume a partir de "Alertem todos os alarmas". Aqui a letra: O que foi feito, amigo, De tudo que a gente sonhou? O que foi feito da vida? O que foi feito do amor? Quisera encontrar aquele verso menino que escrevi há tant

Só o pessimismo inconformado nos une

Pessimismo inconformado [mas progressista] de Manuel Bomfim em 1905: Ninguém se deteve a examinar o caso e procurar os meios eficazes de se fazer a transformação na produção. Não viam, sequer, que o trabalho livre deve ser inteligente e aperfeiçoado, e que era mister, antes de mais nada, educar o trabalhador, instruí-lo, levar o produtor a melhorar os seus processos, meio único de compensar a barateza do trabalho escravo que se perdia. Disto não se cogitou. Decretou-se a libertação, e foram-se todos, considerando a reforma como acabada; e se alguém ainda se ocupou do caso – foi para pedir ou propor que se importassem braços baratos, que pudessem substituir os antigos escravos, nada se alterando nos costumes e nos processos: chineses ou italianos, que viessem ocupar as antigas senzalas – um salário baixo, equivalente à alimentação e ao juro do preço do negro... tudo mais como dantes. Quanto a essa população das classes inferiores, antigos escravos, nacionais proletários –

Traduzindo "A fórmula secreta" de Juan Rulfo

O incêndio do Museu Nacional no Rio de Janeiro já seria suficientemente triste. Quando penso que recentemente cogitei fazer concurso e tentar voltar para o Brasil, me arrepio. No momento atual me sentiria como um judeu voltando à Alemanha antes da Noite dos Cristais. As perspectivas por aqui estão muito longe de excelentes, mas é inegável que no Brasil entramos num novo ciclo de auto-destruição, ainda mais intenso que os anteriores. Sua intensidade, com direito à expulsão de refugiados venezuelanos em Roraima, não parece ter criado qualquer senso de urgência em ninguém. Este ciclo, como aquele longo inverno que começou num 1o de abril de 1964, está sendo calmamente recebido por imprensa e judiciário, e visto por alguns como chance de "redenção" de um país perdido. A mesma dupla que apoiou 1964 e depois lavou as mãos como se não tivesse nada a ver com aquilo, hoje nos assegura que as nossas prezadas instituições republicanas continuam funcionando em perfeito estado. O incêndi

Castro Alves fala sobre a separação de Eugenia Camara

Amália Rodrigues e Paulo Maurício como Eugénia Camara e Castro Alves no filme Vendaval Maravilhoso de 1949 Trecho muito interessante da última entrevista de Castro Alves, de 1871 [a entrevista completa pode ser encontrada aqui ou  aqui ], quando ele fala sobre o fim do seu relacionamento com a atriz Eugénia Camara: "... lá [em São Paulo] o nosso amor chegou ao fim. O meu objetivo era terminar os estudos na Faculdade do Largo de São Francisco e o de D. Eugênia retornar aos palcos. No início retomamos a vida intelectual e boêmia, freqüentando saraus e salões, sempre com muito sucesso. Porém, rapidamente, o nosso relacionamento se deteriorou. Eram cada vez mais constantes as nossas desavenças. Cenas violentas, ciúmes, brigas, precárias reconciliações. Sopravam-me histórias de adultério. No entanto, sei que ela me amou, como sei que, talvez, meu amor tenha sido insuficiente para sua paixão. Não a recrimino. Em determinado momento, largou a carreira para me seguir. D