Skip to main content

Pessimismo em tempos de #elenão

Entusiasmados ou desesperados, assisto partidários do Capitão-Pulha, Haddad, Ciro, Marina e Alckmin tentando seduções baratas, debatendo com sangre frio e clareza ou batendo boca apaixonadamente uns com os outros. A grande novidade, infelizmente, é a extrema direita, pesadelo mundial que chega ao Brasil na esteira de uma crise institucional que começa em 2013 e vai se agravando de desastre em desastre, montando um elenco grotesco de personalidades que eu mais parecem os personagens de um reality show de segunda categoria. Que a luta contra essa extrema direita seja capaz de unir ainda que circunstancialmente o resto do espectro político - quem sabe assim a gente se convença do valor da democracia mesmo quando a gente perde as eleições? Mesmo porque, ainda que derrotemos o Capitão-Pulha, sua mensagem continuará bem viva, esperando por alguém um pouco menos grosseiro que consiga disfarçar melhor a baba do ódio.

Uma coisa, também infelizmente, não muda nada neste ciclo eleitoral de 2018: o Brasil continua se esfalfando em debates e bate-bocas entre candidatos presidenciais variados [suponho que haja um candidato para todos os gostos possíveis] e ao mesmo elegendo um congresso e um senado de péssima qualidade, onde uma minoria de parlamentares valorosos lutam quixotescamente com uma multidão de velhas figuras manjadas, de filhos de raposas velhas decrépitas e de novos farsantes capitalizando em cima de fama no futebol ou na televisão. Digamos que o #elenão poderia muito bem ser complementado por um imenso #elesnão, uma longa lista de figurinhas desqualificadas que variam do grotesco ao deprimente/previsível, muitos deles a caminho de um mandato de 4 ou 8 anos.

Ficamos então na mesma: num sistema republicano democrático onde uma boa parte do poder está com o congresso, sonhamos em tudo resolver com a eleição de algum Buda de presidente com Cristo de vice um ministério de Krishnas e Maomés. Parece que confrontados com essa questão, muitos de nós sonham com soluções autoritárias, nas quais as pessoas elegem um santo-presidente que vai enquadrar na porrada os porcos-deputados e cachorros-senadores que elas mesmas também elegeram.

Comments

Daniel said…
Eu ainda tenho esperança de que o coiso ruim não seja eleito. O que me deixa desesperançoso é que o estrago já está feito: tem uma parcela significativa da população que acredita (e defende abertamente) que a solução para problemas sociais complexos é a violência e o silenciamento das visões diferentes
Pois é, Daniel, sob esse aspecto acho que "ele" venceu, né? Hoje tenho a impressão que falar numa sala de aula em golpe de 64 e ditadura militar voltou a ser algo polêmico. E nosso congresso continua a mesma porcaria. E a culpa é nossa, como país.

Popular posts from this blog

Diário do Império - Antenado com a minha casa [BH]

Acompanho a vida no Brasil antes de tudo pela internet, um "lugar" estranho em que a [para mim tenebrosa] classe m é dia brasileira reina soberana, quase absoluta, com seus complexos, suas mediocridades e sua agressividade... Um conhecido, daqueles que ao inv és de ter um blogue que a gente visita quando quer, prefere um papel mais ativo, mandando suas "id éias" para os outros por e-mail, me enviou o texto abaixo, que eu vou comentar o mais sucintamente possível: resolvi a partir de amanh ã fazer um esforço e tentar, al ém do blogue, onde expresso minhas "id éias" passivamente, tentar me comunicar diretamente com as pessoas por carta... OS ALUNOS DE UNIVERSIDADES PARTICULARES DERAM UMA RESPOSTA; E A BRIGA CONTINUOU ... 1 - PROVOCAÇÃO INICIAL Estudar na PUC:............... R$ 1.200,00 Estudar no PITÁGORAS:..........R$ 1.000,00 Estudar na NEWTON:.....R$ 900,00 Estudar na FUMEC:............ R$600,00 Estudar na UNI-BH:........... R$ 550,00 Estudar na

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p

Protestantes e evangélicos no Brasil

1.      O crescimento dos protestantes no Brasil é realmente impressionante, saindo de uma pequena minoria para quase um quarto da população em 30 anos: 1980: 6,6% 1991: 9% 2000: 15,4%, 26,2 milhões 2010: 22,2%, 42,3 milhões   Há mais evangélicos no Brasil do que nos Estados Unidos: são 22,37 milhões da população e mais ou menos a metade desses pertencem à mesma igreja.  Você sabe qual é? 2.      Costuma-se, por ignorância ou má vontade, a dar um destaque exagerado a Igreja Universal do Reino de Deus e ao seu líder, Edir Macedo. A IURD nunca representou mais que 15% dos evangélicos e menos de 10% dos protestantes como um todo. Além disso, a IURD diminuiu seu número de fiéis   nos últimos 10 anos de acordo com o censo do IBGE, ao contrário de outras denominações, que já eram bem maiores. 3.      Os jornalistas dos jornalões, acostumados com a rígida hierarquia institucional católica não conseguem [ou não tentam] entender muito o sistema