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Showing posts from July, 2013

Pindorana: Movimentos

Texto interessante de Angelo Segrillo foi publicado no blogue do Prosa e Verso do jornal O Globo sobre concursos para professor no Brasil. Logo no começo um trecho com o qual eu não posso concordar de jeito nenhum: “ Nós, os professores universitários, os intelectuais, somos uma espécie de ‘grilo falante’ da sociedade, a consciência que pensa criticamente e aponta erros e caminhos.” Aí tem tanta coisa errada que sinceramente não tenho ânimo de comentar muito. Só observo duas coisas: há uma diferença enorme entre pensar criticamente e se enxergar como a consciência moral de uma sociedade. O dever do sujeito devia ser olhar criticamente para si mesmo antes de qualquer coisa, sem ficar apontando o dedo para a “sociedade” como se ela fosse um monolito do qual ele ou ela não faz parte. Sempre descamba para um elitismo terrível essa imagem da sociedade como um corpo provido de consciência, sistema nervoso central, músculos, etc.   Nós somos parte da socied

Poesia Minha: A Fernando Vallejo

Foto Minha: Detalhe de Grafite no Valongo A FERNANDO VALLEJO ah, mísero presente sem futuro sucessão de horas e dias vãos vazios de intenção e cheios de mortos és a luz que é desordem e eu sou a escuridão suspensa estática sou, mas já não tenho nome sou nada, nada, nada, nada, nada não tenho teu grande e metálico estômago não sei digerir o veneno remédio que me ofereces com essa cara dura só posso alimentar comigo mesmo, com meus desejos de largar e meus ardores de se ter, a chama viva dessa língua podre   que é um rio que ninguém contém, fugaz, desprezível, mutante passageiro, traiçoeiro como o Riberão Arrudas de menino: fiapo imundo de água morta que nas chuvas de verão de repente inchava e engolia a cidade inteira com a fúria-felicidade infantil que é porque não se sabe só essa coisa macabra e bêbada furiosa perra negra sem cabeça que sai da boca desdentada e vil dessa matilha de terno e gravata feito sabão em

Poesia minha: Sonetos de ninar para viúvas do alto-modernismo

I O modo e a medida modestos             emolduram essa voz que modula             em sintaxe fria e moderada             e espasmódicas prestações mensais             o modelo do seu terno poético: a moderação e o comedimento             até no amor incondicional             ao molde que acomoda, gentil, o mesurado poema mínimo             múltiplo comum, conformado,             acomodatício, acomodométrico,             amodernada moda de vitrola             que embala o sono dos artífices. II Que bela moldura,             que modernosa fatura,             que atmosfera lunar             tem seu novo poema modelar! Esse cômodo jogo de armar,             modulado com engenho e arte,             mediana formosura,             é modelo-vivo de arte pura em seu alcance universal             de vera pedra filosofal             que alcança num par de segundos das areias tórridas do Leblon             aos cumes g

Profetas: esperando pelo nosso Berlusconi?

"... todos esses partidos eliminaram a única possibilidade de a esquerda estar realmente à esquerda, ou seja, de integrar novos movimentos de luta. Eles se recusaram a levar em conta essa novidade social e política, preferiram fechar-se em si mesmos, em torno de uma classe dirigente rígida e incapaz de pensar." Antonio Negri não-falando do Brasil de hoje em De volta , 129.

Postais: a rua

Foto Minha: Muro "A rua para mim era um alimento também que contrapunha toda a coisa mais abstrata eu tinha uma tendência muito perigosa a me encerrar muito nas ideias" Hélio Oiticia, Encontros , 214

Destruição Criativa: Criando o inferno onde lá não havia

Fábrica da Packard hoje Detroit em 1950: 7 milhões de habitantes. Detroit no século XXI: 2 milhões de habitantes.

Postais do Inferno - Oiticica, 1970

Monstro dos Sete Pecados Capitais "Lembro que quando a bateria da Mangueira  começava a tocar  era como se me fosse dada  a ordem para começar a viver." Hélio Oiticica, 1970 [ Encontros , 90] [...] "Achei as pessoas muito loucas.  Tudo muito ruim  e elas festejando sem parar.  Não sei porque tanto festejo." Hélio Oiticica, 1970 [ Encontros , 91]

Música: Lunes

--> Lunes - Omar Rodríguez / Ximena Sariñana             Descuenca la verdad En fría soledad Pedazos de papel Árbol quemándose Mientes corazón Poco hacia la razón Donde estará la luz Falta de gravedad Pasos para tras No hay que molestar Un mundo de miel Entre páginas Fin de la época Que insiste Este es el lugar Despliegues durarán Hasta recuperar Todo lo que perdí No hubo que valorar Mi sueño es temporal Fin de la época Quisiste descifrar Este es el lugar Pasos para tras No hay que molestar Un mundo de miel Entre páginas

Poesia Involuntária?

Tem certas frases que eu já ouvi, que parecem causar escárnio ou até desespero em outras pessoas, mas que em mim causaram aquele comichão involuntário que muita gente identifica com o reconhecimento da poesia. Alguns exemplos: “O trânsito dessa cidade hoje tá um cálcio!” “E o tranpote púbico que parece que empiora cada vez mais?” “Esse tipo de Rinoceronte é muito debatido lá na África. Já está quase instinto.” “Isso é um problema de baixa-estima dela.” “Este tipo de estrumento é muito difícil de aprender tocar.” “Ele ficou rico, mas não é desumilde.” “Comi tanto que agora estou me sentindo engarrafado.” “Desde quando que ele usa bárbara na cara?” “Esse cara é um débito mental!” “Meu filho está fazendo o curso de compotação na universidade.” “Perdeu a família e acho que ficou esquilofrênico, o coitado.” Que a poesia não precisa nem de livros, muito menos de prêmios ou concursos, isso eu já sabia. Será que ela não prec

Poesia: Ozymandias

Foto minha: Museu e Jardim de esculturas deCordova Ozymandias Percy Bysshe Shelley I met a traveller from an antique land Who said: "Two vast and trunkless legs of stone Stand in the desert. Near them on the sand, Half sunk, a shattered visage lies, whose frown And wrinkled lip and sneer of cold command Tell that its sculptor well those passions read Which yet survive, stamped on these lifeless things, The hand that mocked them and the heart that fed. And on the pedestal these words appear: `My name is Ozymandias, King of Kings: Look on my works, ye mighty, and despair!' Nothing beside remains. Round the decay Of that colossal wreck, boundless and bare, The lone and level sands stretch far away".

Sobre médicos cubanos

Sou a favor de incentivar a imigração de qualquer tipo de profissional qualificado para o Brasil, mas tenho alguns comentários/perguntas inocentes: 1. As pessoas falam sobre médicos cubanos de uma forma que me incomoda, como se eles fossem um carregamento de charutos, esperando dentro de um depósito em Havana pelo sinal verde do governo brasileiro para serem "descarregados" e "distribuídos" pelo Brasil afora. Nos meus primeiros anos nos EUA eu tinha um visto que só me permitia trabalhar no empregador que tinha me trazido, mas depois consegui uma permissão mais ampla de trabalho. Vão dar pros médicos um visto que os obriga a trabalhar num determinado lugar e só?! 2. Há alguns anos dei aulas de inglês a um médico em começo de carreira. Ao contrário do estereótipo era um sujeito batalhador, primeiro médico numa família de classe média baixa. Ele me disse na época que trabalhava na UTI porque na UTI não faltava nada; que ele tinha ficado muito deprimido depois de trab

Poesia: Claudio Manoel da Costa

Foto Minha: Arredores de Belo Horizonte Destes penhascos fez a natureza O berço em que nasci: oh! quem cuidara Que entre penhas tão duras se criara Uma alma terna, um peito sem dureza! Amor, que vence os tigres, por empresa Tomou logo render-me; ele declara Contra meu coração guerra tão rara Que não me foi bastante a fortaleza. Por mais que eu mesmo conhecesse o dano A que dava ocasião minha brandura, Nunca pude fugir ao cego engano; Vós que ostentais a condição mais dura, Temei, penhas, temei: que Amor tirano Onde há mais resistência mais se apura. (Cláudio Manuel da Costa)

Postais do Inferno: Tudo o que há no mundo poderá ser o meu material

Foto Minha: Nu Frontal "Tudo o que há no mundo poderá ser o meu material."  Hélio Oiticica, 1966

Poesia Minha: Saudades

Imagem do Ribeirão da Serra perto da minha casa em Belo Horizonte, antes de ser engolido pelo Asfalto. Fonte: Grupo Projeto Mangabeiras --> Saudades da Aldeia desde New Haven Todas as cartas de amor são Ridículas.             Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem pronde vai e donde vem ele, o ribeirão da minha aldeia, 
    que pertence a menos gente  
    mas nem por isso é menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
    está sepultado debaixo do asfalto para não ferir os olhos e o direito de ir e vir nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia. Mas não adianta demolir e sepultar as quatro favelas da minha aldeia: os fantasmas me apontam tudo o que já não está. A família de Dona Ana onde assenta o sopé da margem esque

O Gigante e o Coxinha/Vândalo

Extra! Extra! Dizem que o tal Gigante que dizem que acordou é composto, entre outras coisas, de seres sociais conhecidos como “Coxinhas” e “Vândalos”. Pois bem, parece que os Coxinhas e os Vândalos são na verdade a mesma pessoa! Um certo jornal de São Paulo cujo nome começa com a letra F disse no sábado que a polícia prendeu um sujeito em São Paulo que tinha roubado 41 anéis de uma joalheria depredada durante os protestos de 18 de junho naquela progressista cidade encalacrada com carros e rios fedorentos por todos os lados. O tal sujeito cujo nome não interessa, que pediu a um amigo “comerciante” que guardasse para ele os 41 anéis, é um economista formado que saiu para protestar contra a PEC37 [“Ou seria a 36? 38? Como é que se chamava mesmo aquele lei do mal que “apoiava” a corrupção?”].   Em sua defesa o vetusto companheiro de profissão de Zélia Cardoso de Melo e tantos outros meliantes de terno e até gravata [além é claro de gente honesta e trabalhadora etc

Postais do Inferno: O Gigante das Galinhas e Baratas

"O sol morto" do códice Borgia desenhado por Covarrubias "No meio das galinhas, as baratas não têm razão." Frase do escravo nascido no Brasil José no dia 18 de dezembro de 1851, ao perceber que não poderia contar a sua versão do assassinato do seu senhor, José Augusto Cisneros em novembro daquele ano. José foi enforcado no dia 13 de janeiro de 1852. E que se faça notar a velocidade estonteante da justiça brasileira quando se trata de julgar escravos e seus descendentes até hoje.