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Showing posts from July, 2010

Benjamin em linguagem de dia de semana

[imagem deste blogue interessante sobre literatura, livros, leitura etc: detalhe da biblioteca Sterling de Yale - tem que clicar na foto para ver ela inteira, embore eu goste desses fragmentos acidentais] "Os escritores escrevem não porque não têm dinheiro, mas porque, no fim das contas, estão insatisfeitos com os livros que eles compraram mas não gostaram." Tradução desabusadamente livre de "Colocando minha biblioteca nas estantes - uma conversa sobre colecionar livros" de Walter Benjamin

Diário da Babilônia - Contraterrorismo Made in USA

Deu on Washington Post: 1.271 agências governamentais e 1.931 empresas privadas em 10.000 endereços nos Estados Unidos, empregando 854.000 pessoas, quase um terço em empresas privadas, todos trabalhando na indústria da segurança nacional. Um exército monumental que produz mais ou menos 50.000 relatórios por ano - só o National Security Agency intercepta, por ano, 2 bilhões de emails, chamadas telefônicas e outros tipos de comunicações. Não sei quem está rindo mais, o Bin Laden nas cavernas de Bora Bora ou os capitães dessa indústria lucrativa. Eu não estou achando a menor graça, mesmo porque não custa lembrar que esses lucros são conseguidos em cima do dinheiro do contribuinte americano.

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4 Mas deixemos um pouco a Babilônia e voltemos os olhos para a minha saudosa Pindorama, onde os entusiastas do “eficiente” sistema educacional americano, que gostariam tanto de vê-lo aplicado a ferro e fogo no Brasil, guardam por enquanto silêncio sepulcral sobre o assunto… Agora que o circo sem pão acabou em paella, que tal a gente saber o que propõem os candidatos a presidente nessa área e o que pensam dessas questões especificamente? Espero que essa campanha política não seja outro circo marqueteiro, outro concurso de simpatia pessoal com toques de telenovela. Nem penteado, nem aliado, nem vice, nem família mais fotogênica: meu voto vai se definir, em grande medida, por aí. E o seu?

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A crise de que estou falando aqui não diz respeito ao sistema de research universities [universidades que mais do que formar profissionais faz pesquisa, gera conhecimento]. Mesmo no terreno da formação de profissionais, estou falando de um sistema relativamente novo nos Estados Unidos, porque que essa participação mais ativa desse tipo de instituição privada com fins lucrativos é recente: eles mais que dobraram o seu número de matrículas de 1998 a 2008. O sistema educacional que levantou e consolidou a liderança americana em pesquisa e assim a hegemonia americana era bem diferente, tendo baseado a sua expansão fenomenal no período após a Segunda Guerra Mundial em sistemas estaduais públicos - não necessariamente gratuitos. Mas crescimento dessas instituições privadas caça-níqueis [que buscam auferir lucros com as mensalidades menos os custos da infraestrutura, dos funcionários e do professorado] não deve ser dissociado da crise desses sistemas públicos, simbolizada pelo colapso eminen

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As instituições privadas de ensino superior com fins lucrativos conseguem seus “clientes” através do sistema de ajuda financeira do governo, mas preparam profissionais que, especialmente numa economia em crise, não conseguem emprego depois que se formam e assim não conseguem pagar pelos empréstimos. O problema se agrava quando levamos em consideração que o desemprego entre jovens entre 16 e 24 anos de idade chega a 18.1% (dados de maio), quase o dobro da taxa nacional de 9.7 %. Quem não consegue pagar esse tipo de empréstimo [que só começa a ser cobrado após a formatura] sofre: torna-se inelegível para qualquer tipo de ajuda federal e pode ver, por exemplo, sua restituição do imposto de renda virar pó, além de ter péssimos “credit records” que dificultam a vida nos Estados Unidos aumentando os juros cobrados em qualquer compra ou mesmo impossibilitando empréstimos e o uso do cartão de crédito. Estamos falando de um buraco de 50.8 bilhões de dólares em empréstimos não pagos só em 2009,

Diário da Babilônia - Um sistema em crise, Parte 1

O sistema universitário americano passa por uma séria crise num dos seus aspectos mais importantes: o financiamento aos alunos que pagam por sua educação superior. The Chronicle of Higher Education [http://chronicle.com/article/Many-More-Students-Are/66223/?sid=at&utm_source=at&utm_medium=en] publicou dados (até então guardados a sete chaves) que mostram que um em cada cinco empréstimos educacionais (patrocinados pelo governo federal) que começaram a ser pagos em 1995 estão em moratória. Esses números são mais altos nos “community colleges”, instituições municipais que geralmente oferecem cursos profissionalizantes de dois anos, mas chegam a preocupantes 40% na fatia mais chulé do mercado, as instituições for-profit [privadas com fins lucrativos]. 43% dos alunos dessas instituições privadas com fins lucrativos são de minorias, 75% trabalha e estuda ao mesmo tempo e 88% pede empréstimos para pagar a faculdade (nos “community colleges” só 10% dos alunos toma empréstimos desse

Poesia outra: Jaime Torres Bodet

Civilización Jaime Torres Bodet Un hombre muere en mí siempre que un hombre muere en cualquier lugar, asesinado por el miedo y la prisa de otros hombres. Un hombre como yo; durante meses en las entrañas de una madre oculto; nacido, como yo, entre esperanzas y entre lágrimas, y -como yo- feliz de haber sufrido, triste de haber gozado, Hecho de sangre y sal y tiempo y sueño. Un hombre que anheló ser más que un hombre y que, de pronto, un día comprendió el valor que tendría la existencia si todos cuantos viven fuesen, en realidad, hombres enhiestos, capaces de legar sin amargura lo que todos dejamos a los próximos hombres: El amor, las mujeres, los crepúsculos, la luna, el mar, el sol, las sementeras, frío de la piña rebanada sobre el plato de la ca de un otoño, el alba de unos ojos, el litoral de una sonrisa y, en todo lo que viene y lo que pasa, el ansia de encontrar la dimensión de una verdad completa. Un hombre mue

Recordar é viver: a república sindicalista

[foto: capa do JB sobre a Marcha da Família com Deus pela Liberdade que inspirou Lacerda a dizer: "São Paulo começou a salvar o Brasil". Note que, de acordo com as manchetes, o governo pressiona o congresso e ameaça o regime democrático, defendido pelos que denunciavam as tendências totalitárias do governo de Jango e pediam os tanques "democráticos" nas ruas. Como resultado, fomos governados 20 anos pelos militares.] Em 1955 Carlos Lacerda divulgou no Tribuna de Imprensa carta atribuída a um deputado argentino peronista ao então ministro do Trabalho João Goulart com referências ao contrabando de armas entre os dois países e à organização de uma república sindicalista no Brasil. O episódio ficou conhecido como Carta Brandi, mais uma da longa tradição de cartas, dossiês e documentos falsos que movimentam de tempos em tempos a política brasileira. Ainda que a assinatura da tal carta fosse comprovada como sendo falsa e a carta como forjada, o termo “república sindical

Coruja 2 - Agora em Ouro Preto

Quando você acha que já viu de tudo nessa vida...

Sobre o ódio como um esporte nacional

"The pleasure of hating, like a poisonous mineral, eats into the heart of religion, and turns it to rankling spleen and bigotry; it makes patriotism an excuse for carrying fire, pestilence, and famine into other lands: it leaves to virtue nothing but the spirit of censoriousness, and a narrow, jealous, inquisitorial watchfulness over the actions and motives of others." William Hazlitt, "On the Pleasure of Hating", 1826 Traduzindo nas coxas: "O prazer do ódio, como um mineral venenoso, carcome o coração da religião e a transforma em rancor e nacionalismo agressivo; faz do patriotismo uma desculpa para levar fogo, pestilência e fome a outras terras; deixa da virtude nada além do espírito de censura e uma vigilância estreita, ciumenta e inquisitorial com as ações e os motivos dos outros." Essa citação é o que me vem à cabeça cada vez que os meios de comunicação de qualquer lugar escolhem um Judas [técnico burro, goleiro assassino, zagueiro trapalhão, meio-ca

Esqueletos

Acho que já falei sobre como essa parte dos Estados Unidos é um cemitério de fábricas. O nordeste dos Estados Unidos era um centro industrial imenso, uma espécie de China do final do século XIX até a primeira metade do século XX. Hoje não se faz aqui mais nem um alfinete - mentira, porque algumas fábricas ainda sobrevivem teimosamente. Alguns desses esqueletos que apodrecem a olhos vistos são recuperados e transformados em escritórios ou, no caso das fotos aqui, estúdio. Esse é o estúdio a que está associada minha cara-metade. Um pedaço da exposição que ela fez lá está na foto da direita.

Glenn Close ou Glenn Ford?

No português tudo tem gênero, d A moscA a O pecadO . Assim, também acontece com os nomes: Maria e Mário, Paulo e Paula, etc. No inglês a ausência dessas marcas gera um fenômeno curioso para o falante de uma língua como o português: os nomes ambisexuais, que podem ser tanto para homens como para mulheres. Eles são muito populares e as estatísticas mostram uma dança curiosa em que eles, ora são predominantemente masculinos, ora femininos, ora ficam repartidos igualmente entre os dois gêneros. Eis alguns dos mais populares: Kim, Jessie, Courtney, Lindsay, Whitney, Glenn, Drew, Cameron, Daryl, Aiden, Lane, Peyton, Jenson, Tracy, Alex, Auden, Avery, Bailey, Elliot, Evan, Finley, Harper, Hayden, Justice, Luca, Mason, Noah, Riley, Rowan, Skyler

Encanamento e Arte: Chinua Abebe

Sendo um artista e intelectual africano que por força das circunstâncias passou anos ensinando em universidades do Primeiro Mundo por muito tempo, o nigeriano Chinua Achebe escreveu com propriedade e uma justificada fúria contra o desprezo e condescendência com que sua cultura era tratada por gente que basicamente era completamente ignorante à respeito dela mas mesmo assim tinha certeza de sua inferioridade. Num ensaio ele resume em uma frase o absurdo desse comportamento parodiando o raciocínio a ele subjacente: “Show me a people’s plumbing, you say, and I can tell you their art.” Essa é uma lição não apenas para os centros da cultura ocidental, mas também para os outros centros, aqueles que poderíamos chamar de centros da periferia. Porque às vezes um brasileiro reclama do desprezo ou condescendência de um francês mas demonstra um desprezo e condescendência igualmente absurdos por um boliviano. Ou um belohorizontino reclama do desprezo e condescendência de um paulista para depois rep