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Recordar é viver: a república sindicalista

[foto: capa do JB sobre a Marcha da Família com Deus pela Liberdade que inspirou Lacerda a dizer: "São Paulo começou a salvar o Brasil". Note que, de acordo com as manchetes, o governo pressiona o congresso e ameaça o regime democrático, defendido pelos que denunciavam as tendências totalitárias do governo de Jango e pediam os tanques "democráticos" nas ruas. Como resultado, fomos governados 20 anos pelos militares.]


Em 1955 Carlos Lacerda divulgou no Tribuna de Imprensa carta atribuída a um deputado argentino peronista ao então ministro do Trabalho João Goulart com referências ao contrabando de armas entre os dois países e à organização de uma república sindicalista no Brasil. O episódio ficou conhecido como Carta Brandi, mais uma da longa tradição de cartas, dossiês e documentos falsos que movimentam de tempos em tempos a política brasileira. Ainda que a assinatura da tal carta fosse comprovada como sendo falsa e a carta como forjada, o termo “república sindicalista” ficou e passou a fazer parte dos discursos exaltados da UDN, que finalmente conseguiu o que queria, uma intervenção militar para corrigir os resultados das urnas, em 1964.
Esse refrão sinistro apareceu de novo num dos últimos discursos furibundos de ACM no senado e agora na campanha eleitoral. A persistência desse tipo de retórica no discurso político – outro lacerdismo ressuscitado não faz muito tempo foi o tal “mar de lama” – num ano em que concorrem à presidência da república três candidatos que nada têm a ver com o regime militar me parece, na menos pior das hipóteses, uma escolha infeliz.

Comments

Luis Heitor said…
Sorte a sua que não precisa votar aqui no Brasil ! Por sinal se estiver aqui e tiver um tempo para uma cerveja, dê notícias : luisheitor@privatecar.com.br .
Abraços.
Luis, agora vc tocou no meu ponto fraco! Vc não imagina a vontade que eu tenho de estar por aí agora. Mas acho que essa cerveja vai ter que esperar até o ano que vem. Todos os anos a gente passa o inverno aí de fins de junho a fins de agosto, mas esse ano compramos uma casa aqui e tivemos que fazer reformas e com isso o dinheiro das passagens para o Brasil se foi. É a primeira vez que faço isso desde 2001, qdo ainda fazia mestrado na Califórnia (e voltei pro Brasil em 2002 de qualquer jeito). Dá vontade de ir no verão, mas aí as férias aqui são bem mais curtas e deixa de ser uma temporada para ser uma visitinha.
E qto as eleições, meu voto é opcional - posso ir à Nova York e votar - e até gostaria de votar, mas está difícil, né?

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