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Showing posts from January, 2012

East Haven, Cracolândia, Pinheirinho, show da Rita Lee

Quatro policiais em East Haven [cidade vizinha a New Haven] foram presos pelo FBI semana passada. O motivo era a violência e intimidação gratuita desses policiais contra os latinos da cidade e as tentativas de calar os que protestaram contra essas atitudes. Disse o diretor responsável pela operação : “The four police officers charged today allegedly formed a cancerous cadre that routinely deprived East Haven residents of their civil rights. The public should not need protection from those sworn to protect and serve. In simple terms, these defendants behaved like bullies with badges.” Até quando os policiais brasileiros vão ser aplaudidos por fazerem exatamente isso? Vou traduzir o miolo da declaração: “o público não deve precisar de proteção contra aqueles que juraram protegê-lo e servi-lo.” Eis o vídeo do momento no show da Rita Lee em que ela “desacata” os policiais: Em vista das manifestações na internet de que “maconheiro tem que apanhar” reafirmo aq

Land of the free ou as idéias fora do lugar 2

6 milhões de pessoas na prisão, mais que Stalin nos seus piores dias. Um em cada nove homens negros entre 20 e 34 anos preso. 46% dos adultos e 46% dos jovens entre 13 e 18 anos diagnosticados e medicados contra distúrbios psiquiátricos.

Recordar é viver: Thomas Jefferson e as idéias fora do lugar.

Iluminista poliglota, advogado, autor da declaração de independência, governador do estado da Virginia, terceiro presidente Americano, latifundiário proprietário de centenas de escravos, entre eles Sandy, cuja fuga motivou o anúncio acima e Sally Hemings, com quem ele teve seis filhos. Eis a frase mais famosa da declaração da independência: “We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the pursuit of Happiness.” Todos os homens menos Sandy… E ainda há quem creia que o problema e particularidade brasileiros são as idéias fora do lugar…

Bem vindos ao deserto do global...

Dois trechos de entrevista para O Globo dada por Luciana Villas-Boas , cuja saída da Record é um importante sinal da internacionalização do mercado editorial brasileiro: "Já constatei também que há grande interesse no exterior pelo que vier a sair do Brasil, desde que passemos a oferecer uma ficção de qualidade, mas legível por vários níveis de público, e não apenas a literatura chamada transgressora, ou metalinguística, que seja só experimentação formal — sem história, sem personagens ricos e complexos, sem carne, sem sangue. Isso, que já fizemos, enterrou e cria ainda obstáculos para a entrada do livro brasileiro no mercado internacional." “Os grandes grupos editoriais estrangeiros estão enlouquecidos com a perspectiva de entrar num mercado com o potencial de expansão como o nosso. Um dos raros países que estão crescendo, uma nova classe média se formando, a consciência da necessidade da leitura se alastrando, os dirigentes finalmente entendendo que não dá mai

Ainda Lima Duarte, ainda Guimarães Rosa

E para completar o ciclo "descobrindo Lima Duarte", um pedaço da entrevista no Roda Viva , na qual ele fala, na minha opinião, com muita propriedade sobre a adaptação do Grande Sertão: Veredas para a televisão. Jorge Escosteguy: Agora, você não gostou, por exemplo, da versão que se fez na televisão do Grande sertão: veredas . [Em 1985, o livro foi adaptado em uma minissérie escrita por Walter Durst (1922-1997) e dirigida por Walter Avancini, protagonizada pelos atores Tony Ramos e Bruna Lombardi]. Lima Duarte: Ai, caramba! Estão me entregando... Jorge Escosteguy: Que foi até, surpreendentemente, um sucesso. Lima Duarte: Foi, sem dúvida. Eu não gostei, discuti isso com Walter Avancini, exaustivamente. Brigamos, até discutimos mesmo, porque eu tenho posições muito firmes a respeito do Grande sertão: veredas , é uma visão muito pessoal e muito própria. Também sei que cada um faz a sua leitura, como ocorre com grandes livros. Essa que está lá, na Sala São Luiz, é a mi

Super-recomendação: Meu Tio Iauaretê na voz de Lima Duarte

Descobri por acidente este tesouro. Tesouro, mesmo, porque eu não conheço nenhuma leitura de Guimarães Rosa tão boa como essa, ainda mais de um dos seus textos mais complicados. Lima Duarte está simplesmente sensacional.

Bartolomeu Campos Queiroz

Um escritor de livro infantis sensível e criativo, que me marcou a infância com um livro delicado e desprovido da mentalidade melodramática da Disney. Um escritor infantil que tinha coragem de se apresentar assim: "...das saudades que não tenho Nasci com 57 anos. Meu pai me legou seus 34, vividos com duvidosos amores, desejos escondidos. Minha mãe me destinou seus 23, marcados com traições e perdas. Assim, somados, o que herdei foi a capacidade de associar amor ao sofrimento... Morava numa cidade pequena do interior de Minas, enfeitada de rezas, procissões, novenas e pecados. Cidade com sabor de laranja-serra-d’água, onde minha solidão já pressentida era tomada pelo vigário, professora, padrinho, beata, como exemplo de perfeição."

Travessuras do Doutor Frankenstein: Kevin Barnes

Doutor Frankenstein trouxe Jim Morrison de volta ao mundo dos vivos, deu-lhe uma infusão de kriptonita, um par de discos e um pouco de DNA alienígena/queer de David Bowie. Depois o diabólico doutorzinho ainda jogou no lixo aquele orgãozinho fanho de churrascaria do Ray Manzarek e o resultado foi esse: E em versão acústica: Aqui a letra The past is a grotesque animal Kevin Barnes / Of Montreal The past is a grotesque animal And in its eyes you see How completely wrong you can be How completely wrong you can be The sun is out, it melts the snow that fell yesterday Makes you wonder why it bothered I fell in love with the first cute girl that I met Who could appreciate George Bataille Standing at a Swedish festival Discussing, 'Story of the Eye' Discussing, 'Story of the Eye' It's so embarrassing to need someone like I do you How can I explain I need you here and not here too How can I explain I need you here a
O censo brasileiro é intrigante. Por exemplo, por que as etnias se dividem em branco/preto/pardo/amarelo/indígena? Não dá para ser coerente e propor branco/preto/pardo/amarelo/vermelho? Aliás, alguém por aí já conheceu alguém chamado de "amarelo" que não estivesse doente? E dou um doce para quem adivinhar qual grupo étnico diminuiu de 2000 a 2010. E um café para acompanhar o doce para quem souber qual o grupo que mais cresceu.

Aforismos desaforados 1 - Nelson Goodman

[ilustração: fotografia de minha autoria, banco na Union Church de Tarrytown, NY] "Nothing is in the intellect which was not previously in the senses."
Imaginem as três instituições mais respeitadas do país [Oxford, Cambridge e Westminster] que formam, cada uma, dois grupos [“companies”] compostos de três estudiosos cada. Cada um desses grupos traduz independentemente um sexto da Bíblia e revisa os outros cinco sextos traduzidos pelos outros grupos. Um grupo final de editores, derivado dos seis grupos originais, faz as seleções finais e edita o livro. Entre Bíblias traduzidas em parte ou no todo em diversas línguas, esses grupos tomam como base três traduções anteriores, mais ou menos recentes, todas em grande parte derivadas das traduções feitas por um certo William Tyndale, que tinha sido executado em 1536 por heresia. O resultado desse trabalho foi a versão da bíblia em lingua inglesa conhecida como King James Bible [o nome do empreitero do projeto, digamos], uma obra que ainda ressoa na boca de qualquer falante de lingua inglesa. Mais sobre o livro que descreve o processo em minúcias aqui . E hoje em dia é difícil conven

Emilia Viotti da Costa

Porque a pauta da imprensa se volta, na melhor das hipóteses, para barbaridades como livros sobre história que misturam o conselheiro Acácio com complexo de Mazombo? Se você não conhece Emília Viotti da Costa, não conhece o melhor do Brasil em termos de historiadores. Coloco aqui apenas um trecho de entrevista dela a Roda Viva onde ela coloca sucintamente alguns pingos nos is: Paulo Markun: Mas, num país como o nosso, onde nós temos eleições supostamente livres, um governo eleito democraticamente, com maioria dos votos e ampla discussão na imprensa de todas as questões. Essa opção não é feita pelo eleitor que vota? Emília Viotti: Eu tenho que contestar uma por uma das coisas que você falou. Eu tenho que contestar a noção de democracia, a noção de voto livre e consciente, e a noção de imprensa livre. Eu acho que esses são os grandes mitos do nosso tempo. Não só nosso no Brasil, mas em outros países. Fala-se em democracia. Como é que você pode falar em democracia, por exemplo

Biroscas de New Haven – The Place

Eles só abrem de abril até outubro [se não estiver chovendo]. Isso porque só atendem no quintal coalhado de mesas pintadas de vermelho sangue e bancos feitos com troncos cortados de carvalho. Em cada mesa um saleiro, um vidro de pimenta, um negócio de guardanapos de papel e uma garrafa verde ostentando um punhado de flores, tipicamente girassóis. O cardápio cabe inteiro numa placa vermelha pregada no meio do quintal: lagosta, mariscos, camarão, peixe, milho, todos bem frescos e assados na brasa na hora, Arroz? Salada? Vinho? Cerveja? Se quiser pode trazer de casa! O “ The Place ” tem o minimalismo birosqueiro até no nome. Cartão de crédito, meu chapa, nem pensar! Quem quiser que atravesse a rua e vá ao caixa eletrônico em frente ao supermercado. Eis a “cozinha”: Eis as mesas: Eis o cardápio: E eis a comida: