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Showing posts with the label Música

Música: Head of the Lake de Leanne Betasamosake Simpson

  Head of the Lake Lyrics by Leanne Betasamosake Simpson* Music by Nick Ferrio, Jonas Bonnetta, Ansley Simpson In a basement full of plastic flowers, Pierogis, cabbage rolls. At the head of the lake, thinking under accusation. At the mouth of the catastrophic river, Disappearing our kids. At the foot of the nest Beside trailer hitches, coffee, spoons. We made a circle And it helped. The smoke did the things we couldn’t. Singing broke open hearts, I hold your hand Without touching it. We’re in the thinking part of the lake. Faith under accusation At the mouth of the river. And the spectre of the free At the foot of Animikig** Beside bones of stone and red silver In a basement full of increasing entropy, Moose ribs, wild rice. ( We made a circle ) We made a circle ( We made a circle ) And it helped ( And it helped ) The smoke did the things we couldn’t ( The smoke did the things we could not ) Singing broke open hearts I hold your hand without touching it ( I hold your hand without t...

Poesia e Música

  The dead know what they're doing  when they leave this world behind. All the suffering gets done by the ones we leave behind. David Berman

Um brasileiro ouve Radiohead

True Love Waits I'll drown my beliefs To have your babies. I'll dress like your niece And wash your swollen feet. Just don't leave. Don't leave. I'm not living, I'm just killing time. Your tiny hands. Your crazy kitten smile. Just don't leave. Don't leave. And true love waits In haunted attics. And true love lives On lollipops and crisps. Just don't leave. Don't leave. Considerada [sabe-se lá com base em quê] a música mais triste do Radiohead, "True Love Waits", meus caros, é uma espécie de Bossa Nova triste [digamos então uma "Fossa Nova"], algo digno de grandes cantores de fossa tipo Maísa [por favor, a cantora dos anos 50 e 60] ou Peninha. A batida está aí, nua, fantasmagórica no piano elétrico acompanhado por um outro piano que salpica discretas interferências cheias de eco pelo caminho da canção. O interessante é que essa canção aparece apenas em concertos desde 1995, muitas vezes numa versão com violão que é muitíssimo i...

Perder o chão - Encontrar o chão

 Perder o chão. Você já perdeu o chão? Perder a rosca, o caminho de casa? Eu costumava desprezar os otimistas, os que faziam mensagens de esperança e otimismo no meio do caos. Quando perdi o chão percebi, não imediatamente depois, mas depois de pastar a grama que o diabo plantou na minha vida, que aquele caos era, afinal, antes de qualquer coisa, meu. Genocídios, canalhas e gente estúpida que se mantém escrupulosamente ignorante existem, não nego. Mas suspeito que sempre existiram e continuarão existindo. Resta decidir onde investir as cada vez mais parcas energias: nessa gente miserável ou na gente outra, humana e interessante; nessa música ridícula que ocupa as telas e fones de ouvido de tanta gente ou na música que me inspira e me alegra a alma. Quando perdi o chão descobri que não dava conta de tanto lixo e ruindade. Não dava e não dou. Não dou conta desse mundo que querem me empurrar pela tela do computador. Melhor fechar as telas e ouvir Liliana Herrero: Confesión del Viento ...

Gênios do Riddim jamaicano

Era uma vez a maior dupla baixo/bateria do reggae jamaicano: Robbie Shakespeare e Sly Dunbar. Eles gravaram com Bob Marley, Peter Tosh e Jimmy Cliff. Mas foram além, gravando com grandes não tão conhecidos fora da Jamaica como Gregory Issacs, Yellowman e Dennis Brown. Gravaram com meio m mundo, de Grace Jones e até Vanessa da Mata.Sem  Sly & Robbie "Jokerman" de Bob Dylan não seria a maravilha que é - os dois levam a batida de reggae chamada "Rockers" (que muitos dizem ter sido inventada pelos dois).  As batidas do reggae são chamda de "riddim" [que os DJs copiam para várias canções diferentes]. Tenho a impressão que todos os principais riddims foram inventados por Sly & Robbie. rockers, rub-a-dub e bam-bam. Mas nada supera o que eles fizeram com a banda Black Uhuru. Basta ouvir os dois nessa faixa [Natural Reggae Beats]:  Era uma vez porque Robbie Shakespeare morreu em 2021. Acabou-se o que era doce, mas há quem diga que os dois deixaram mais de 2...

A música não acabou 1: Duas canções maravilhosas da banda Paramore

Em "Ain't it Fun" baixou o espírito do Michael Jackson mais roqueiro de Thriller  na banda Paramore. Um irônico convite à vida adulta, traduzida como viver o mundo real world, estar sozinho, ser um de nós e não poder voltar chorando para o colo da mamãe, com direito a um coro gospel na parte final.  Na mais recente "This is Why" baixou o espírito do Talking Heads. De novo muita ironia para tratar da vontade de nunca mais sair de casa depois da pandemia por causa da chuva de opiniões e convicções descabeladas que inundam a gente todos os dias. 

Diário de Babylon no Natal - "É o jingo!"

 1. Aqui em casa, no meio do sertão de Oklahoma, costumo dizer umas dez vezes por dia, "é o jingo" como sinal das festas de fim de ano. 2. O troféu Herodes desse Natal vai para o governador do Texas que mandou na noite do dia 25 mais de cem homens, mulheres e crianças que tentaram passar pela fronteira pelo seu estado para a porta da vice-presidente Kamala Harris enquanto os termômetros marcaram -7oC em Washington DC. 3. Aqui em Norman a rapaziada do Norman  Care-A-Vans se mobilizou para dar teto a todos os sem casa da cidade antes que o frio literalmente de matar chegasse. Destaque natalino positivo para eles - digamos que seja o nosso troféu manjedoura - para o dono do modesto Travelodge, hotel da cidade que liberou mais de vinte quartos para acomodar os miseráveis da cidade durante o Natal. Minha Ti também merece menção especialíssima porque participou do esforço de levar comida e auxílio ao sem-casa! 4. Nossa cidade é bacana demais, mas nem tudo são rosas. Temos vereador...

Música

A dupla caipira contemporânea Gillian Welch and David Rawlings se apresenta normalmente assim: dois violões ou violão e banjo e duas vozes.  Como toda a boa canção parece que ela fala comigo, apesar da história sobre um lavrador miserável e sua mula amada dando duro o dia inteiro não ter nada a ver comigo. "Quando o dia encomprida como ele tem encompridado esses dias" eu também me lembro do refrão dessa canção tão simples e tão tocante: "esses tempos difíceis não vão tomar conta da minha cabeça". O lavrador perdeu sua mula e já não canta mais, diz a canção, então chegou a hora de outros vozes humildes, exaustas, vivendo de vinho e lágrimas pegar os instrumentos e cantar essa canção e dançar até "tirar a poeira das rachaduras do chão".   Hard Times Gillian Welch and David Rawling There was a camp town man.  Used to plow and sing 'n he loved that mule and the mule loved him When the day got long as it does about now I'd hear him singing to his mule c...

Música argentina: Liliana Herrero

Confesión del Viento   [Juan Falú / Roberto Yacomuzzi] El viento me confió cosas Que siempre llevo conmigo. Me dijo que recordaba: Un barrilete y tres niños, [barrilete: pipa, papagaio] Que el sauce estaba muy débil,     [sauce: salgueiro] Que en realidad él no quiso, Que fue uno de esos días Que todo es un estropicio. Me dijo que los pichones [pichón: pombo] A veces de apresurados Caen al suelo indefensos Y él no consigue evitarlo. Me habló de arenas de agosto, De cartas de enamorados, Del humo en las chimeneas, Del fuego abrazando el árbol. Iba quebrado de culpa Y seguía confesando En su lomo de distancias [lomo: lombo] No cabalgaba ni un pájaro. Era un fantasma ese viento, Un alma en pena penando Y en ese telar de angustias [telar=tear para fazer tecido] Tejió sus babas el diablo.  ["os babados do diabo", as teias de aranha quase soltas ao vento] Me dijo que recordaba, Que en realidad él no quiso. A veces de apresurados... Un barrilete y tres niños... Me habló de ...

Diário da Babilônia - O mundo Country

 

Obituário - Elza Soares

Elza Soares em 1960 gravou um samba antigo de 1938, que tinha sido gravado por Aracy de Almeida. A gravação abre "A Bossa Negra", na qual a cantora canta sambas com arranjos modernos com metais e brinca de quando em quando com o scatting do jazz americano. O refrão anuncia: " Ai, ai, meu Deus, Tenha pena de mim! Todos vivem muito bem Só eu que vivo assim: Trabalho e não tenho nada, Não saio do miserê. Ai, ai, meu Deus! Isso é pra lá de sofrer."  Seu reconhecimento maior demorou quase 50 anos. Mas ainda bem que veio antes de Elza Soares morrer! A versão de Aracy de Almeida é linda, mas é mais lenta, mais delicada [o compacto inclui "Marido da Orgia", sobre a violência doméstica]: Elza Soares volta ao clássico no meio da onda da Bossa Nova impondo aquela combinação de vigor animado e afinação perfeita. Seu reconhecimento maior demorou quase 50 anos para acontecer.  Mas ainda bem que veio antes de Elza Soares morrer!

A melhor banda dessa semana: Big Thief com "Not"

It's not the energy reeling, Nor the lines in your face, Nor the clouds on the ceiling, Nor the clouds in space. It's not the phone on the table, Nor the bed in the earth, Nor the bed in the stable, Nor your stable words. It's not the formless being, Nor the cry in the air, Nor the boy I'm seeing, With her long black hair. It's not the open weaving, Nor the furnace glow, Nor the blood of you bleeding, As you try to let go. It's not the room, Not beginning, Not the crowd, Not winning, Not the planet, Not spinning, Not a rouse, Not heat, Not the fire lapping up the creek, Not food, Not to eat. Not the meat of your thigh, Nor your spine tattoo, Nor your shimmery eye, Nor the wet of the dew. It's not the warm illusion, Nor the crack in the plate, Nor the breath of confusion, Nor the starkness of slate. It's not the room, Not beginning, Not the crowd, Not winning, Not the planet, Not spinning, Not a rouse, Not heat, Not the fire lapping up the creek, Not food...

Música e adolescência - 5 princípios básicos

1. Perder tempo sem conta discutindo obsessivamente sobre música; 2. Dar a essas discussões sobre gosto musical o peso de questões de grande significado moral; 3. Considerar certos tipo de música não apenas piores, mas um "erro" que não deveria existir; 4. Quando mais "transgressor" o seu estilo preferido, mais cheio de regras rígidas; 5. Acreditar piamente que tudo o que é bom está necessariamente escondido em algum lugar muito marginal porque tudo o que é promovido por gravadoras é uma porcaria.  

Músicas que fizeram minha cabeça

 Eu fiquei louco quando comprei o disco de vinil do Billy Bragg, único que foi lançado no Brasil até onde sei. Era como voltar à Inglaterra feia e mal humorada dos anos 80 já com Thatcher botando para quebrar. A música que fez minha cabeça era um hino trabalhista "Power in the Union", mas meu companheiro de aventuras musicais Renato Alcici tinha o ouvido mais apurado e escolheu essa maravilha para a gente tocar junto:  

Obituário: Vicente Fernández

 O rei das rancheras morreu e dominou as rádios mexicanas aqui de Oklahoma hoje. Vicente Fernández fazia Agnaldo Timóteo parecer um cantor de Bossa Nova, era como se a brutalidade de Vicente Celestino se misturasse com a suavidade Roberto Carlos:  Sente o drama: "Acá entre nos Quiero que sepas la verdad: No te he dejado de adorar, Allá en mi triste soledad Me han dado ganas de gritar, Salir corriendo y preguntar Que es lo que ha sido de tu vida. Acá entre nos Siempre te voy a recordar Y hoy que a mi lado ya no estás No tengo mas que confesar Que ya no puedo soportar Que estoy odiando sin odiar Porque respiro por la herida."

Amor e Arte

Era uma vez um músico tímido, um saxofonista chamado Paul Desmond, que amava em silêncio e à distância a atriz Audrey Hepburn. Em 1954, todas as noites ele pedia ao pianista do grupo, Dave Brubeck, para chamar um intervalo no mesma horário. Discretamente ele saía do clube atravessava a rua para assistir à distância Audrey saindo do teatro onde ela então se apresentava. Naquele ano ele escreveu uma música chamada "Audrey". Desmond morreu solteiro, de câncer, mais de vinte anos depois, em 1977, sem nunca ter encontrado pessoalmente Audrey Hepburn. Quase quarenta anos depois, em 1993, o ex-marido de Audrey Hepburn telefonou para Brubeck para pedir ao seu quarteto para tocar "Audrey" no velório da atriz. Ele disse a Brubeck que a atriz ouvia a faixa todas as noites antes de dormir. O cartunista Paul Rogers leu a história na biografia de Paulo Desmond escrita por Doug Ramsey. De Desmond para Audrey para Andrea Dotti (o marido) para Brubeck para Ramsey para Rogers para mi...

Obituário - Nelson Freire

 Morreu também Nelson Freire - não pode haver nada mais diferente no mundo da música. Para mim ele era, em primeiro lugar, o pianista preferido da minha sogra, que é uma pianista muito boa. Ela era entusiasmada com Nelson Freire ao ponto de - já com oitenta anos e mais de dez pontos na perna por causa de um acidente caseiro - ir de trem para Nova Iorque só para assistir mais uma vez Nelson Freire tocar. Nós morávamos na época no estado vizinho e a viagem de trem até Manhattan dura mais ou menos duas horas. Nelson Freire é meu companheiro de estudo, leitura e escrita com os noturnos de Chopin, que ele gravou divinamente. Eu até fiz um CD para a minha sogra em que intercalava as interpretações dele com as de Cláudio Arau, também maravilhosas. Além disso tem o filme maravilhoso do João Moreira Salles, tão delicado e rigoroso quanto o pianista que retratava com veneração.   

Obituário - Marília Mendonça

Morando fora do Brasil há muito tempo, tenho que ser proativo para conhecer as novas ondas musicais que antes me chegavam por osmose, no restaurante, no táxi, na fila do banco etc. Assim, com aquele atraso tradicional, fui escarafunchar Marília Mendonça, Maiara e Maraísa e Simone e Simaria pelo iutúbio adentro. Escutei tudo o que havia, até entrevistas diversas. Não faz muito tempo falava com os meus amigos de grupo de leitura da segunda-feira sobre como admirava especialmente Marília Mendonça, recebi apoio entusiasmado de um ou dois e indiferença polida dos outros que, ou não conheciam, ou não gostavam do estilo - com todo o direito, aliás. Compartilhei na época um punhado de músicas que achava legais. Essa é uma das minhas favoritas: Não gostava para nada da geração que se seguiu ao primeiro estouro do sertanejo. Achava Leandro e Leonardo e Zezé di Camargo, por exemplo, umas porcarias que misturavam o pior do Roberto Carlos com um pastiche ridículo de Country. Depois daquela música d...

Era uma vez

 Era uma vez um maestro chamado Stokowski, que quis aproveitar a onda da "Boa Vizinhança" e armou um navio com um estúdio de gravação de última geração para sair pela América gravando música de outras culturas. Em 1942 ele abordou no Rio de Janeiro e, tendo como guia um certo maestro brasileiro chamado Villa-Lobos, gravou uma série de canções brasileiras. Entre elas estão macumbas, sambas e música caipira. Um certo sujeito de 34 anos conhecido pelo apelido de Cartola:

Telegráficas sobre Arturo Toscanini