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Showing posts from 2007

Poesia Mexicana IV - Tablada

Figura: Zompantli de Artemio Rodríguez José Juan Tablada [1871-1945] já era um poeta simbolista mais ou menos consagrado quando encontra o Haikai e daí uma passagem para a poesia moderna. Un día [poemas sintéticos] de 1919; Li-Po [1920], Jarro de Flores [1922] e La feria [1928] são quatro portentos, maravilhas poéticas deslumbrantes de um apaixonado pela palavra e pela superfície sensível do mundo. Vamos passar ligeiro pelos quatro. De Un día: Los zopilotes Llovió toda la noche y no acaban de peinar sus plumas al sol, los zopilotes. De Li-Po: Nocturno Alterno Neoyorquina noche dorada Fríos muros de cal moruna Rector's champaña foxtrot Casas mudas y fuertes rajas y volviendo la mirada Sobre las silenciosas tejas El alma petrificada Los gatos blancos de la luna Como la mujer de Lot Y sin embargo es una misma en New York y en Bogotá ¡La Luna...! A un Lémur (Soneto sin ripios) GO ZA BA YO A BO GO TA TE MI RE Y ME FUI De Jarro de Flores: Un

Tradução, sacação, traição

Deu na Folha de São Paulo: Roberto Domênico Proença "traduziu" os contos de Voltaire - trocando uns detalhes aqui e outros dali de uma tradução antiga de Mário Quintana. A troca era pura crocodilagem - os erros contidos na tradução do poeta gaúcho continuaram. A Martin Claret, editora especializada em livros de bolso, publicou traduções igualmente plagiadas de "Os Irmãos Karamazov" e "A República". A primeira, assinada por Alexandre Boris Popov, é cópia de uma antiga versão da editora Vecchi. A tradução de "A República", assinada por Pietro Nassetti, é, na verdade, uma versão de Maria Helena da Rocha Pereira. Essa história de tradução requentada é antiga. Eu perdi o respeito intelectual por um grande poeta [que continuo respeitando muito como poeta] quando percebi que uma das suas "traduções" eram assim mesmo, muito entre aspas. As pessoas se fiam muito na ignorância geral da nação para fazer bonito, mas esse tipo de impostura prolifera

Memórias de BH

Quem não gosta de chuva? Eu quando vivia em Belo Horizonte ficava sempre esperando o final de novembro chegar, só para ver o céu ficar cor de chumbo quase preto e de repente a chuva desabar, aliviando o calor e limpando a cidade. Em Belo Horizonte a estação das chuvas funcionava para mim como o outono ou a neve do inverno em um lugar mais frio: era a hora em que a natureza [no sentido mais visceral da palavra] resolvia dar as caras e nos lembrar que somos: um bando de formiguinhas zanzando para lá e para cá crentes que são as donas do mundo.

Desculpe qualquer coisa...

Essa mania de pedir perdão sem fazer patavinas sobre as injustiças pelas quais as deculpas são pedidas é um horror. Aliás, eu quero logo pedir desculpas pelo conteúdo desse blogue e por quaisquer erros de gramática que ele contiver. Aproveito para pedir perdão à todos os professores que ignorei ou ofendi antes de virar professor e compreender a corda bamba em que andamos no picadeiro da sala de aula, à minha esposa e meu filho por ser um ser humano bem ordinário em seus defeitos e qualidades e finalmente à minha mãe por ter nascido, causando naquela pobre senhora terríveis dores no parto. Enfim, como dizemos às vezes nós mineiros quando nos despedimos de alguém em um arroubo de penitência previdente: "Desculpe qualquer coisa!"

Poesía Mexicana III - Lopez Velarde

Ramón Lopez Velarde é considerado pelos próprios mexicanos o precursor da poesia moderna no México. Morreu com apenas 31 anos em 1921 e seu poema “La suave patria” se transformou em uma espécie de hino nacionalista – uma contradição em termos principalmente se pensarmos que López Velarde vai ser canonizado pela revolução mexicana tendo sido ele um católico conservador [veja no próprio poema em questão a referência ao correio de Chuan]. Como deixa clara a abertura do seu poema mais famoso, seu patriotismo não tem nada de estridente; é um épico em surdina, uma evocação íntima, discreta, profundamente pessoal. São excelentes também os poemas memorialistas de López Velarde, dignos de Drummond na sua evocação de erotismo infantil e culpa, por exemplo, no famoso “Mi prima Agueda”. La suave patria – Proemio Yo que solo canté de la exquisita Partitura del íntimo decoro, alzo hoy la voz a la mitad del foro, a la manera del tenor que imita la gutural modulación del bajo, para cortar a la epopeya

Torcer por time de futebol é uma grande perda de tempo...

Torcer por um time de futebol é mesmo uma perda de tempo, como também são perda de tempo ver novela; passear no shopping center; decorar o hino nacional; acompanhar a moda; acompanhar as “novidades” da música popular que usam os mesmos quatro ou cinco acordes há décadas; sentir nostalgia por qualquer baboseira do passado como seriados de heróis japoneses; seguir a vida pessoal de gente “famosa”; ficar criticando o governo e os políticos sem nunca fazer absolutamente nada a respeito; conversar sobre o clima e o trânsito; ler notícias sobre desastres naturais há mais de cem quilômetros de distância da residência de qualquer pessoa do seu conhecimento; cantar loas de louvor a um bairro/cidade/estado/país qualquer; ficar olhando retratos de gente famosa, estejam elas peladas ou vestidas; ficar discutindo os atributos físicos de pessoas famosas ou não, gastar fortunas com um monte de baboseiras que prometem o impossível – fazer você parar de ficar mais velho; fazer a cama que você vai desfa

Crónicas do Império - Voltando para casa

Reportagem recente do NYT sobre brasileiros que vivem nos Estados Unidos e têm, cada vez mais, decidido voltar para o Brasil [a reportagem chega a dizer que o fluxo de volta já supera o de chegada]: http://www.nytimes.com/2007/12/04/nyregion/04brazilians.html?ex=1197694800&en=8687361152036697&ei=5070&emc=eta1 Em vista das crescentes dificuldades diárias na vida dos brasileiros que imigraram ilegalmente para os Estados Unidos, parece que um número cada vez maior de pessoas se pergunta “Vamos voltar para casa?” Mas e depois? Será que essas pessoas voltam e são engolidas pelo meio e rapidamente voltam a ser como eram antes de sair de sair do Brasil? Será que essas pessoas tentam manter pelo menos uma parte da forma de vida que tinham nos Estados Unidos? E os filhos que crescem aqui e têm muito pouca identificação com o Brasil? Imaginemos um imigrante comum: o cara tem um diploma, por exemplo, de letras e ganhava a vida aqui como bombeiro-eletricista. Ele vai fazer o quê no Bra

Poesía Mexicana II - Enrique González Martínez

González Martínez escrevia sonetos e era um sujeito respeitável nos anos 20 no México. De repente ele escreve um soneto em que propõe dar cabo sem dó nem piedade dos cisnes simbolistas e substituí-los por uma circunspecta coruja, que antes de qualquer coisa, mantém os olhos bem abertos para a vida. Mais ou menos o mesmo grito de emancipação do modernismo brasileiro, mas sem qualquer traço de vanguarda - a tal coruja é da deusa Atenas... Esses mexicanos... que loucura! Será mesmo? Será que a nossa historiografia que insiste que 1922 viu a invenção do moderno num Brasil arcaico, não merece uma revisão? Não parece um pouco forçada a idéia de simplesmente chamar qualquer escritor moderno antes de 1922, como Lima Barreto e Machado de Assis, de pré-modernistas? Vale a pena ler de novo o poema "Os Sapos" de Manuel Bandeira [lido na Semana de Arte Moderna], principalmente do ponto de vista formal. Será que "Os Sapos" é completamente diferente de "Tuércele el cuello al

Declaração de Bens

Declaração de Bens A vida como eu conheço é a única vida que eu sei que existe e não vale a pena. A vida é uma só, como acontece é assim uma vez só e nunca mais e não vale a pena. Querer saber porque e porque não e para que serve tudo isso aqui não vale a pena. É tudo um imenso desperdício de energia de ilusão de sofrimento, a vida como eu conheço aqui e agora não vale a pena. Estúpida e lenta passa devagar até que não deixamos mais que um traço se deixarmos um traço e é melhor nem deixar um só traço e ainda bem que é assim porque se deixássemos mais que um traço depois de irmos embora poderíamos enganar, não a nós mesmos, mas aos outros que ficam para trás, como eu agora estou aqui atrás, esperando a hora de ir em frente e parar de ir em frente. Porque ir em frente é um engano terrível, uma completa perda de tempo. Sinto muito, mas assim são as coisas como eu as conheço e eu não posso saber das coisas diferentes de como eu as conheço. Levamos quarenta, dez, sess

Passagem

Olho pra fora, não fujo, não quero mais me sentir outro, de fora; quero a comunhão barata do barulho dos carros, da gente, do rádio. Ainda está tudo do lado de fora, do outro lado da mesa, o outro lado da porta de vidro: gente dando as mãos, atravessando a rua, chorando, sorrindo, sozinhos, em bando, em dupla, nascendo, amadurecendo, secando, morrendo. Um par de folhas de um broto cai no chão, a chuva cai e leva as duas juntas, que escurecem podres e já não são mais folhas, tudo o que há e que houve e que há de ser depositando-se em centenas de anos, em camadas no sangue, nos ossos, na carne, na língua, tão minha quanto de quem mais quiser, minha e dos dois garotos que passam lá fora conversando um futuro besta, minha e da mulher que passa carregando seus desapontamentos nas costas, minha e do senhor que se arrasta como um deus de chapéu e terno riscado, minha e de você que me lê agora e é assim meu quase irmão, meu pai e meu filho e reconhece aqui agora alguma coisa de dentro de um qu

Blogue do Mino Carta

Concordando ou n�o com Mino Carta, imposs�vel n�o perceber a diferen�a entre a safadeza da imprensa que atua politicamente pela omiss�o de informa�o e mant�m a pose de jornalismo imparcial. Aqui um exemplo recente: Por que n�o leio Veja Respondo ao companheiro de navega�o Henrique Vianna. Nada sei a respeito de entrevista de Saulo Ramos � Veja, publica�o que n�o leio. Ali�s, cuido de n�o ler, em benef�cio da zona miasm�tica situada entre o f�gado e a alma. Aproveito a oportunidade que voc� me oferece, para esclarecer minhas raz�es: a Veja, que se apresenta como uma das maiores do mundo por causa de sua tiragem, de fato alentada, � uma da provas da indig�ncia mental da chamada classe m�dia nativa. Sem falar dos abastados. Est�o a� os leitores de cabresto, incapazes de perceber o p�ssimo jornalismo praticado pela revista da Abril, de um reacionarismo ign�bil, facciosa al�m da conta e extraordinariamente mal escrita. Somos uma na�o desimportante, a despeito das incr�veis potencialidades d

Poesía Mexicana I - Alfonso Reyes

Começo aqui uma série de grandes poemas mexicanos do século XX com um poema de tema indígena que põe no chinelo muita baboseira dos modernistas brasileiros. Escrito em 1934 [antes da estadia de Reyes como embaixador mexicano no Brasil] e publicado pela primeira vez em 1941. Os Tarahumaras são nativos de norte do méxico de onde Reyes veio e são famosos por serem grandes corredores de longa distância. YERBAS DEL TARAHUMARA Han bajado los indios tarahumaras, que es señal de mal año y de cosecha pobre en la montaña. Desnudos y curtidos, duros en la lustrosa piel manchada, denegridos de viento y de sol, animan las calles de Chihuahua, lentos y recelosos, con todos los resortes del miedo contraídos, como panteras mansas. Desnudos y curtidos, bravos habitadores de la nieve —como hablan de tú—, contestan siempre así la pregunta obligada: —"Y tú ¿no tienes frío en la cara?" Mal año en la montaña, cuando el grave deshielo de las cumbres escurre hasta los pueblos la manada d

Da série gênios da raça II

Perólas de Sabedoria do Príncipe FHC ou Do Programa do Faustão ao Planalto “Há portanto várias maneiras de se treinar para a atividade política. Na verdade, todas as formas de participação que mencionei requerem algum treinamento. Às vezes as pessoas treinam sem saber que estão treinando. Vou dar um exemplo que pode parecer estapafúrdio: programas de auditório. Neles existe uma certa interação entre o apresentador, os convidados e a platéia que, mesmo sem ser contabilizada como se fosse política, ensina as pessoas a se exporem, a se comunicar em público. Quem hoje está no programa de auditório, amanhã pode estar numa comissão de moradores representando seus vizinhos.” [Trecho retirado do livro "Cartas a um jovem politico", de Fernando Henrique Cardoso] Prefiro Tim Maia: "Fiz uma dieta rigorosa. Cortei álcool, gorduras e açúcar. Em duas semanas perdi 14 dias".

Mote e Glosa: Zeladores e repassadores de e-mail

Recebi a seguinte mensagem: Sent: Monday, 19 November, 2007 6:58:53 AM Subject: Assistencialismo - Absurdo! Amigos e Amigas, BOA SEMANA!!! Repassando... Fiquei INDIGNADO! REVOLTANTE!!! Mas, em cada cabeça uma sentença, já dizia nossos antigos... Abraços História do Zelador que pediu para ser demitido !!! Interessante e verídico! IRREAL para um PAIS como o BRASIL!!! IRREAL... partindo de um opositor ferrendo da POLÍTICA SOCIAL anterior... O zelador de um prédio em Natal/RN, pediu à administração do condomínio onde trabalhava que o demitissem. Contou o motivo; tem dois cunhados desempregados, lá mesmo em Natal, e que, por conta da bolsa escola, cartão cidadão, cartão alimentação, vale gás, transporte gratuito, vale-refeição (acreditem - Vale-refeição) e demais benefícios do nosso governo, dadas a título de esmola, vivem melhor que ele. Aí paramos e fomos fazer umas continhas: 1. Bolsa escola - R$ 175 para cada filho que freqüente as aulas (suponha

Diário do Império - sobrenomes

Sobrenomes mais comuns nos Estados Unidos? Smith [2,4 milhões, 20% deles são negros] Johnson [1,9 milhão, 30% deles são negros] Williams [1,5 milhão, 50% deles são negros] Brown e Jones [1,4 milhão cada um] Miller e Davis [1,1 milhão cada um] Ah, 90% dos Washingtons e 75% dos Jeffersons [sobrenomes, por aqui] são negros. Sobrenomes que mais cresceram desde os anos 90? Rodríguez, García, Hernández, Martínez, González, López... São seis os nomes de origem latino americana entre os 25 sobrenomes mais comuns. Enquanto isso, Lou Dobbs vocifera na CNN todos os dias contra imigrantes ilegais e sua invasão do país e o sinistro Homeland Security conduz dezenas de batidas policiais prendendo e deportando a granel os mesmos Rodríguez, García, Hernández, Martínez, González, López...

Norman Mailer

Norman Mailer era um iconoclasta que chegava a extremos absurdos. Ele participou por exemplo de debates antológicos no início dos anos 70 quando defendia posição contrária ao feminismo, chegando a dizer ser contra o controle de natalidade, além da candidatura louca a prefeito de Nova Iorque, com a plataforma de separar a cidade do estado e banir o automóvel de Manhattan. Mas não era como muitos iconoclastas de hoje em dia, que são puramente oportunistas; Mailer punha o coração aberto em tudo o que fazia, mesmo as maiores besteiras. Quem quiser conhecer o mais forte e o mais fraco de Mailer deveria ler "Exercitos da Noite" mistura de jornalismo com romance egomaniaco sobre os protestos contra a guerra do Vietna em 1967. Quem nao tem tempo pode ficar com o artigo “White Negro”. É uma idealização existencialista dos atos de um jovem negro que assassinou um branco no início dos anos 60. Mas para quem, como nós no Brasil, convive com uma violência palpável e concreta no dia-a-dia,

Notícias do Império

Notícias do Império ou para quem acha que o Brasil é o cu do mundo ou ainda: às vezes o Haiti também é aqui! Nome da maracutaia: “earmark”, do verbo que significa destinar. Funcionamento: congressistas adicionam a emendas do orçamento [appropriation bills] recursos destinados a empresas ou instituições específicas para executar projetos e o dinheiro é destinado a essas empresas ou instituições sem concorrência pública. O crescimento espantoso da prática que chegou a 31 bilhões de dólares ano passado está associado ao longo período de domínio absoluto do Partido Republicano nas duas casas do congresso e a tomada de poder pelos democratas representou uma diminuição de 50% nos earmarks com a instituição da exigência de um requerimento formal por escrito [o procedimento antes era anônimo e as emendas sugeridas oralmente]. No entanto, a prática continua e não é exclusiva de um partido: um democrata, o poderoso presidente da comissão de segurança John Murtha, campeão do earmark com 166 milhõ

Circe

Circe Minha pátria está em teus olhos, meu dever em teus lábios. Peça-me o que quiseres menos que te abandone. Se naufraguei em tuas praias, se estendido em tua areia sou um porco feliz, sou teu; mais, não importa. Sou deste sol que es, meu solar está en ti. Meus lauros no teu destino, minha fazenda em teus haveres. O poema é de Gabriel Zaid, traduzido do espanhol por mim.

blogues falsos ou Jesus não mora mais aqui

Sony, Wal-Mart e outros gigantes corporativos agora resolveram fazer blogues falsos que usam como estratégia de propaganda. É por isso que eu nunca sento na minha macia mas firme cadeira Tarantelle para passear por blogues insuspeitados no meu poderoso mas gentil computador Sumsang sem antes checar as notícias certeiras e cheias de informações úteis do site www.faltadevergonhanacara.com.br. Como anda muito na moda usar frases de efeito de filmes nacionais para dar sabor e consistência a conversas gelatinosas, eu termino com "Jesus não mora mais aqui" [Central do Brasil].

Apelo épico em defesa do empreendedorismo nacional

Deixem abrir as banquinhas de mercado: são pasto hoje como foram antes pasto, óleo azeitando a máquina do estado. São baratas tontas, sonhando acordadas com os frutos amargos do trabalho cada vez mais inútil e cansado, cada vez mais feio e desesperado cada vez mais em si mesmo fechado. Deixem abrir e deixem fechar, pintem paredes e troquem telhados dessa casa inerte e imprestável: abençoados sejam todos os desocupados. Mas tenham cuidado: o passado, travestido de farsa, mora aqui ao lado.

Quando o que não se diz diz mais do que o que se diz

Na mídia aprende-se mais notando o que não foi dito do que lendo o que foi dito. Por exemplo, o deputado acusado de assassinato, Ronaldo Cunha Lima, é chamado apenas de "deputado federal" na imprensa em geral. Já outros deputados em seus momentos de notoriedade, por exemplo o "professor Luisinho" ou Devanir Ribeiro são sempre "deputados do PT". E para ser mais claro: acho que TODOS os deputados em seus momentos de notoriedade deveriam ser associados a seus partidos e também acho que esses momentos de notoriedade deveriam ser revistos com alguma constância, principalmente na época das eleicões. Meu assunto é outro: para um leitor mais atento as omissões da imprensa revelam mais do que qualquer coisa. Outro exemplo diferente: Armírio Fraga é entrevistado em grande jornal brasileiro e fala entusiasmado sobre a "revolução capitalista" no Brasil, mas ninguém pergunta a ele sobre a necessidade de quarentena para funcionários que ocuparam altos postos n

Argentina e Brasil, violência e justiça

O padre Christian Von Wernich foi condenado à prisão perpétua na Argentina por seus crimes durante a ditadura militar. Von Wernich esteve envolvido em sete assassinatos, 31 casos de tortura e 42 seqüestros. Ninguém discute a escala muito maior da violência da ditadura argentina: em apenas 7 anos foram, nas mais conservadoras estimativas, 9.000 mortos. Quem mata e tortura mais é pior, mas quem mata e tortura menos não é melhor por causa disso. Até quando as violências da ditadura militar brasileira vão ser varridas para debaixo do tapete? Execução sumária não é morte em tiroteio e tortura é tortura em quaquer lugar, inclusive nos Estados Unidos. Uma sociedade julga por dois motivos. Olhando para trás, a justiça julga e pune para compensar prejudicados e castigar os responsáveis por esses prejuízos; olhando para o futuro, a justiça julga e pune para evitar na medida do possível que os erros continuem ou se repitam. Mas uma sociedade também é julgada pelas gerações seguintes, por sua cova

Recomendação

Quer conhecer uma poeta excelente? Rosario Castellanos: Consejo de Celestina Desconfía del que ama: tiene hambre, no quiere más que devorar. Busca la compañía de los hartos. Esos son los que dan. Diálogos con los hombres más honrados, 1972

Poesia Contemporânea

Quando algumas pessoas falam sobre poesia [ou prosa] contemporânea no Brasil, sinto um certo ranço saudosista, dos bons tempos em que a produção era bem menor e os grandes mestres modernistas escreviam seus clássicos. Só que esse saudosismo é alimentado por uma visão altamente distorcida do nosso passado recente. A produção não era tão pequena assim e muita porcaria foi escrita naquela época e depois completamente esquecida e os tais clássicos modernistas não eram absolutamente vistos assim. Há quem se queixe da falta de “direção” da poesia contemporânea e critique o “ecletismo” em vigor. Essa tal “direção” tão clara que as pessoas vêem na produção anterior é um construção feita posteriormente por pessoas que tinham um certo [não necessariamente suficiente] distanciamento e fizeram uma seleção, um corte na produção variadíssima da época. Nada contra fazer seleções ou cortes, mas não dá para achar que a seleção representa o todo. Ou alguém aqui acha mesmo que absolutamente ninguém escre

Disfarce para a Farsa

Os japoneses têm muito medo da violência, ainda que os níveis de criminalidade no Japão sejam um sétimo dos do Estados Unidos, onde aliás as pessoas também têm medo da violência, ainda que a criminalidade no Estados Unidos tenha diminuído muito, a níveis muito abaixo da criminalidade do Brasil, onde as pessoas também têm muito medo ainda que os níveis de homicídios tenham caído muito também mas, voltando aos japoneses, eles criaram soluções sensacionais para que o cidadão comum se proteja: uma saia que se transforma em um disfarce de máquina de vender refrigerantes, uma mochila que se transforma em disfarce de extintor de incêndio e até uma bolsa que se disfarça de tampa de bueiro! [veja os slides do New York Times no link abaixo] http://www.nytimes.com/slideshow/2007/10/20/world/20071020_JAPAN_SLIDESHOW_index.html No caso brasileiro, eu proporia que a classe média amedrontada adaptasse a idéia dos japoneses e se disfarçasse também. Mas, como tampas de bueiro e máquinas de vender refr

Da série os gênios da raça I

Olhem que beleza: “Vejo o mercado de educação como um supermercado. Estou vendendo um produto. Só que, em vez de vender tomate, meu produto é um assento para o aluno estudar.” Economista Marcelo Cordeiro, da Fidúcia Asset Management, especializado em buscar investimentos para o setor de educação em depoimento para Carta Capital. Nosso lobo em pele de Marcelo Cordeiro vende "assento", ou seja, seu cliente preferencial é a parte da anatomia que alguns chamam de preferência nacional. Melhor eu ser mais explícito porque posso estar sendo lido por algum aluno das instutuições servidas pelo senhor Lobo em Pele de Cordeiro: a sua bunda, meus caros, é o foco da mira dessa gente! Tire o seu da reta antes que seja tarde demais! Ou como diria o Chacrinha, "Olha o tomate, aí!"

É duro ter que dizer o óbvio

Se Cidade de Deus centra foco nos traficantes e Tropa de Elite na polícia, agora só nos falta um terceiro filme para completar a trilogia: um que fale da maioria da população que vive em favelas e bairros pobres brasileiros, que não tem envolvimento direto com crime nem polícia embora sofra as consequencias da brutalidade de AMBOS. É duro ter que dizer o óbvio, mas o óbvio não aparece em muitos posts raivosos espalhados por aí, depoimentos de gente frustrada que vocifera contra o terceiro mundo em que vive sem perceber que o seu discurso olho-por-olho dente-por-dente é que é verdadeiramente subdesenvolvido: Bandido é bandido mesmo, e por isso deveria ser preso, julgado e condenado. Quem tortura ou elimina sumariamente quem seja, junta-se aos bandidos que supostamente combate.

Mash-up: Morte sem fim

"¡Hazme, Señor, Un puerto en las orillas de este mar!" Eis o meu poema, pesadelo surdo da carne, que queima, punciona, rói, sangra. Flor que se abre pra dentro, estéril, cheia de mim, repetindo; presa na epiderme que me define, cheia de mim. Eu, seco como a sede do gesso, padecendo a fome do ar que respira, por um Deus inalcançável, rancor da molécula. Pântano de espelhos, solidão em chamas. Surdo pesadelo da carne. Ilhas de monólogos sem eco. Topo dum tempo paralítico. Ínfimo do olho que segue o curso da luz pela pele da gota de orvalho. Flor que se abre para dentro, afogada n’água estrangulada no copo. Poema que se afoga na garganta – Resta o poço ressecado, esgar de agonia: o poema.

Sobre o amor

Uma aura quase cheiro de desastre: dois olhos duros amarelos de gato olhando pra mim e o meu desejo inato de esconder pelo menos uma beirinha da verdade embaixo da manga, do sapato, me estudando com sobriedade especuladora e a intenção atenta e indiferente dum bebê (muito além desse sonoro peido humano, tão comum hoje em dia, que atende pelo nome de audácia). E eu mal-acompanhado por um desses dessa tribo de gente que mora na beira do mar, mas só sabe comer sardinha enlatada que me atira logo, cheio de certeza: “esse tipo aí eu conheço é pelo cheiro.” Eu retruquei afiado e seco como um jacaré: “caráter é caroço e casca: punhal de que não se vê o cabo.” Meu mau-companheiro aceitou meu truco e pediu um longo seis em forma de aparte: “Eu digo e repito quantas vezes você quiser ouvir o que eu sempre digo desde que virei gente: esse negócio de amor é uma bela duma balela. É tanta gente por aí dizendo que ama isso, que ama aquilo, que ama não-sei-o-quê, mas a gente só ama mesmo só o que aind

Ô sujeito mais objeto, seu!

Pior do que o sujeito ter que se sujeitar a essa matilha de hienas lobotomizadas que inventam esses concursos de contos em que os contos precisam ter a palavra cactus e 1500 caracteres e coisas do tipo é o sujeito respirar fundo e se sujeitar mesmo assim e ver seus contos rejeitados! Pior do que isso a matilha de gorilas da objetividade querer obrigar o sujeito a produzir papel que ninguém nem abre muito menos lê. Mas pelo menos esses te pagam… Ô sujeito mais objeto, seu!

Boas oportunidades de investimento

Boas oportunidades de investimento O governo mexicano, com a ajuda do governo americano, acelerou o número de apreensões de drogas e prendeu gente um pouco mais graúda do tráfico. O resultado foi que o preço do papelote subiu 24% para quase US$120. No atacado o produto registra hoje preços de $30.000 dólares por quilo. São as leis da oferta e da demanda. A mão invisível do mercado já exibiu comportamento semelhante no passado. A demanda continua firme, então logo aparece gente nova com disposição para o negócio para preencher o vácuo deixado pelos cartéis desmantelados. De Medellin e Cali para Sinaloa e Tijuana para onde? Rio e São Paulo? Lima? Santiago? Quem se habilita? Ah, essa notícia aparece logo antes de Bush levar ao congresso uma proposta de um pacote de ajuda de 1 bilhão de dólares para “ajudar o México a combater os narcotraficantes.” Mais uma grande oportunidade de negócio…

Gosta de cinema?

Gosta de cinema? Não suporta a imbecilidade rasa da sub-crítica dos jornais com suas estrelhinhas e bonequinhos e uma conversa mole de quem não entende patavinas de cinema? Então experimente a revista eletrônica Contracampo: http://www.contracampo.com.br/

Brasil 4 X Argentina 0 (Guayaquil 1981)

O tempo faz da história uma espetacular peça de ficção imposta pelos entusiastas do senso comum e um poeta [o mais insuspeitado no caso] pode servir de inesperado documento para baixar a bola dos ficcionistas de plantão. Um doce para quem souber quem era o técnico da época... Brasil 4 X Argentina 0 (Guayaquil 1981) Quebraram a chave da gaiola e os quadros-negros da escola. Rebentaram enfim as grades que os prendiam todas as tardes. Nos fugitivos é a surpresa, vendo que tomaram-se as rédeas (dos técnicos mudos, mas surpresos, brancos, no banco, com medo). Estão presos os da outra gaiola, que não souberam abrir a porta: ou que não o puderam, contra o jogo dos que estavam fora, soltos. De certo também são capazes de idênticas libertinagens uma vez soltos, porém como se liberar daquele tronco em que os aprisionaram os táticos argentinos, também gramáticos. E enquanto os fugitivos seguem com a soltura, a sem lei que os regem, nos bancos é uma indignação: dos que vão vencendo e dos q

Você sabia?

Você sabia: que 60% dos homicídios no Brasil acontecem por motives fúteis? O medo é universal, mas as vítimas da violência, não. Você sabe quem está morrendo? Você sabia que o número de homicídios no Brasil caiu nos dois últimos anos? Visita o site www.soudapaz.org e pára de ficar reclamando da violência sem fazer nada!

Mais um jogado no buraco negro dos prazos vencidos

Repórter da revista Caras toma LSD e escreve ensaio para aula de história: A família é instituição valorizada no Brasil. O país não seria o que é sem os clãs que escreveram sua história: os Maias, Agripino, Tim e César; os Mottas, Sérgio, Zezé e Ed; os primos Mário, Oswald, Eugénio, Aloysio e Carlos Drummond de Andrade; Milton e Nílton Santos, fundadores com Sílvio Abravanel da cidade de Santos e do aeroporto Santos Dumont; Nelson, Dercy e Milton Gonçalves; os talentosos Afonso Romano, Dedé e Telê Santana; Tônia, Tião e Beto Carreiro; Hebe, Wanessa e Zezé di Camargo; o ex-presidente FH e seus pais Elizeth e Newton Cardoso; o magistrado Mário Vianna e seus filhos, Tião, Hermano e Herbert; o casal Lima e Regina Duarte; os Gomes, Mário, Ciro e Dias; os Meireles, Cecília, Fernando e Henrique; os de Morais, Vinícius e Antônio Ermírio. Mas ninguém supera a família Ramos e vale a pena recontar aqui a sua saga. Tudo começou quando o Cacique de Ramos ancorou sua caravela no piscinão que hoje le

Tudo começa com o Cacique

Dizem as pesquisas que a família é a instituição mais valorizada no Brasil. Mas a importância da família em nossa cultura vai muito além. Nosso país não seria o que é sem os vários clãs que escreveram nossa história. Alguns exemplos bem conhecidos: - os irmãos Agripino, Tim e César Maia; - a família Motta, do inesquecível Sérgio, sua digníssima Zezé e seu filho Ed; - os primos Mário, Oswald and Carlos Drummond; - a dupla Milton e Nílton Santos, depois completada pelo eternamente jovem Sílvio; - o casal sensação Nelson e Dercy Gonçalves e seu filho, o ator Milton; - os multi-talentosos Dedé, Telê e Afonso Romano de Santana; - Tônia e Beto Carreiro; - Hebe e Zezé di Camargo; - o ex-presidente acadêmico Fernando Henrique e seus pais Elizeth e Newton Cardoso; - o magistrado Mário Vianna e seus filhos Tião e Herbert; - Lima e Regina Duarte; - a família Gomes, com Mário, Cid e Dias; - os poderosos Meireles, Cecília, Fernando e Henrique;

Coyote 15 - Inverno 2007

Saiu a Coyote e lá estou eu! Ainda doutorando - agora sou doutor - e ainda morando em Belo Horizonte - agora estou em New Haven, mas o blogue continua o mesmo... Feliz é pouco: ser reconhecido por quem a gente admira é motivo de orgulho!!! Principalmente levando em consideração que eu não conheço ninguém lá pessoalmente nem por e-mail.

Soneto da fúria

"Porém meu ódio é o melhor de mim" A minha fúria só viu pasto de onde come a sua ira, que à distância zero parecia merda pura, contra a qual achava que lutava a luta justa. Injusta e errada – eu assumo – (não é pura, a merda, nem é tudo) é ainda a minha mesma fúria o motor maior que me comove. Que a minha fúria, com a sua crosta, açucarado rancor profundo repetente na sua sina pobre de chocar o medo em sua cova, não me impeça a comunhão com o mundo.

Certificado de Impunidade

Coisa que escrevi faz tempo mas... “Nós não medimos nem pesamos esforços no sentido de promover um ambiente o mais propício possível ao desenvolvimento aqui do nosso município. É justamente com esse intuito que temos lançado uma série de políticas públicas e medidas administrativas para simplificar, agilizar, otimizar e desburocratizar os nossos processos, sempre priorizando a eficiência e a transparência em um ambiente propício ao fomento dos mais diversos empreendimentos, buscando uma máxima diversificação dentro das nossas potencialidades e das nossas vocações naturais. E agora, embuídos desse espírito, estamos aqui hoje para anunciar que a nossa administração mais uma vez sai na frente e tem o orgulho de ser a pioneira na aplicação de uma idéia que, com toda a certeza, logo se espalhará por todo o país: o Certificado de Impunidade®. Como quase todas as grandes idéias que vêm para mudar, o nosso Certificado de Impunidade® surgiu de uma constatação muito simples: ano após ano fortuna

O lapso verbal e a guerra do Iraque

Os freqüentes foras de Bush, produto da óbvia dificuldade do presidente Americano em se expressar quando fala de improviso frequentemente trocando uma palavra por outra com pronúncia semelhante e sentido diferente, já renderam algumas coletâneas de “ditos” do presidente [George W. Bushisms: The Slate Book of Accidental Wit and Wisdom of our 43rd President, de Jacob Weisberg]. O tratamento da imprensa dado aos lapsos verbais do homem que veio do Texas varia muito de país para país. Enquanto jornais brasileiros deram grande destaque ao fato de que Bush chamara os australianos [dos últimos aliados fiéis dos americanos no Iraque] de alguma coisa próxima de “Australíacos”, o New York Times menciona o fato brevemente em reportagem sobre a visita lá nos confins do caderno internacional do jornal. Não é simplesmente uma questão de proteger a figura presidencial, uma vez que o New York Times tornou-se um crítico veemente de Bush [depois de apoiar, como aliás toda a mídia americana, a invasão ir

KERVOKIAN2000™

Mote: Fernanda Montenegro: “A única opção para fugir do envelhecimento é a morte.” Glosa: Você detesta envelhecer, não é mesmo? Você luta com as forças que tem, mas nada parece capaz de realmente parar com o envelhecimento, não é mesmo? Cada vitória contra o dragão da velhice não passa de uma ilusão fugaz, não é mesmo? Dali a pouco as águas do tempo vem e levam as baragens que construímos com tanto zelo consigo e aí então o espelho implacável nos diz que mais uma vez perdemos… Quem não daria tudo para dar um fim definitivo a esse terrível processo de enfeiamento: os músculos cada vez mais flácidos, as gorduras cada vez mais despudoradamente localizadas, as rugas cada vez mais fundas, as papadas despejando-se em dobras, os cabelos caindo aos tufos ou enbranquecendo ou então misteriosamente migrando para dentro das orelhas e narinas? Pois nós já temos a resposta para os seus problemas: adquira hoje mesmo nosso KERVOKIAN2000™ pelo telefone ou pela internet e lhe enviaremos pelo correio um

Notícias do Império 1

No Brasil costumam me perguntar como vão os americanos com esse clima todo de guerra ao terrorrismo. Nunca sei bem o que responder, mesmo porque é difícil precisar o que sejam "os americanos" quando se vive no meio deles - são tantos e tão diferentes quando os brasileiros... Bom, mas ainda dá para dar um exemplo concreto de como anda o clima por aqui. Em vários lugares, suponho eu "estratégicos" (estacionamentos, cabines de cobrança de pedágio nas estradas), vê-se placas pedem às pessoas que reportem qualquer atividade suspeita à polícia. Pois bem, outro dia aqui em New Haven viram um casal "vestido de negro" em atitude suspeita: a mulher do casal espalhava um pó branco no estacionamento de uma loja de móveis imensa, uma multinacional sueca meio tipo TokStok, a Ikea. Chamaram a polícia que chamou os bombeiros que chamaram uma equipe especialmente treinada para lidar com materiais perigosos que chamou um grupo de combate a atos de terrorrismo e mais uns tan

Melodrama

Acabaram-se as minhas longas férias e volto a escrever aqui pelo menos duas vezes por semana. Enzo, a peça que vimos nas aulas de introdução à literatura inglesa era um melodrama inglês do século XIX, "A Drunkard's Dilemma" ou em bom português "O dilema de um bêbado". Muitas obras inglesas importantes como os romances de Walter Scott caíram na boca do povo na Inglaterra graças a centenas de versões teatrais melodramáticas. Como todo melodrama que se preze "O dilema de um bêbado" tem uma mocinha casta e honesta a níveis absurdos, vilão cruel e libidinoso que esfrega as mãos em júbilo enquanto trama suas maldades, um velho pai bondoso mas impotente pelo vício e finalmente um jovem belo e nobre que salva a mocinha. É despudoradamente divertido em seu exagero despudoradamente adolescente e ao mesmo tempo mexe com o espectador de forma visceral, sem permitir as defesas habituais da razão, essa senhora respeitável que insiste em nos convencer que tudo nesse

O ignorante, o culto e o pobre de espírito

Qual é a fronteira entre o ignorante e o culto? Quem é pobre de espírito nunca se faz essa pergunta porque tem a si mesmo como a medida da ignorância e da cultura de todas as pessoas. Para essa figura tão comum hoje em dia saber quem é ignorante é matéria simples: o ignorante é aquele que não sabe o que ele sabe. O pobre de espírito aprende alguma coisa de manhã e à tarde já despreza todos que ainda não aprenderam uma coisa assim tão “básica”. E assim, à medida em que aprende mais e mais, esse pobre de espírito torna-se cada vez mais cheio de si e tem cada vez mais desprezo por aqueles que ele chama de ignorantes. Para ele é sempre perda de tempo explicar o que ele já sabe; é coisa de quem precisa “rebaixar-se” ao nível da patuléia ignorante. E como se comportam esses pobres de espírito frente aos que sabem mais do que eles? Nesse caso o exército de imbecis se divide em dois grupos: os idiotas talvez menos piores idolatram fulano por ser “incrivelmente erudito” e os outros, idiotas mai

A natureza humana

A natureza humana A ideia é simples. Dois voluntários que não se conhecem chegam ao laboratório no horário marcado para um experimento sobre memória anunciado no jornal da cidade. Os dois assinam documentos de obrigações contratuais típicos de experiências desse tipo. O pesquisador que os recebe então tira na sorte os papéis dos dois envolvidos: você será o instrutor e o outro sujeito, que vai para uma outra sala contígua, o aprendiz. Vocês dois se comunicarão através de um interfone. O aprendiz tem seus braços amarrados e um eletrodo fixado no seu pulso direito. Você lê de uma lista de perguntas que testam a capacidade de memorização do aprendiz. Quando o aprendiz acerta você é instruído pelo pesquisador a dizer-lhe algo encorajador como “bom” ou “isso mesmo” e quando ele erra você deve puxar uma das várias alavancas de um aparato sofisticado em cima da sua mesa. A primeira alavanca produz um pequeno choque de 15 volts no braço do aprendiz. O aparato tem trinta alavancas que indicam c

Sobre Violência

Olha, tem gente que acha que o inferno de violência pelo qual a gente passa no Brasil hoje é novidade. Eu acho que ele sempre existiu, mas que agora ele foi expandido até as classes médias que se sentiam acima do resto (da maioria) da população. Chequem as estatísticas: os assassinatos em uma metrópole qualquer no Brasil em um fim de semana e depois procure saber de que bairros vêm as vítimas e compare a cobertura desproporcional da imprensa quando morre alguém da periferia e quando morre alguém de um "bairro bom". Em 1969, um ano depois do massacre da praça de Tlatelolco, quando o governo metralhou manifestantes e quem mais estivesse por ali num gesto de violência que derrubou as últimas ilusões dos próprios mexicanos com relação a sua revolução, o poeta mexicano, José Emilio Pacheco, escreveu esse poema, que fala dessa violência brutal como uma "tradição" peculiar, quase um carma. Acho que tudo isso serve para nós também: Tierra La honda tierra es la suma de los

Quando é que nos vamos acabar com a nossa lei seca?

Beira-Mar [Al Capone] já dizia: Eu ganho dinheiro suprindo uma demanda pública. Se eu desrespeito a lei, meus consumidores, que são centenas das melhores pessoas do Rio de Janeiro [Chicago], são tão culpadas como eu. A única diferença entre nós é que eu vendo e eles compram. Todo mundo me chama de traficante de drogas [de bebidas]. Eu me chamo um homem de negócios. Quando eu vendo droga [bebida], é tráfico. Quando meus clientes servem essa droga [bebida] em bandejas de prata no Leblon ou na Barra da Tijuca [Lake Shore Drive], é hospitalidade. E quando prenderam Al Capone, veio outro Al Capone no seu lugar. E quando morreram o primeiro e o segundo veio um terceiro Al Capone. Até que a lei seca foi abolida. Quando é que nos vamos acabar com a nossa lei seca?

O automóvel do poema de Zaid

O poema de Gabriel Zaid que eu postei foi começado em 1974, se não me engano. Assim o automóvel que sai do mar pode assumir pelo para mim conotações mais obscuras, relacionadas à violência bruta que explode hoje mas que já implodia o Brasil desde aquela época. Se alguém disser que aquilo tudo (torturas, assassinatos, prisões, exílio) é passado e não precisa ser rememorado, saiba que a extrema violência policial, a brutalidade desumana das prisões que só piora a violência social cada vez mais chocante das ruas, coisa que preocupa tanto ao brasileiro médio hoje em dia, não começou, mas avançou muito naquele período de repressão e autoritarismo. Toda aquela gente treinada naqueles anos tristes para fazer exatamente o que aparece no filme "Batismo de Sangue" e foi descrito em detalhes no livro "Brasil: nunca mais" anda solta por aí até hoje, trabalhando e possivelmente treinando outras pessoas.

Gabriel Zaid em Ipanema

Este poema é para fazer par com o poema de Carlos Pellicer que postei aqui sobre o Rio de Janeiro. A revista Letras Libres tem um artigo (disponível online) do prórpio Zaid explicando a composição do poema que começou a ser escrito nos espaços em branco do JB (Amílcar de Castro ficaria feliz com isso, suponho). IPANEMA El mar insiste en su fragor de automóviles. El sol se rompe entre los automóviles. La brisa corre como un automóvil. Y de pronto, del mar, gloriosamente, chorreando espuma, risas, desnudeces, sale un automóvil.

Sobre o futebol

Sobre o futebol Por mais que a gente aprecie o futebol pela sua beleza, como esporte ele pode ser tão bonito (ou feio) e emocionante (ou tedioso) como o tênis ou o basquete ou outro esporte qualquer. O brasileiro obviamente acompanha futebol antes de tudo por causa desse comprometimento visceral com um time de futebol que, seja qual for, se transforma para ele em uma instituição sagrada. Normalmente esse comprometimento acontece na infância e é um ato de integração na família ou às vezes um gesto de rebeldia contra ela. Claro que é algo completamente irracional. Tão irracional quanto chorar pela morte de um cantor ou ator de cinema qualquer que a gente nunca conheceu pessoalmente e tão fundamentalmente absurdo como acreditar em um Deus especifico. Mas está claro faz tempo que não somos 100% racionais de qualquer jeito, não é mesmo? Torcer por um time de futebol (na alegria e na tristeza, na vitória e na derrota até que a morte nos separe, amem) é uma experiência coletiva intensa em um

Desabafo em face das declarações de Matilde Ribeiro à BBC ou o fardo do homem branco

A Folha de São Paulo me fornece o mote: A ministra Matilde Ribeiro, titular da Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial (Seppir), está incitando o ódio racial. É essa a opinião da antropóloga Yvonne Maggie, professora titular do departamento de antropologia cultural do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a respeito das declarações da ministra publicadas na terça passada. Questionada sobre se, no Brasil, também há racismo de negro contra branco, como nos EUA, Matilde Ribeiro disse: "Acho natural [que haja]". São Paulo, domingo, 01 de abril de 2007 E eu trago a glosa: Desabafo em face das declarações de Matilde Ribeiro à BBC ou o fardo do homem branco Eu não agüento mais ser discriminado no Brasil só por ser branco. Não se passa uma semana sem que eu sofra com o preconceito contra o meu grupo étnico, que dizem que é uma minoria por aqui, mas isso é só porque tem muito branco por aí que prefere fingir que é

Desabafo em face das declarações de Matilde Ribeiro à BBC ou o fardo do homem branco

A Folha de São Paulo me fornece o mote: A ministra Matilde Ribeiro, titular da Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial (Seppir), está incitando o ódio racial. É essa a opinião da antropóloga Yvonne Maggie, professora titular do departamento de antropologia cultural do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a respeito das declarações da ministra publicadas na terça passada. Questionada sobre se, no Brasil, também há racismo de negro contra branco, como nos EUA, Matilde Ribeiro disse: "Acho natural [que haja]". São Paulo, domingo, 01 de abril de 2007 E eu trago a glosa: Desabafo em face das declarações de Matilde Ribeiro à BBC ou o fardo do homem branco Eu não agüento mais ser discriminado no Brasil só por ser branco. Não se passa uma semana sem que eu sofra com o preconceito contra o meu grupo étnico, que dizem que é uma minoria por aqui, mas isso é só porque tem muito branco por aí que prefere fingir que é

Dinossauros

Hoje eu vou fazer diferente: nada de escrever tudo, depois revisar e aí depois postar no blogue. Hoje eu vou na lata. Tem dias em que baixa o desânimo e daí para o desespero é um pulo. Minha vida sempre foi marcada por esses longos períodos desde quando eu me lembro. Só fui diagnosticado e tratado como depressivo quando a crise chegou ao que nossa sociedade considera o único pecado imperdoável para um ser humano: quando eu não conseguia sair da cama e fazer dinheiro, há cinco anos. Um sofrimento para mim e para todo mundo que convivia comigo – minha esposa e meu filho. Um sofrimento que eu só consegui superar com a ajuda de remédios. Mas a coisa mais estúpida do mundo é pensar (como fazem muitas pessoas) que esse estado é uma doença que basta extirpar com uma boa dose disso ou daquilo no cérebro. Se o que eu tenho e tive todas as outras vezes é alguma coisa que chamam de depressão, posso afirmar: NINGUEM fica deprimido sozinho, independentemente do que se passa a sua volta. Sua tendênc

De como a raiva bem articulada e bem dirigida pode dar em um bom poema

Coisa mais fácil no mundo de hoje é viver com raiva. Como diz um adesivo de carro daqui: "se você não está indignado, é por falta de informação." Mas indignação sozinha não faz poesia. Jaime Sabines sabia ter raiva e quando acertava a mão... acertava a mão: Cantemos al dinero Cantemos al dinero con el espíritu de la navidad cristiana. No hay nada más limpio que el dinero, ni más generoso, ni más fuerte. El dinero abre todas las puertas; es la llave de la vida jocunda, la vara del milagro, el instrumento de la resurrección. Te da lo necesario y lo innecesario el pan y la alegría. Si tu mujer está enferma puedes curarla, si es una bestia puedes pagar para que la maten. El dinero te lava las manos de la injusticia y el crimen, te aparta del trabajo, te absuelve de vivir. Puedes ser como eres con el dinero en la bolsa, el dinero es la libertad. Si quieres una mujer y otra y otra, cómpralas, si quieres una isla, cómprala, si quieres una multitud, cómprala. (Es el verbo más limpio