A Folha de São Paulo me fornece o mote:
A ministra Matilde Ribeiro, titular da Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial (Seppir), está incitando o ódio racial.
É essa a opinião da antropóloga Yvonne Maggie, professora titular do departamento de antropologia cultural do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a respeito das declarações da ministra publicadas na terça passada.
Questionada sobre se, no Brasil, também há racismo de negro contra branco, como nos EUA, Matilde Ribeiro disse: "Acho natural [que haja]".
São Paulo, domingo, 01 de abril de 2007
E eu trago a glosa:
Desabafo em face das declarações de Matilde Ribeiro à BBC ou o fardo do homem branco
Eu não agüento mais ser discriminado no Brasil só por ser branco. Não se passa uma semana sem que eu sofra com o preconceito contra o meu grupo étnico, que dizem que é uma minoria por aqui, mas isso é só porque tem muito branco por aí que prefere fingir que é negro. Negam a própria raça! Imagine que outro dia eu deixei um amigo meu mais escuro que eu na porta do estádio de futebol e fui estacionar o carro e, quando eu cheguei na fila para entrar no estádio, um sujeito na fila me gritou “ei, branquelo azedo, isso aqui não é jogo de golfe, não!” E agora vem essa moça do governo incitar ainda mais o ódio contra o meu povo! Absurdo!
O dono da empresa onde eu trabalho já não queria me dar emprego por causa do meu cabelo liso e dos meus olhos claros. Quando ele me contratou disse que fez isso só porque queria me dar uma chance de provar que essa história de que “branco não gosta de trabalhar” é balela. O gerente do banco onde eu tenho conta também me olha com cara de poucos amigos; outro dia veio com um papo estranho de que não era comum ver um branco como eu com uma conta com tanto dinheiro assim naquele banco. E eu não posso pegar uma batida policial, de carro ou de ônibus, que logo me vem um policial, muitas vezes até mais branco que eu, me pedir para ver meus documentos e não sei o quê mais. Uma humilhação. E essa tal ministra deve achar tudo isso muito natural.
Um professor da escola do meu filho (que nem é tão branco assim) vive implicando com o menino, dizendo que “o ariano é assim mesmo, preguiçoso e fofoqueiro, e que os arianos em geral não têm mesmo jeito para o estudo.” Quando meu filho reclamou, sabe o que ele disse? “No dia em que o Brasil tiver um presidente branco, eu mudo de idéia.” E quando meu filho disse para ele que o FHC era branco, o professor disse para ele que todo mundo estava careca de saber que o FHC não era branco; que o próprio FHC tinha admitido que ele tinha um pé na cozinha. Quando eu fui reclamar pessoalmente com a diretora da escola, sabe o que ela me disse? Que eu era um branco com complexo e que eu estava ensinando aos meus filhos a se sentirem inferiorizados. E agora essa mulher preconceituosa vem dar uma entrevista no estrangeiro para exacerbar o ódio racial ainda mais.
Minha esposa, que tinha os cabelos mais lisos que os meus, agora frisou o cabelo. Meu filho mais novo prefere andar de cabelo raspado só para não mostrar a cabeleira escorrida dele e meu outro filho, o mais velho, vive tomando sol só para “melhorar a aparência” e agora me disse que quer fazer uma operação plástica para achatar o nariz! Ele diz que duvida que uma dessas empresárias, políticas, gerentes de empresa, chefes de repartição, todas mulheres negras como a ministra, iriam dar emprego para um homem como ele, branco que nem papel e ainda por cima com o cabelo todo escorrido. Isso mesmo com todas as qualificações que ele tem. Nesse Brasil em que os negros já dominam tudo, ministra, onde é que a senhora quer chegar?
E ainda por cima nós somos todos louros de olhos azuis!
A ministra Matilde Ribeiro, titular da Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial (Seppir), está incitando o ódio racial.
É essa a opinião da antropóloga Yvonne Maggie, professora titular do departamento de antropologia cultural do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a respeito das declarações da ministra publicadas na terça passada.
Questionada sobre se, no Brasil, também há racismo de negro contra branco, como nos EUA, Matilde Ribeiro disse: "Acho natural [que haja]".
São Paulo, domingo, 01 de abril de 2007
E eu trago a glosa:
Desabafo em face das declarações de Matilde Ribeiro à BBC ou o fardo do homem branco
Eu não agüento mais ser discriminado no Brasil só por ser branco. Não se passa uma semana sem que eu sofra com o preconceito contra o meu grupo étnico, que dizem que é uma minoria por aqui, mas isso é só porque tem muito branco por aí que prefere fingir que é negro. Negam a própria raça! Imagine que outro dia eu deixei um amigo meu mais escuro que eu na porta do estádio de futebol e fui estacionar o carro e, quando eu cheguei na fila para entrar no estádio, um sujeito na fila me gritou “ei, branquelo azedo, isso aqui não é jogo de golfe, não!” E agora vem essa moça do governo incitar ainda mais o ódio contra o meu povo! Absurdo!
O dono da empresa onde eu trabalho já não queria me dar emprego por causa do meu cabelo liso e dos meus olhos claros. Quando ele me contratou disse que fez isso só porque queria me dar uma chance de provar que essa história de que “branco não gosta de trabalhar” é balela. O gerente do banco onde eu tenho conta também me olha com cara de poucos amigos; outro dia veio com um papo estranho de que não era comum ver um branco como eu com uma conta com tanto dinheiro assim naquele banco. E eu não posso pegar uma batida policial, de carro ou de ônibus, que logo me vem um policial, muitas vezes até mais branco que eu, me pedir para ver meus documentos e não sei o quê mais. Uma humilhação. E essa tal ministra deve achar tudo isso muito natural.
Um professor da escola do meu filho (que nem é tão branco assim) vive implicando com o menino, dizendo que “o ariano é assim mesmo, preguiçoso e fofoqueiro, e que os arianos em geral não têm mesmo jeito para o estudo.” Quando meu filho reclamou, sabe o que ele disse? “No dia em que o Brasil tiver um presidente branco, eu mudo de idéia.” E quando meu filho disse para ele que o FHC era branco, o professor disse para ele que todo mundo estava careca de saber que o FHC não era branco; que o próprio FHC tinha admitido que ele tinha um pé na cozinha. Quando eu fui reclamar pessoalmente com a diretora da escola, sabe o que ela me disse? Que eu era um branco com complexo e que eu estava ensinando aos meus filhos a se sentirem inferiorizados. E agora essa mulher preconceituosa vem dar uma entrevista no estrangeiro para exacerbar o ódio racial ainda mais.
Minha esposa, que tinha os cabelos mais lisos que os meus, agora frisou o cabelo. Meu filho mais novo prefere andar de cabelo raspado só para não mostrar a cabeleira escorrida dele e meu outro filho, o mais velho, vive tomando sol só para “melhorar a aparência” e agora me disse que quer fazer uma operação plástica para achatar o nariz! Ele diz que duvida que uma dessas empresárias, políticas, gerentes de empresa, chefes de repartição, todas mulheres negras como a ministra, iriam dar emprego para um homem como ele, branco que nem papel e ainda por cima com o cabelo todo escorrido. Isso mesmo com todas as qualificações que ele tem. Nesse Brasil em que os negros já dominam tudo, ministra, onde é que a senhora quer chegar?
E ainda por cima nós somos todos louros de olhos azuis!
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