Skip to main content

Posts

Showing posts from November, 2020

Diário de Babylon: O condado de Lowndes

 O Alabama é um dos cinco estados financeiramente mais pobres dos Estados Unidos. Uma das partes mais pobres do estado é o chamado cinturão negro [Black Belt], onde antes se cultivava algodão com mão de obra escrava e com meeiros miseráveis e onde agora ainda se cultiva algodão com muitas máquinas e trabalhadores sazonais. Emprego naquele meio rural é uma raridade. 80% dos habitantes do cinturão negro no Alabama não tem esgoto - o nível nacional nos meios rurais é de 20%. O estado simplesmente exige que eles "invistam" em sistema de fossa sépticas - uma bagatela de 20.000 dólares, mais do que a renda anual da maioria das pessoas ali. Não possuir uma fossa funcional expõe o morador a multas sucessivas de 500 dólares cada, despejo e até prisão. E não se brinca com isso: eu mesmo já experimentei na carne o que é viver num estado republicano que "incentiva a responsabilidade individual" - esqueci de pagar uma multa do meu carro e fui surpreendido com a notícia de que ha

Quando o presente ilumina o futuro

 Normalmente pensamos que o passado pode iluminar questões importantes do presente, mas o que aconteceu no Brasil em 2016 iluminou para mim o que aconteceu em 1964 e certas operações cosméticas que foram feitas a partir do fim da ditadura com as manifestações pedindo eleições diretas para presidente. Percebi como foi amplo o apoio ao golpe militar de 1964, como para cada crônica crítica de Carlos Heitor Cony havia dezenas de notas e colunas mais ou menos explicitamente apoiando o fim da "confusão" do governo Goulart, desde manchetes e editoriais de primeira página francamente indecentes até muxoxos e indiretas em cartas privadas de modernistas famosos. Um golpe, militar e/ou parlamentar,  se constrói primeiro assim, na opinião pública, de forma metódica. O da Dilma foi sendo construído desde o começo do governo Lula, até que uma situação econômica desfavorável fornecesse o combustível necessária para a arrancada final: a farsa sexista, tão bem resumida no voto impotente e ind

Alguns esclarecimentos sobre o sistema eleitoral americano:

Já que virou moda acompanhar a eleição americana passo a passo roendo as unhas, faço alguns lembretes para o "torcedor" brasileiro: 1. Cada candidato nos EUA disputa em um distrito. Ali ou ele ganha ou perde. Em outras palavras: perder com 49.99% dos votos ou com 1% dos votos dá na mesma. Cinco bilhões de votos não valem nada se seu oponente conseguir 5.000.000.001. 2. Esse sistema de "tudo ou nada" cria um ilusão de ótica simplificadora, com estados azuis e estados vermelhos, como se republicanos fossem uma minoria ínfima na Califórnia [são quase 4 milhões de votos para Trump] e democratas na Louisiana fossem ETs [mais ou menos 4 em cada dez eleitores votaram em Biden]. Podem conferir: o candidato a presidente derrotado teve pelo menos um terço do eleitorado no tal estado onde ele supostamente perdeu de lambada. 3. Quando você mora num estado [ou num distrito] em que seus adversários têm ganhado sempre com uma margem, digamos, de uns 10%, o sistema do "tudo ou

Viver no paraíso neo-liberal

Viver nos Estados Unidos num estado completamente republicano é assim: passamos já quase uma SEMANA no escuro e no frio s/ energia elétrica [e consequentemente sem internet] em casa por causa de uma chuva com gelo das que eu vivi pelo menos dez vezes por ano no Nordeste dos EUA [que está longe de ser o lugar com o pior clima de inverno nos EUA]. Ficamos todos fingindo que a culpa foi da tal "terrível" chuva, mas os serviços públicos estão todos privatizados e as empresas estão completamente livres para sucatear a infraestrutura e oferecer serviços de péssima qualidade em nome do lucro fácil. Na universidade pública, administrada por um conselho indicado pelos governadores republicanos, e cada vez mais dependente de recursos privados, seguimos com as nossas atividades normalmente, cortando e encarecendo o seguro de saúde dos funcionários mais vulneráveis [em nome da "competitividade"] enquanto criamos novas "iniciativas" para "vender melhor nossa pesqu