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Poesia Portuguesa: Alberto Caeiro

Foto Minha: Água em Norman Deslumbramento foi o que eu senti quando li Alberto Caeiro, essa face mais luminosa de Fernando Pessoa. Se eu pudesse escrever como eu quisesse - uma triste impossibilidade, porque a gente não escreve o que quer como quer, a gente escreve o que dá conta como dá conta - gostaria de escrever forte e simples como Caeiro. Que Caeiro seja apenas uma das muitas faces de Fernando Pessoa me parece um exagero. Como é que Fernando Pessoa guardava tanta coisa assim dentro? Como é que ele dava conta de tanto? Eis um pedacinho do "Guardador de Rebanhos":  IX Sou guardador de rebanhos O rebanho é os meus pensamentos E os meus pensamentos são todos sensações. Penso  com os olhos e com os ouvidos E com as mãos e os pés E com o nariz e a boca. Pensar uma flor é vê-la e cheira-la E Comer um fruto é saber-lhe o sentido. Por isso quando num dia de calor Me sinto triste de goza-lo tanto. E me deito ao comprido na erva, E fecho os olhos quentes, Sinto ...

Poesia minha: O marinheiro de Fernando Pessoa

Ilustração minha: Corrosão do Tempo O marinheiro de Fernando Pessoa Dos pés soa o sussurro dos seixos da praia boa. O barulho me ensina coisas que eu não quero: a derrota chega, ele me diz, e a derrota também é boa: vibram todas as coisas desse mundo, vibram os bichos e as pessoas, tudo no mundo vibra em sua própria frequência, toda a matéria do mundo se move, mesmo as pedras, tudo quer se fazer sentir presente, mesmo de longe, tudo quer se fazer conhecer, e um toque só é diferente de um não toque porque a distância é só uma questão de intensidade. E até a derrota é boa porque até os cadáveres soam enquanto se descompõem uma vibração frouxa e informe que é um abrir as comportas e deixar-se ir com o mundo que ressoa convocando a todos nós, esperando o tempo todo pelo encontro, pela absorção num outro corpo. A derrota da vida é uma entrega à perfeição que consiste em cada coisa conter em si todas as outras coisas. ...