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Poesia minha: O marinheiro de Fernando Pessoa


Ilustração minha: Corrosão do Tempo
O marinheiro de Fernando Pessoa

Dos pés soa
o sussurro dos seixos
da praia boa.
O barulho me ensina coisas
que eu não quero:
a derrota chega, ele me diz,
e a derrota também é boa:
vibram todas as coisas desse mundo,
vibram os bichos e as pessoas,
tudo no mundo vibra em sua própria frequência,
toda a matéria do mundo se move,
mesmo as pedras,
tudo quer se fazer sentir presente,
mesmo de longe,
tudo quer se fazer conhecer,
e um toque só é diferente de um não toque
porque a distância é só
uma questão de intensidade.
E até a derrota é boa
porque até os cadáveres soam
enquanto se descompõem
uma vibração frouxa e informe
que é um abrir as comportas
e deixar-se ir com o mundo que ressoa
convocando a todos nós,
esperando o tempo todo pelo encontro,
pela absorção num outro corpo.
A derrota da vida
é uma entrega à perfeição
que consiste em cada coisa
conter em si todas as outras coisas.



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