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Showing posts from November, 2007

Passagem

Olho pra fora, não fujo, não quero mais me sentir outro, de fora; quero a comunhão barata do barulho dos carros, da gente, do rádio. Ainda está tudo do lado de fora, do outro lado da mesa, o outro lado da porta de vidro: gente dando as mãos, atravessando a rua, chorando, sorrindo, sozinhos, em bando, em dupla, nascendo, amadurecendo, secando, morrendo. Um par de folhas de um broto cai no chão, a chuva cai e leva as duas juntas, que escurecem podres e já não são mais folhas, tudo o que há e que houve e que há de ser depositando-se em centenas de anos, em camadas no sangue, nos ossos, na carne, na língua, tão minha quanto de quem mais quiser, minha e dos dois garotos que passam lá fora conversando um futuro besta, minha e da mulher que passa carregando seus desapontamentos nas costas, minha e do senhor que se arrasta como um deus de chapéu e terno riscado, minha e de você que me lê agora e é assim meu quase irmão, meu pai e meu filho e reconhece aqui agora alguma coisa de dentro de um qu

Blogue do Mino Carta

Concordando ou n�o com Mino Carta, imposs�vel n�o perceber a diferen�a entre a safadeza da imprensa que atua politicamente pela omiss�o de informa�o e mant�m a pose de jornalismo imparcial. Aqui um exemplo recente: Por que n�o leio Veja Respondo ao companheiro de navega�o Henrique Vianna. Nada sei a respeito de entrevista de Saulo Ramos � Veja, publica�o que n�o leio. Ali�s, cuido de n�o ler, em benef�cio da zona miasm�tica situada entre o f�gado e a alma. Aproveito a oportunidade que voc� me oferece, para esclarecer minhas raz�es: a Veja, que se apresenta como uma das maiores do mundo por causa de sua tiragem, de fato alentada, � uma da provas da indig�ncia mental da chamada classe m�dia nativa. Sem falar dos abastados. Est�o a� os leitores de cabresto, incapazes de perceber o p�ssimo jornalismo praticado pela revista da Abril, de um reacionarismo ign�bil, facciosa al�m da conta e extraordinariamente mal escrita. Somos uma na�o desimportante, a despeito das incr�veis potencialidades d

Poesía Mexicana I - Alfonso Reyes

Começo aqui uma série de grandes poemas mexicanos do século XX com um poema de tema indígena que põe no chinelo muita baboseira dos modernistas brasileiros. Escrito em 1934 [antes da estadia de Reyes como embaixador mexicano no Brasil] e publicado pela primeira vez em 1941. Os Tarahumaras são nativos de norte do méxico de onde Reyes veio e são famosos por serem grandes corredores de longa distância. YERBAS DEL TARAHUMARA Han bajado los indios tarahumaras, que es señal de mal año y de cosecha pobre en la montaña. Desnudos y curtidos, duros en la lustrosa piel manchada, denegridos de viento y de sol, animan las calles de Chihuahua, lentos y recelosos, con todos los resortes del miedo contraídos, como panteras mansas. Desnudos y curtidos, bravos habitadores de la nieve —como hablan de tú—, contestan siempre así la pregunta obligada: —"Y tú ¿no tienes frío en la cara?" Mal año en la montaña, cuando el grave deshielo de las cumbres escurre hasta los pueblos la manada d

Da série gênios da raça II

Perólas de Sabedoria do Príncipe FHC ou Do Programa do Faustão ao Planalto “Há portanto várias maneiras de se treinar para a atividade política. Na verdade, todas as formas de participação que mencionei requerem algum treinamento. Às vezes as pessoas treinam sem saber que estão treinando. Vou dar um exemplo que pode parecer estapafúrdio: programas de auditório. Neles existe uma certa interação entre o apresentador, os convidados e a platéia que, mesmo sem ser contabilizada como se fosse política, ensina as pessoas a se exporem, a se comunicar em público. Quem hoje está no programa de auditório, amanhã pode estar numa comissão de moradores representando seus vizinhos.” [Trecho retirado do livro "Cartas a um jovem politico", de Fernando Henrique Cardoso] Prefiro Tim Maia: "Fiz uma dieta rigorosa. Cortei álcool, gorduras e açúcar. Em duas semanas perdi 14 dias".

Mote e Glosa: Zeladores e repassadores de e-mail

Recebi a seguinte mensagem: Sent: Monday, 19 November, 2007 6:58:53 AM Subject: Assistencialismo - Absurdo! Amigos e Amigas, BOA SEMANA!!! Repassando... Fiquei INDIGNADO! REVOLTANTE!!! Mas, em cada cabeça uma sentença, já dizia nossos antigos... Abraços História do Zelador que pediu para ser demitido !!! Interessante e verídico! IRREAL para um PAIS como o BRASIL!!! IRREAL... partindo de um opositor ferrendo da POLÍTICA SOCIAL anterior... O zelador de um prédio em Natal/RN, pediu à administração do condomínio onde trabalhava que o demitissem. Contou o motivo; tem dois cunhados desempregados, lá mesmo em Natal, e que, por conta da bolsa escola, cartão cidadão, cartão alimentação, vale gás, transporte gratuito, vale-refeição (acreditem - Vale-refeição) e demais benefícios do nosso governo, dadas a título de esmola, vivem melhor que ele. Aí paramos e fomos fazer umas continhas: 1. Bolsa escola - R$ 175 para cada filho que freqüente as aulas (suponha

Diário do Império - sobrenomes

Sobrenomes mais comuns nos Estados Unidos? Smith [2,4 milhões, 20% deles são negros] Johnson [1,9 milhão, 30% deles são negros] Williams [1,5 milhão, 50% deles são negros] Brown e Jones [1,4 milhão cada um] Miller e Davis [1,1 milhão cada um] Ah, 90% dos Washingtons e 75% dos Jeffersons [sobrenomes, por aqui] são negros. Sobrenomes que mais cresceram desde os anos 90? Rodríguez, García, Hernández, Martínez, González, López... São seis os nomes de origem latino americana entre os 25 sobrenomes mais comuns. Enquanto isso, Lou Dobbs vocifera na CNN todos os dias contra imigrantes ilegais e sua invasão do país e o sinistro Homeland Security conduz dezenas de batidas policiais prendendo e deportando a granel os mesmos Rodríguez, García, Hernández, Martínez, González, López...

Norman Mailer

Norman Mailer era um iconoclasta que chegava a extremos absurdos. Ele participou por exemplo de debates antológicos no início dos anos 70 quando defendia posição contrária ao feminismo, chegando a dizer ser contra o controle de natalidade, além da candidatura louca a prefeito de Nova Iorque, com a plataforma de separar a cidade do estado e banir o automóvel de Manhattan. Mas não era como muitos iconoclastas de hoje em dia, que são puramente oportunistas; Mailer punha o coração aberto em tudo o que fazia, mesmo as maiores besteiras. Quem quiser conhecer o mais forte e o mais fraco de Mailer deveria ler "Exercitos da Noite" mistura de jornalismo com romance egomaniaco sobre os protestos contra a guerra do Vietna em 1967. Quem nao tem tempo pode ficar com o artigo “White Negro”. É uma idealização existencialista dos atos de um jovem negro que assassinou um branco no início dos anos 60. Mas para quem, como nós no Brasil, convive com uma violência palpável e concreta no dia-a-dia,

Notícias do Império

Notícias do Império ou para quem acha que o Brasil é o cu do mundo ou ainda: às vezes o Haiti também é aqui! Nome da maracutaia: “earmark”, do verbo que significa destinar. Funcionamento: congressistas adicionam a emendas do orçamento [appropriation bills] recursos destinados a empresas ou instituições específicas para executar projetos e o dinheiro é destinado a essas empresas ou instituições sem concorrência pública. O crescimento espantoso da prática que chegou a 31 bilhões de dólares ano passado está associado ao longo período de domínio absoluto do Partido Republicano nas duas casas do congresso e a tomada de poder pelos democratas representou uma diminuição de 50% nos earmarks com a instituição da exigência de um requerimento formal por escrito [o procedimento antes era anônimo e as emendas sugeridas oralmente]. No entanto, a prática continua e não é exclusiva de um partido: um democrata, o poderoso presidente da comissão de segurança John Murtha, campeão do earmark com 166 milhõ

Circe

Circe Minha pátria está em teus olhos, meu dever em teus lábios. Peça-me o que quiseres menos que te abandone. Se naufraguei em tuas praias, se estendido em tua areia sou um porco feliz, sou teu; mais, não importa. Sou deste sol que es, meu solar está en ti. Meus lauros no teu destino, minha fazenda em teus haveres. O poema é de Gabriel Zaid, traduzido do espanhol por mim.

blogues falsos ou Jesus não mora mais aqui

Sony, Wal-Mart e outros gigantes corporativos agora resolveram fazer blogues falsos que usam como estratégia de propaganda. É por isso que eu nunca sento na minha macia mas firme cadeira Tarantelle para passear por blogues insuspeitados no meu poderoso mas gentil computador Sumsang sem antes checar as notícias certeiras e cheias de informações úteis do site www.faltadevergonhanacara.com.br. Como anda muito na moda usar frases de efeito de filmes nacionais para dar sabor e consistência a conversas gelatinosas, eu termino com "Jesus não mora mais aqui" [Central do Brasil].

Apelo épico em defesa do empreendedorismo nacional

Deixem abrir as banquinhas de mercado: são pasto hoje como foram antes pasto, óleo azeitando a máquina do estado. São baratas tontas, sonhando acordadas com os frutos amargos do trabalho cada vez mais inútil e cansado, cada vez mais feio e desesperado cada vez mais em si mesmo fechado. Deixem abrir e deixem fechar, pintem paredes e troquem telhados dessa casa inerte e imprestável: abençoados sejam todos os desocupados. Mas tenham cuidado: o passado, travestido de farsa, mora aqui ao lado.