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Showing posts from December, 2007

Poesia Mexicana IV - Tablada

Figura: Zompantli de Artemio Rodríguez José Juan Tablada [1871-1945] já era um poeta simbolista mais ou menos consagrado quando encontra o Haikai e daí uma passagem para a poesia moderna. Un día [poemas sintéticos] de 1919; Li-Po [1920], Jarro de Flores [1922] e La feria [1928] são quatro portentos, maravilhas poéticas deslumbrantes de um apaixonado pela palavra e pela superfície sensível do mundo. Vamos passar ligeiro pelos quatro. De Un día: Los zopilotes Llovió toda la noche y no acaban de peinar sus plumas al sol, los zopilotes. De Li-Po: Nocturno Alterno Neoyorquina noche dorada Fríos muros de cal moruna Rector's champaña foxtrot Casas mudas y fuertes rajas y volviendo la mirada Sobre las silenciosas tejas El alma petrificada Los gatos blancos de la luna Como la mujer de Lot Y sin embargo es una misma en New York y en Bogotá ¡La Luna...! A un Lémur (Soneto sin ripios) GO ZA BA YO A BO GO TA TE MI RE Y ME FUI De Jarro de Flores: Un

Tradução, sacação, traição

Deu na Folha de São Paulo: Roberto Domênico Proença "traduziu" os contos de Voltaire - trocando uns detalhes aqui e outros dali de uma tradução antiga de Mário Quintana. A troca era pura crocodilagem - os erros contidos na tradução do poeta gaúcho continuaram. A Martin Claret, editora especializada em livros de bolso, publicou traduções igualmente plagiadas de "Os Irmãos Karamazov" e "A República". A primeira, assinada por Alexandre Boris Popov, é cópia de uma antiga versão da editora Vecchi. A tradução de "A República", assinada por Pietro Nassetti, é, na verdade, uma versão de Maria Helena da Rocha Pereira. Essa história de tradução requentada é antiga. Eu perdi o respeito intelectual por um grande poeta [que continuo respeitando muito como poeta] quando percebi que uma das suas "traduções" eram assim mesmo, muito entre aspas. As pessoas se fiam muito na ignorância geral da nação para fazer bonito, mas esse tipo de impostura prolifera

Memórias de BH

Quem não gosta de chuva? Eu quando vivia em Belo Horizonte ficava sempre esperando o final de novembro chegar, só para ver o céu ficar cor de chumbo quase preto e de repente a chuva desabar, aliviando o calor e limpando a cidade. Em Belo Horizonte a estação das chuvas funcionava para mim como o outono ou a neve do inverno em um lugar mais frio: era a hora em que a natureza [no sentido mais visceral da palavra] resolvia dar as caras e nos lembrar que somos: um bando de formiguinhas zanzando para lá e para cá crentes que são as donas do mundo.

Desculpe qualquer coisa...

Essa mania de pedir perdão sem fazer patavinas sobre as injustiças pelas quais as deculpas são pedidas é um horror. Aliás, eu quero logo pedir desculpas pelo conteúdo desse blogue e por quaisquer erros de gramática que ele contiver. Aproveito para pedir perdão à todos os professores que ignorei ou ofendi antes de virar professor e compreender a corda bamba em que andamos no picadeiro da sala de aula, à minha esposa e meu filho por ser um ser humano bem ordinário em seus defeitos e qualidades e finalmente à minha mãe por ter nascido, causando naquela pobre senhora terríveis dores no parto. Enfim, como dizemos às vezes nós mineiros quando nos despedimos de alguém em um arroubo de penitência previdente: "Desculpe qualquer coisa!"

Poesía Mexicana III - Lopez Velarde

Ramón Lopez Velarde é considerado pelos próprios mexicanos o precursor da poesia moderna no México. Morreu com apenas 31 anos em 1921 e seu poema “La suave patria” se transformou em uma espécie de hino nacionalista – uma contradição em termos principalmente se pensarmos que López Velarde vai ser canonizado pela revolução mexicana tendo sido ele um católico conservador [veja no próprio poema em questão a referência ao correio de Chuan]. Como deixa clara a abertura do seu poema mais famoso, seu patriotismo não tem nada de estridente; é um épico em surdina, uma evocação íntima, discreta, profundamente pessoal. São excelentes também os poemas memorialistas de López Velarde, dignos de Drummond na sua evocação de erotismo infantil e culpa, por exemplo, no famoso “Mi prima Agueda”. La suave patria – Proemio Yo que solo canté de la exquisita Partitura del íntimo decoro, alzo hoy la voz a la mitad del foro, a la manera del tenor que imita la gutural modulación del bajo, para cortar a la epopeya

Torcer por time de futebol é uma grande perda de tempo...

Torcer por um time de futebol é mesmo uma perda de tempo, como também são perda de tempo ver novela; passear no shopping center; decorar o hino nacional; acompanhar a moda; acompanhar as “novidades” da música popular que usam os mesmos quatro ou cinco acordes há décadas; sentir nostalgia por qualquer baboseira do passado como seriados de heróis japoneses; seguir a vida pessoal de gente “famosa”; ficar criticando o governo e os políticos sem nunca fazer absolutamente nada a respeito; conversar sobre o clima e o trânsito; ler notícias sobre desastres naturais há mais de cem quilômetros de distância da residência de qualquer pessoa do seu conhecimento; cantar loas de louvor a um bairro/cidade/estado/país qualquer; ficar olhando retratos de gente famosa, estejam elas peladas ou vestidas; ficar discutindo os atributos físicos de pessoas famosas ou não, gastar fortunas com um monte de baboseiras que prometem o impossível – fazer você parar de ficar mais velho; fazer a cama que você vai desfa

Crónicas do Império - Voltando para casa

Reportagem recente do NYT sobre brasileiros que vivem nos Estados Unidos e têm, cada vez mais, decidido voltar para o Brasil [a reportagem chega a dizer que o fluxo de volta já supera o de chegada]: http://www.nytimes.com/2007/12/04/nyregion/04brazilians.html?ex=1197694800&en=8687361152036697&ei=5070&emc=eta1 Em vista das crescentes dificuldades diárias na vida dos brasileiros que imigraram ilegalmente para os Estados Unidos, parece que um número cada vez maior de pessoas se pergunta “Vamos voltar para casa?” Mas e depois? Será que essas pessoas voltam e são engolidas pelo meio e rapidamente voltam a ser como eram antes de sair de sair do Brasil? Será que essas pessoas tentam manter pelo menos uma parte da forma de vida que tinham nos Estados Unidos? E os filhos que crescem aqui e têm muito pouca identificação com o Brasil? Imaginemos um imigrante comum: o cara tem um diploma, por exemplo, de letras e ganhava a vida aqui como bombeiro-eletricista. Ele vai fazer o quê no Bra

Poesía Mexicana II - Enrique González Martínez

González Martínez escrevia sonetos e era um sujeito respeitável nos anos 20 no México. De repente ele escreve um soneto em que propõe dar cabo sem dó nem piedade dos cisnes simbolistas e substituí-los por uma circunspecta coruja, que antes de qualquer coisa, mantém os olhos bem abertos para a vida. Mais ou menos o mesmo grito de emancipação do modernismo brasileiro, mas sem qualquer traço de vanguarda - a tal coruja é da deusa Atenas... Esses mexicanos... que loucura! Será mesmo? Será que a nossa historiografia que insiste que 1922 viu a invenção do moderno num Brasil arcaico, não merece uma revisão? Não parece um pouco forçada a idéia de simplesmente chamar qualquer escritor moderno antes de 1922, como Lima Barreto e Machado de Assis, de pré-modernistas? Vale a pena ler de novo o poema "Os Sapos" de Manuel Bandeira [lido na Semana de Arte Moderna], principalmente do ponto de vista formal. Será que "Os Sapos" é completamente diferente de "Tuércele el cuello al

Declaração de Bens

Declaração de Bens A vida como eu conheço é a única vida que eu sei que existe e não vale a pena. A vida é uma só, como acontece é assim uma vez só e nunca mais e não vale a pena. Querer saber porque e porque não e para que serve tudo isso aqui não vale a pena. É tudo um imenso desperdício de energia de ilusão de sofrimento, a vida como eu conheço aqui e agora não vale a pena. Estúpida e lenta passa devagar até que não deixamos mais que um traço se deixarmos um traço e é melhor nem deixar um só traço e ainda bem que é assim porque se deixássemos mais que um traço depois de irmos embora poderíamos enganar, não a nós mesmos, mas aos outros que ficam para trás, como eu agora estou aqui atrás, esperando a hora de ir em frente e parar de ir em frente. Porque ir em frente é um engano terrível, uma completa perda de tempo. Sinto muito, mas assim são as coisas como eu as conheço e eu não posso saber das coisas diferentes de como eu as conheço. Levamos quarenta, dez, sess