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Showing posts from July, 2021

Algumas notas sobre Viagem pelo Brasil de Von Matius e Spix

 Acabei de ler o primeiro dos três volumes do  Viagem pelo Brasil de Von Martius e Spix e deixo aqui alguns apontamentos: 1. A música popular no Brasil [na época as modinhas, com voz e violão] não mudou em nada os seu temas:    Amor desprezado, tormentos do ciúme, dores da despedida, são os assuntos da sua musa, e a referência, cheia de fantasia, à natureza dá a esses desafogos da alma uma trama genuína, tranqüila, que ao europeu parece tanto mais adorável e verdadeira, quanto mais ele mesmo se sentir num enlevo idílico, pela riqueza e o gozo pacífico, proporcionados pela natureza que o cerca. A descrição acima serve bem para a última sensação do tiktok, aliás não passa de uma ligeira modernização de canção popularizada por Ronnie Von na Jovem Guarda: Também vem de longe o gosto brasileiro pelas "dancinhas" - e adianto que não compartilho do moralismo mal-humorado dos dois alemães: O batuque é dançado por um bailarino só e uma bailarina, os quais, dando estalidos com os ded

Leis e aplicações...

Nos Estados Unidos existe em alguns estados um argumento legal chamado "stand your ground", que permite a uma pessoa defender-se com uma arma caso uma pessoa esteja invadindo a sua casa. Em casos envolvendo "stand your ground", há uma gritante diferença entre homens e mulheres. 40% dos homens que usam este argumento não tem sucesso e são condenados; 80% das mulheres entram pelo cano, mesmo que neste caso trate-se de ex-maridos, ex-namorados e ex-amantes tentando entrar na casa delas.  No coração do capitalismo está a noção de propriedade, aquilo que transforma coisas, atos e ideias em produtos que podem ser vendidos, alugados ou até doados. Nada se faz mercadoria sem ser antes apropriado. Imagine a fantástica história de um homem que dedicou grande parte de sua vida a dicionarizar uma língua indígena em estado terminal [a língua dos Penobscot, no nordeste dos Estados Unidos]. Ao morrer, o tal estudioso linguista doa seu dicionário e materiais de campo para a America

Sobre cópias

Quatro fragmentos sobre cópias e colonialismo 1. Maurice Ravel dizia aos seus alunos que eles se encontrariam como artistas quando não conseguissem copiar seus modelos fielmente. O ordem colonizadora encontra a si mesma nas suas cópias imperfeitas.   2. "A única coisa que mudou é que agora eu estou mais velho". Esse foi o depoimento de um garimpeiro [ creuser ] de cobalto no sul do Congo. Essa região abriga simplesmente 50% das reservas mundiais de Cobalto, que é usado amplamente em várias das empresas mais ricas do mundo, como Apple, Google, Dell, Microsoft e Tesla. Ainda assim, 85% dos congoleses se sustentam com empregos informais e 75% deles ganham menos de 2 dólares por dia. Com atores diferentes, repete-se ali o que aconteceu com o Congo quando ele era belga e "pertencia" ao rei Leopoldo.  3. Em 1846, um terço do conselho de nobres no Havaí era de mulheres. Em 1850 o então país independente aprova uma constituição copiada de modelos europeus e dos Estados Unid