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Showing posts from 2011

Poesia Minha - Homenagem a José Gorostiza

[arte: desenho e colagem em ficha de biblioteca de Paulo Moreira] Morte sem fim ¡Hazme, Señor, Un puerto en las orillas de este mar! Eis o meu poema, pesadelo surdo da carne, que queima, punciona, rói, sangra. Flor que se abre pra dentro, estéril, cheia de mim, repetindo; presa na epiderme que me define, cheia de mim. Eu, seco como a sede do gesso, padecendo a fome do ar que respira, por um Deus inalcançável, rancor da molécula. Pântano de espelhos, solidão em chamas. Surdo pesadelo da carne. Ilhas de monólogos sem eco. Topo dum tempo paralítico. Ínfimo do olho que segue o curso da luz pela pele da gota de orvalho. Flor que se abre para dentro, afogada n’água estrangulada no copo. Poema que se afoga na garganta – Resta o poço ressecado, esgar de agonia: o poema.

O Jingo

Um estrangeiro é um estrangeiro. Assim como imagino gringos se perguntaram que diabos esse povo todo está fazendo na beira da praia no ano novo, eu vou passando à margem do calendário babilônico do segundo semestre: primeiro o Ralo [Halloween], meu preferifo; depois o Tanco [Thanksgiving], com intermináveis debates na mídia sobre receitas de peru assado, e finalmente o Jingo [Natal], parecido com o Brasil até certo ponto. Até certo ponto porque faz um frio de matar [não este ano, felizmente] e porque simplesmente TODAS as lojas e estabelecimentos comerciais tocam música de natal 24 horas por dia. Country Jingo, Rap Jingo, balada Jingo, Jingo Folk, Jingo Rock e assim vamos com 345 versões diferentes de Jingle Bells e companhia. Então, com objetivos puramente etnológicos, escolhi aquela que representa o fim da picada: Grandma got runned over by a reindeer Walking home from our house Christmas Eve. You can say there's no such thing as Santa, But as for me and Grandpa, we believe. She&

Montagem desajeitada sobre o pesadelo

Esse post vai em forma de montagem. 1. Nota da New Yorker sobre o candidato a candidato a presidente Newt Gingrich: In a debate a few days earlier, on Fox News, [Newt Gingrich] had called America’s courts “grotesquely dictatorial”; he said that he had “warned” Supreme Court Justices to their faces that if “you keep attacking the core base of American exceptionalism, and you are going to find an uprising against you which will rebalance the judiciary.” He told Schieffer [at CBS] that he was ready to send the Capitol police to bring judges to Congress to explain their decisions, to abolish entire courts, and, as President, to put his hands over his ears and pretend that he didn’t hear rulings that he didn’t like. 2. Post do poeta Charles Simic sobre o espetáculo de horrores das primárias republicanas, sobre o teatro de horrores da Fox News, sobre as nuvens pretas que se aproximam dos Estados Unidos: “I mustn’t forget, either, that I was surrounded by political exiles in my you

O Porto Maravilha e o Valongo

“Sem esquife e sem a menor peça de roupa são atirados numa cova que nem tem dois pés de profundidade. Levam o morto e o atiram no buraco como a um cão morto, põem um pouco de terra em cima e se alguma parte do corpo fica descoberta, socam-no com tocos de madeiro, formando um mingau de terra, sangue e excrementos.” Carl Seidler, testemunha ocular, descreve o cemitério do Valongo, que a copa do mundo tirou da tumba do esquecimento, no livro Dez anos no Brasil . Sobre as pesquisas e sobre o genocídio que o Brasil finge que nunca aconteceu, leia aqui . Eram 50 "casas de carne" comerciando homens, mulheres e crianças africanas. Eis uma outra testemunha ocular, Charles Brand : “A primeira loja de carne em que entramos continha 300 crianças, do sexo masculino e feminino. O mais velho podia ter 12 ou 13 anos e o mais novo, não mais de 6 ou 7. Os coitadinhos ficavam agachados num armazém imenso, as meninas de um lado e os meninos do outro para ser m

Poesia Americana 5: ANDREW ZAWACKI

Fermata One of me stuttered and one of me broke, and one of me tried to fasten a line to one of me untying it from me. One of me watched a fisherman haul a sand shark from the breaker, while another was already years later, returned to where a local man baited for striper but landed a shark. One of me sat under olivine clouds, clouds of cerise, a courtesan sky, and one of me sunned himself as a child, imagining a fish-rod turned fermata. One waved a sash of cornflower blue, one heard a windmill, one heard the wind, one waved goodbye to an imminent leftover love. And one strolled barefoot and sunburnt across the nickel inhibitions of afternoon, tossing amber bottles at a smoke tree, the gun lake, swimming toward his family on the dock as twilight fell, as the same boy stayed behind to look at him swim. One believed a father could be killed by falling rock, and one woke up to find he’d only dreamt, although his father was dead, and one believed in a beautiful house not bui

Feliz Aniversário, Belo Horizonte

[imagem: sobreposição de mapa do plano original de Belo Horizonte e da vila do Curral Del Rey] Quando fez 114 anos Belo Horizonte ganhou de presente um daqueles temporais de verão épicos que, justiça seja feita, acontecem todos os verões com menor ou maior intensidade. Os jornais e a população olham para o céu e se perguntam porque mas a questão está debaixo dos seus pés. Belo Horizonte sepultou seus muitos rios, ribeirões e córregos. E os sepultados vivos saem debaixo da terra e vem cobrar aos patetas que vivem hoje a sua estupidez: Mas não adianta; só uma senhora ensaia um queixa contra a "linha verde" que o jornal se apressa em descartar com uma declaração da prefeitura. Tudo culpa dos céus ou da caprichosa "vazão dos córregos". Feliz aniversário, Estúpido Horizonte de onde eu vim, que me fez quem eu sou, que eu amo. Nessas horas, no frio da Nova Inglaterra, eu só penso no final de Absalom, Absalom: "Tell about the South," said Shreve McCannon. "Wh

Daniel Sada - A língua espanhola perde um de seus maiores 2

Eis aqui o início de um dos meus contos favoritos de Daniel Sada, “El basilisco”: “Preciosa o más bien agresiva, la serpiente café se desliza a la sorda por entre los escobos – en el solar, al fondo, allá adonde nadie entra –; aciaga, temeraria, querrá encontrar quizá el escondrijo idóneo o mostrarse, larguísima cual es, ante una equis mirada. ¡El niño estupefacto es quien la ve! Parece la raíz de un árbol centenario que por arte de magia cobra vida. Oronda avanza, falsa, hacia el espacio ideal donde sus serpenteos y su color pudieran diluirse entre las gándaras. Y el niño echa a correr con su alarido al viento, pretende dar aviso a sus padres ¿dónde? Aumenta su clamor.” Quem conhece Guimarães Rosa reconhece a sintaxe bem “solta” da frase que desliza como a “serpente café”. Também reconhece o uso peculiar de certa dicção culta desprovida dos clichês que marcam a linguagem murcha dos jornais, por exemplo. Também reconhece o senso de dramatismo peculiar na narr

Daniel Sada - A língua espanhola perde um de seus maiores

Morreu mês passado um dos maiores escritores da língua espanhola, um gênio. Enquanto perdíamos tempo com escritores de terceira vindos do México para tomar caipirinhas aprazíveis no inverno de Paraty, Daniel Sada, conhecedor profundo de literatura brasileira e de Guimarães Rosa ainda não foi traduzido ao português. Uma pena. Para quem lê em espanhol trago o começo de um conto maravilhoso "El Fenómeno Ominoso" [que pode ser lido aqui ] e uma leitura do propio Sada do conto. EL FENÓMENO OMINOSO Se puede vivir lejos, muy lejos, allá donde no llega ninguna carretera ni hay vías de tren cercanas: en un viejo aposento perdido en la llanura; allá donde no existen ni veredas fortuitas ni enemigo que salte, en ese duro espacio que amolda voluntades y cede al abandono dejando tras de sí los aires mundaneros, la humeante sociedad que nunca para, la tentaciones prontas. A cambio… Optar y para siempre por el retiramiento, por la experiencia viva que afina los sentidos y alarga cuanta form

Poesia Minha - Anatomia da leitura como cacofonia

Anatomia da leitura como cacofonia Renacerán vocablos muertos y morirán los que ahora están en boga, si así lo quiere el uso, árbitro, juez y dueño en cuestiones de lengua. Horacio Deitado na rede respirando o ar límpido, fase tropical do meu inverno constante, do futuro leio cartas de cinquenta anos: uma tradução solar duma estação no inferno. Nela ao mesmo tempo falam eu, o poeta e o tradutor; falam duas línguas tronchas e também uma terceira, zumbi monstro da lagoa, meta-matéria incolor refratando ao contrário verdades recônditas rascunhadas pelas margens entre as duas páginas da folha em minhas mãos vejo um palco iluminado onde cantam ódio e amor e suas dezessete gradações em surdina no meu ralo coração esburacado. Do vizinho canta o galo da noite suja de Belo Horizonte. Da sua rede canta tu, leitor, do domingo universal canta o rabo do tatu. Cantam todos juntos, multidão mambembe,

Poesia Mexicana 2 - José Emilio Pacheco [de novo]

Vidas de los poetas En la poesía no hay final feliz. Los poetas acaban viviendo su locura. Y son descuartizados como reses (sucedió con Darío). O bien los apedrean y terminan arrojándose al mar o con cristales de cianuro en la boca. O muertos de alcoholismo, drogadicción, miseria. O lo que es peor: poetas oficiales, amargos pobladores de un sarcófago llamado Obras completas. Irás y no volverás , 1973

Poesia Mexicana 1 - José Emilio Pacheco

[ilustração: escultura de Gabriel Orozco] Manifiesto Todos somos “poetas de transición”: La poesía jamás se queda inmóvil. Irás y no volverás , 1973

Rir para não chorar: 15 minutos e 17 segundos

[Ilustração: Retrato de Lucian Freud feito por Francis Bacon] Então deixa ver se eu entendi: o "debate da sociedade" sobre Belo Monte vai ser feito em torno de argumentos apresentados em um filme de 8 minutos com um monte de atores famosos falando em segmentos de 10 segundos e outro filme de 7:17 com um batalhão de estudantes da UNICAMP falando do mesmo jeito? Quer dizer que em exatos 15 minutos e dezessete segundos eu vou saber tudo o que preciso saber para emitir meu juízo também? Seria coincidência que juntos eles dão os tais 15 minutos de fama de que o Warhol falava?

Prosa minha 2

[continuando o texto anterior...] Ninguém sabe onde fica a curva depois da qual os caminhos param de se bifurcar e a gente se vê obrigado a seguir sempre em frente até o fim. Alguns nem sabem que essa curva existe, e seguem assim até que passe a tal curva. A partir daí, avistamos uma dolorosa ladeira descendo em linha mais ou menos reta até um ponto final que, por mais distante que pareça, fica então perfeitamente visível. Hoje percebi que acabei de passar por essa curva. Isso não quer dizer que não haja escolhas. Há muitas maneiras de se descer uma ladeira. As opções são combinações possíveis numa linha contínua entre dois extremos: de um lado solta-se o corpo sem freio para abraçar num trompaço vertiginoso o que fica lá embaixo; do lado oposto, vamos descendo bem devagarinho, o freio de mão todo puxado, a pastilha do freio queimando fumaça até o osso, até o limite do impossível.

Prosa minha

[ilustração: Elizabeth Murray, "Snake Cup"] A hora mais interessante do dia é quando não tem ainda ninguém acordado na rua. Essa é a melhor hora para vir para a janela pensar, ainda mais depois de uma noite em claro – minha rotina é feita de noites assim intercaladas por outras, em que caio na cama às oito horas da noite, exausto, e acordo no meio da madrugada.

Diário da Babilônia - The New Enquiry

The New Enquiry é uma iniciativa de um grupo de jovens de mais ou menos 25 anos que moram em Nova Iorque e são apaixonados por literatura. Essa geração tem sido profundamente afetadas por duas crises: a do mundo editorial e a da academia. As possibilidades de profissionalização são escassas e frustrantes, num ambiente onde o medo e o comodismo imperam. Na revista eles encontraram um meio aberto a trabalhos amadores de altíssima qualidade - você pode até não gostar os artigos, achar tudo meio pedante e definitivamente provinciano, mas não é a coleção de abobrinhas que a gente costuma ler na internet. [faço aqui um breve parêntesis: eu sei que parece loucura minha, mas acho que não há lugar mais provinciano no mundo que Nova Iorque - nem São Paulo chega perto. E quem achar que eu estou de sacanagem, me diga: uma revista - The New Yorker - com um artigo de três páginas sobre os carrinhos de cachorro quente da cidade é o quê?] Além da revista eletrônica, uma vez por semana eles se encontr

Mulheres enfezadas do Country 2 - Miranda Lambert

Mulheres enfezadas do Country 2 – Miranda Lambert Miranda Lambert ao vivo no Austin City Limits, programa de shows ao vivo da PBS: Watch Miranda Lambert "Gunpowder and Lead" on PBS. See more from AUSTIN CITY LIMITS. Gunpowder & Lead County road 233, under my feet Nothin' on this white rock but little ole me I've got two miles till, he makes bail And if I'm right we're headed straight for hell [Chorus:] I'm goin' home, gonna load my shotgun Wait by the door and light a cigarette If he wants a fight well now he's got one And he ain't seen me crazy yet He slap my face and he shook me like a rag doll Don't that sound like a real man I'm going to show him what a little girl’s made of: Gunpowder and lead It's half past ten, another six pack in And I can feel the rumble like a cold black wind He pulls in the drive, the gravel flies He dont know what's waiting here this time chorus His fist is big but my gun's bigger He

Mulheres enfezadas do Country 1 - Gretchen Wilson

Redneck Woman Well, I ain't never been the Barbie doll type No, I can't swig that sweet Champagne, I'd rather drink beer all night In a tavern or in a honky tonk or on a four-wheel drive tailgate I've got posters on my wall of Skynyrd, Kid and Strait Some people look down on me, but I don't give a rip I'll stand barefooted in my own front yard with a baby on my hip 'Cause I'm a redneck woman I ain't no high class broad I'm just a product of my raising I say, 'hey ya'll' and 'yee-haw' And I keep my Christmas lights on On my front porch all year long And I know all the words to every Charlie Daniels song So here's to all my sisters out there keeping it country Let me get a big 'hell yeah' from the redneck girls like me, hell yeah Victoria's Secret, well their stuff's real nice But I can buy the same damn thing on a Wal-Mart shelf half price And still look sexy, just as sexy as those models on TV No, I don'

Copiando e sendo copiados ou o pior de dois mundos 2

No editorial do NYT , dados recentes do censo americano: 49.1 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza e 51 milhões quase lá, com renda menos de 50% acima da linha da pobreza. Somando os dois grupos dá um em cada três americanos vivendo no sufoco ou quase chegando lá. A desigualdade também caminha a passos largos no acesso à educação: a diferença entre a porcentagem de ricos e pobres que conseguem se formar na universidade cresceu 50% em 20 anos.

Heroic Africans - Metropolitan

Sensasional a exposição de máscaras e esculturas africanas no Metropolitan de Nova Iorque! Principalmente para um brasileiro, já que a maioria das tribos escolhidas para a exposição são de Angola, Nigéria e Benin e, como dizia o Padre Vieira, “O Brasil tem o corpo na América e a alma na África .” Muitos dos rostos que eu vi - esculturas de reis e rainhas - não me saem da memória.

Copiando e sendo copiados ou o pior de dois mundos

[Ilustração: uma certa plataforma P36… ] Em 1995 a imprensa brasileira festejou a quebra do monopólio da Petrobrás sobre a exploração como um grande passo para a “modernização” da economia brasileira. Roberto Campos chegou a posar para os fotógrafos socando e chutando um um dinossauro de plástico que ele segurava pelo rabo enquanto dizia: "As estatais são assim. Têm o corpo pesado, uma cauda enorme e o cérebro mínimo." Dezesseis anos mais tarde a Chevron – que não é estatal mas parece ser também pesada, dona de um enorme rabo e de um cérebro convenientemente mínimo – traz, suponho que como oferenda evangélica à Iemanjá, petróleo que vazou “ uma média de 330 barris por dia durante mais de uma semana” e ainda não estancou. O diretor da ANAP, criada pelo príncipe FHC para administrar esse lindo “mercado livre à competição” parece que descobriu só agora que os caras da Chevron “não estavam preparados para executar o plano de abandono do poço que eles mesmo

"Fresh off the Boat", como eu aprendi a ser bilíngue

Para além do discurso de tolerância e cultivo à diversidade, nos Estados Unidos vive-se uma imensa pressão diária para que o imenso contingente de imigrantes se enquadre à cultura desse que é o menos globalizado dos países do mundo, mesmo porque globalização em termos culturais significa primordialmente americanização. Uma expressão comum mesmo entre crianças representa bem essa pressão: um pessoa é FOB ou "fresh off the boat" [algo como "com cheiro de quem acabou de desembarcar"], que significa que a tal pessoa ainda não consegue se comportar de forma a não chamar nenhuma atenção para si mesmo como diferente. Como é que uma criança se revela como "fresh off the boat" na escola? Pelos sapatos, meias, calça, cinto, camisa, casaco, penteado, mochila, cadernos, hábitos alimentares na hora do recreio, lancheira, tipo de lancheira, sotaque, vocabulário e sintaxe, pelo jeito de assentar na carteira, de guardar os cadernos, de cumprimentar a professora, de brinca

A Família é a Espinha Dorsal do Brasil - Parte 2

Provo ainda com um relato resumido da saga da família Ramos: Tudo começa com a chegada à costa brasileira do Cacique de Ramos, que saiu dos cafundós do sertão para descobrir o mar e assentou seu portentoso clã no piscinão que hoje leva seu ilustre nome. A data de sua chegada ao sul-maravilha comemora-se desde então no famoso domingo de Ramos – que seria feriado nacional se já não fosse no domingo. O venerando Cacique casou-se com Eliana Ramos, modelo anoréxica uruguaia, com quem teve dois filhos: Lílian e Graciliano. Lílian se aproveitou do carnaval para transformar-se na poderosa Condessa de Itamar e teve dois filhos: Nereu, o político artista urubu de presidentes e Nuno, o artista político criador de urubus. Já seu irmão, o infeliz Graciliano, acabou seus dias em desgraça acusado de honestidade ideológica pela primeira visita da grande inquisição ao Brasil, entre 37 e 45. Antes da transferência da soberania nacional de Portugal para a Inglaterra, Nereu casou-se com a estrela

A Família é a Espinha Dorsal do Brasil - Parte 1

[nota do editor: dizem que um comunista ateu fugido do campus da USP sabotou um encontro da SOTRAFABA - Sociedade Tradicional Família Paulista - derretendo cubos de substâncias ilícitas no chá das vetustas senhoras e senhôros. Não sei, mas aí está a ata da tal reunião.] A Família é a Espinha Dorsal do Brasil - Parte 1 A família é a espinha dorsal do Brasil. Provamos citando alguns dos nossos clãs mais famosos e seus luminares: - os Maia, Agripi no, Wolf, Tim e César; - os Motta, Sérgio, Zezé e Ed; - os de Andrade, Mário, Oswald e Carlos Drummond; - os Santos, Milton, Nílton e Sílvio; - os Gonçalves, Nelson, Dercy e Milton; - os Santana, Dedé, Telê, Joel e Afonso Romano de; - os Carreiro, Tônia e Beto; - os Camargo, Hebe e Zezé di; - os Cardoso, Fernando Henrique, Elizeth e Newton; - os Vianna, Mário, Tião, Herbert e Hermano; - os Duarte, Lima, Gabriela e Regina; - os Gomes, Mário, Ciro, Cid e Dias; - os Meireles, Cecília, Fernando e Henrique; - os Morais, Vinícius, Antôn

Poesia Minha - Mash-Up

Mash-up – Cláudia Roquette-Pinto Desde o centro, corpo adentro dorme a explicação nos intervalos entre lençóis de cal. Emerge dum mar de águas anuladas um dois pontos insólito, espaçado, desatento: uma idéia em combustão deitada em dunas de pólvora; um botão incipiente, um fogo contido no recorte da janela. Mais tarde, sob o fermento do sol, sem margem de manobra, com a lucidez estranha da vidraça que a pedra acaba de acertar, procuro me perdendo em coisas que nos outros são migalhas. No assédio de tudo que me toca, sob o tampo da tarde que estupora, emerge dum mar cachorro imenso, vomitando espuma de bile, a centopéia de carros que se arrasta para dentro do viaduto. A noite verte olhos de amoroso interesse. Desabotoa entre os meus dedos as pálpebras de cobre. Entre o vão das costelas vejo as listras do tigre aflorando do mergulho na cortina de bambus. Deste odre enganador ou dessa vidraça alguma

Identidade, língua e os penetras no baile da cultura

Três trechos interessantes do ensaio biográfico de Saul Bellow que o New York Review of Books publicou : Sobre identidade: “So, in my first consciousness, I was, among other things, a Jew, the child of Jewish immigrants. At home our parents spoke Russian to each other, we children spoke Yiddish with them, and we spoke English with one another. At the age of four we began to read the Old Testament in Hebrew, we observed Jewish customs, some of them superstitions, and we recited prayers and blessings all day long. Because I had to memorize most of Genesis, my first consciousness was that of a cosmos, and in that cosmos I was a Jew. I suppose it would be proper to apply the word ‘archaic’ to such a representation of the world as I had—archaic, prehistoric. This was my ‘given’ and it would be idle to quarrel with it, to try to revise or efface it.” Sobre a língua materna: “One’s language is a spiritual location, it houses your soul. If you were born in America all esse

Calle 13 e Companhia

Latinoamérica – Calle 13 Os portorriquenhos do Calle 13 com a colombiana Totó La Momposina , a peruana Susana Baca e a brasileira Maria Rita: Soy, Soy lo que dejaron, soy toda la sobra de lo que se robaron. Un pueblo escondido en la cima, mi piel es de cuero por eso aguanta cualquier clima. Soy una fábrica de humo, mano de obra campesina para tu consumo Frente de frio en el medio del verano, el amor en los tiempos del cólera, mi hermano. El sol que nace y el día que muere, con los mejores atardeceres. Soy el desarrollo en carne viva, un discurso político sin saliva. Las caras más bonitas que he conocido, soy la fotografía de un desaparecido. Soy la sangre dentro de tus venas, soy un pedazo de tierra que vale la pena. soy una canasta con frijoles , soy Maradona contra Inglaterra anotándote dos goles. Soy lo que sostiene mi bandera, la espina dorsal del planeta es mi cordillera. Soy lo que me enseño mi padre, el que no quiere a su patria no quiere a su madre. So

Falando com a língua do inimigo

Art Spiegelman em depoimento sobre os momentos que antecedem o projeto Maus em depoimento recente à New York Review of Books: "I began to read what I could about the Nazi genocide, which really was very easy because there was actually rather little available in English. The most shockingly relevant anti-Semitic work I found was The Eternal Jew , a 1940 German “documentary” that portrayed Jews in a ghetto swarming in tight quarters, bearded caftaned creatures, and then a cut to Jews as mice—or rather rats—swarming in a sewer, with a title card that said “Jews are the rats” or the “vermin of mankind.” This made it clear to me that this dehumanization was at th e very heart of the killing project. In fact, Zyklon B, the gas used in Auschwitz and elsewhere as the killing agent, was a pesticide manufactured to kill vermin—like fleas and roaches. As I began to do more detailed and more finely grained research for the longer Maus project, I found how regularly Jews were repr

Recordar é viver: Tocqueville e a trilha de lágrimas

Em 1831, durante sua longa viagem pelos Estados Unidos, Tocqueville viu os índios Chickasaw e Choctaw, expulsos do estado do Mississippi, atravessando o rio Mississippi em direção a Oklahoma, uma longa e dolorosa peregrinação conhecida como Trail of Tears [Trilha de Lágrimas, termo que algumas pessoas usam para todas as remoções de tribos e outros apenas para a dramática viagem dos Cheroquis da Geórgia até Oklahoma, quando um terço da tribo morreu - aqui uso o termo em geral]: “Os índios traziam suas famílias consigo; entre eles estavam os feridos, os doentes, crianças recém-nascidas e idosos a ponto de morrer. Eles não tinham barracas nem carroças; apenas algumas provisões e armas. Eu os vi embarcar para atravessar o grande rio, e o que vi nunca vai se apagar da minha memória. Nenhum soluço ou queixa se levantava daquele agrupamento silencioso. Suas aflições vinham de muito tempo e eles as sentiam como irremediáveis.” Segue-se uma reflexão arguta para quem quer