Eis aqui o início de um dos meus contos favoritos de Daniel Sada, “El basilisco”:
“Preciosa o más bien agresiva, la serpiente café se desliza a la sorda por entre los escobos – en el solar, al fondo, allá adonde nadie entra –; aciaga, temeraria, querrá encontrar quizá el escondrijo idóneo o mostrarse, larguísima cual es, ante una equis mirada.
¡El niño estupefacto es quien la ve!
Parece la raíz de un árbol centenario que por arte de magia cobra vida. Oronda avanza, falsa, hacia el espacio ideal donde sus serpenteos y su color pudieran diluirse entre las gándaras. Y el niño echa a correr con su alarido al viento, pretende dar aviso a sus padres ¿dónde? Aumenta su clamor.”
Quem conhece Guimarães Rosa reconhece a sintaxe bem “solta” da frase que desliza como a “serpente café”. Também reconhece o uso peculiar de certa dicção culta desprovida dos clichês que marcam a linguagem murcha dos jornais, por exemplo. Também reconhece o senso de dramatismo peculiar na narração em terceira pessoa que muda vertiginosamente de ponto de vista: do primeiro parágrafo centrado na cobra para o curto segundo parágrafo que nos apresenta o menino, e depois de volta à cobra e logo depois de volta ao menino. Em dez linhas o leitor sente-se estranhamente íntimo do menino e da cobra, imerso na história do conto.
Mas quem conhece Guimarães Rosa também sabe que aqui não há intenção de imitação; que quem escreve aqui é com certeza outro escritor. A língua espanhola nas mãos de Daniel Sada se transformava assim em aventura. Uma aventura claramente mexicana, mas muito longe dos maneirismos, das “gracinhas” que afetam até mesmo um Carlos Fuentes.
Sei que há que ler o conto todo para entender melhor o que eu digo. Está feito mais uma vez o convite. Quem se aventurar a conhecer Daniel Sada não vai se arrepender.
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