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Showing posts from February, 2014

Recordar é viver: Macka B e Mad Professor

Eu era um adolescente meio passado e meio que perambulava perdido sem sair do lugar no oeste da Inglaterra triste e cinza de Maggie Thatcher. Um conhecido - na verdade namorado de uma conhecida - me presenteou com uma fita cassete. Sem nome, sem referência. Toquei aquela fita 30.000 vezes. Larguei ela de lado e depois escutei mais 30.000 vezes. Larguei ela de lado e não a encontrei mais. Quase trinta anos depois fui escrevendo no google a letra de uma das canções como eu me lembrava e achei:   

Delirando em Pindorama 2

Programa de Combate à Alienação das Elites Brasileiras Antes de sair dizendo isso e aquilo sobre o Brasil, de se achar a vítima preferencial da violência, do achaque dos impostos e taxas ou dos problemas de trânsito, pense nisso: De 5 brasileiros, 4 não têm carro. A cada 2 brasileiros pelo menos 1 tem a coragem de se achar negro ou pardo. 88% dos brasileiros adultos não estudou na universidade. Só 15,8% dos brasileiros vivem num domicílio com renda superios a dois salários mínimos Apenas 3,1% da população ganha mais que 7.000 reais por mês. Mais da metade dos brasileiros [56,8%] tem renda familiar de no máximo um salário mínimo. Agora junte mentalmente família, amigos e conhecidos e faça uma contagem do número de pessoas com carro, do número de negros ou pardos, do número de pessoas que não estudaram na universidade, do número de pessoas que vivem numa casa com menos de dois salários mínimos.

Delirando em Pindorama

Um dia vai aparecer alguém no Brasil com a sagacidade política de Martin Luther King e perceber que as crenças mais entranhadas do país sobre si mesmo podem ser usadas como combustível para a mudança. Eu fico imaginando alguém que, “impávido que nem Mohammad Ali” e “tranquilo e infalível como Bruce Lee” dirá o seguinte: “Queremos Democracia Racial Já! Somos de fato um país mestiço e é por isso mesmo não podemos mais admitir que a desigualdade e o preconceito destruam o sonho de uma sociedade onde todas as raças vivem juntas e têm oportunidades iguais em todos os sentidos: na saúde, na educação, na obtenção de uma moradia digna, no trabalho, no acesso não só ao consumo mas também à produção de cultura, na política, nas artes. Oportunidades iguais para todos os mestiços de todas as cores: eis aí o caroço do nosso angu e a semente de uma verdadeira democracia racial que há de primar pelo profundo respeito e generosa aceitação de todas as diferenças. Para alcançar uma democra

Il sorriso del capo

Marco Bechis fez um documentário [Il sorriso del capo] sobre os filmes que o regime fascista de Mussolini montou como propaganda do regime. Abaixo, 5 minutos desses filmes. Cá entre nós, fora a mania de sincronizar multidões uniformizadas de mulheres, poderia ser um anúncio da propaganda de qualquer governo ou de qualquer escola. Com isso não estou chamando todo mundo de fascista, mesmo porque um filme de propaganda política pode adotar qualquer tipo de discurso em princípio. Mas a semelhança ainda assim me perturba. Uma retórica triunfante de convencimento?

Pindorama em ano de eleição

Pessoas profundamente insatisfeitas com certos rumos do governo federal estão agora prontas para "fazer campanha" [nesse mundinho restrito que ainda são as redes sociais a não ser que você seja um desses que deriva um séquito de milhões pelo seu status de celebridade televisiva]. O foco obsessivo dessas campanhas vai ser certamente os candidatos a presidente da república, o que eu considero um erro causado por um personalismo exacerbado pela longa tradição autoritária no Brasil. Considero esse foco sempre excessivo, quase exclusivo, nas campanhas para o executivo um erro terrível porque você pode eleger Jesus Cristo para presidente com Buda como vice e, no sistema em que vivemos hoje, se a chapa JC/Buda for de um partido com uma bancada de 100 deputados num mar de 513 a decepção será, de novo, inevitável. Principalmente com uma sólida bancada de 123 ruralistas com presença determinante em todos os partidos grandes e médios com exceção do PT [os ruralistas são mais ou menos

Esperando por Zumbi

Nessa versão Jorge Benjor esclarece/explicita o que era uma sugestão mais sutil na versão que está no Tábua de Esmeralda . A chegada de Zumbi é chegada da justiça, o fim da escravidão, o fim da opressão - é o que "eu quero ver". Continuemos todos esperando pela chegada de Zumbi, então. Queiramos ver o que nem a barangagem de clipe do Fantástico consegue atrapalhar: a força da cultura afro-brasileira. 

Postal: Levi-Strauss e a impossibilidade

Arte minha: "Chang, Ta-tung" Quando fazemos força  para compreender destruimos  o objeto a que nos sentimos ligados,  substituindo-o por um outro  cuja natureza é bem diferente.  Esse outro objeto  nos requer um outro esforço,  que por usa vez destrói o segundo objeto  e o substitui por um terceiro  e assim sucessivamente  até que chegamos à única presença resistente,  que é aquela na qual  toda distinção entre sentido  e falta de sentido desaparece:  e é a partir dessa presença  que tínhamos começado  todo esse nosso percurso.  Claude Levi-Strauss, Tristes Tropiques, muito livremente traduzido por mim  

Rio de Janeiro de Machado de Assis

Ideia de um obsessivo: ao perceber que cada conto de Machado de Assis nos informa ano e endereço precisos da ação, localizar num mapa esses endereços a cada leitura de um conto de Machado de Assis. Objetivo: vislumbrar nos contos de Machado de Assis, um Balzac do Rio de Janeiro do século XIX. View Rio de Janeiro dos Contos de Machado de Assis in a larger map

Postal: Rilkaugustaleixo

Arte Minha: Quem Nomeia Ama Quem Ama Não Mata Quem Nomeia Mata " Tento não assustar os animais." Rainier Maria Rilke por Augusto de Campos por Ricardo Aleixo

Recordar é viver

Acho bom lembrar que o jornalismo e a política no Brasil tem uma longa e tenebrosa tradição de fraudes: 1.      Em 1921 o jornal Correio da Manhã publicou cartas supostamente escritas por Arthur Bernardes com comentários desrespeitosos aos militares. As cartas que o jornal anunciava serem “ escritas e assinadas pelo próprio punho do presidente de Minas, segundo os mais apurados exames periciais” eram falsas . 2.      Em 1937 “descobriu-se” o “ Plano Cohen ” de dominação comunista do Brasil, saído diretamente da máquina de escrever de um militar integralista Olímpio Mourão Filho, então chefe da AIB [Associação Integralista Brasileira] e futuro general do golpe de 1964. A fraude só foi revelada depois de oito anos de ditadura implacavelmente anti-comunista pelo poderoso general Góes Monteiro, um dos arquitetos do golpe do Estado Novo.  3.      Em setembro de 1955, durante a campanha para presidência da república,   noticiou-se que uma “república sindical

Guia para a sobrevivência de espécies tropicais no vórtex polar

1. Se o sol está brilhando no céu azul lá fora, isso não quer dizer nada. 2. Se o chão em volta da neve estiver sequinho significa que está frio de rachar. 3. Se uma pedrinha de gelo se solta dos blocos de neve e continua sequinha no chão, isso significa que que o frio está de rachar o que ele já rachou no dia anterior. 4. A temperatura que você experimenta quando sai de manhã não é apenas uma versão um pouco mais fresquinha da temperatura do medio-dia. 5. Você tem mesmo que consultar algum tipo de previsão metereológica para o dia e não apenas por casa de galochas ou guarda-chuvas. Pode estar frio de manhã e mortalmente frio à tarde - e as duas coisas são bem diferentes. 6. Quando a neve vem ela vem em silêncio, sem fazer muito alarde, principalmente para quem é de Belo Horizonte, onde o ronco dos trovões e umas nuvens cor de chumbo avisam logo ao caboclo que vem um temporal lavar a cidade dos seus pecados. 7. Quando a neve vem você volta logo para casa e fica esperando. Tanto f

Diego Viana, de novo na mosca

Vemos aqui a pobre mulher vendaval dividida entre o terno bem cortado da PM defensora da lei e da ordem do Brasil varonil e o figurino preto-básico do blac-block defensor dos frascos e comprimidos. Diego Viana escreveu no seu blogue , como de costume, uma das melhores análises sobre tudo o que tem acontecido no Brasil desde o ano passado. Transcrevo aqui apenas o começo de uma jornada a um buraco que fica bem mais embaixo do que o bate-boca que eu acompanho no Facebook: "Já a questão da violência, que tratei segundo uma determinada perspectiva  ainda em julho , explodiu mais recentemente numa miríade de versões que indicam menos a necessidade de desenvolvê-la e bem mais a de deslocá-la. Infelizmente, e isso é mesmo muito ruim, como na má dramaturgia, consolidaram-se nos últimos meses dois personagens antagônicos. Com eles, é possível, é até quase inevitável, formar uma relação de identificação ou repulsa praticamente imediata. Dessa relação imediata, fazemos uma barre

15 minutos de televisão ou quando sai a próxima nave espacial para fora daqui?

Não tenho televisão em casa. Isso já faz mais de 10 anos. Temos o aparelho, mas não temos nem antena nem cabo aqui em casa. Isso não é nenhuma grande decisão ideológica - simplesmente o serviço à cabo é muito caro e a gente não usava o suficiente para justificar o gasto. Isso não significa que a gente não assista a TV aqui em casa. Assistimos aos filmes e programas de televisão que escolhemos pela internet. Mas sem TV propriamente. Depois de uma longa pausa, fomos hoje de manhã fazer esteira no clube de que a gente fica sócio no inverno, para fugir da neve e dar às crianças uma opção de ir à piscina. Lá tem TV pendurada na parede. Geralmente pedimos o controle remoto e vamos tentando achar alguma coisa que preste, sem sucesso: de manhã pelo menos são 40 canais de idiotice. A gente acaba optando então pelo noticiário, que é sempre um choque. Hoje depois de quase um mês mais um choque de "realidade": uma bizarra reportagem sobre os miliardários russos que eu pego pelo final

Chutando o balde!

Parodiando um certo alguém muitíssimo maior que todas essas babaquices que o jornalismo supostamente literário desenterra de tempos em tempos sobre quem é ou qual é "o maior" de não-sei-o-quê de todos os tempos afirmo e confirmo perante meus 38 seguidores e perseguidores que: os quatro grandes poetas do brasil são três rubén darío e alfonso reyes.

Música: Automotivo

Gosto em primeiro lugar da ideia simples e despojada de vídeo-clip. O tema da canção se enquadra bem na proposta do vídeo também. O violão também eu gosto muito. Agora tem algo na letra, uma certa tendência a jogar com trocadilhos, que eu acho um pouco dominante demais na música brasileira. Às vezes acho que eu preferiria um pouco menos de Caetano nas letras, mas isso é só implicância de quem anda trabalhando muito mais do que gostaria [são 3 da matina de sábado para domingo e isso aqui é só uma pausa na labuta]...

Postal: Sucede que me canso de ser hombre

WALKING AROUND Pablo Neruda Arte Minha: To Rent What You Owned SUCEDE que me canso de ser hombre. Sucede que entro en las sastrerías y en los cines marchito, impenetrable, como un cisne de fieltro navegando en un agua de origen y ceniza. El olor de las peluquerías me hace llorar a gritos. Sólo quiero un descanso de piedras o de lana, sólo quiero no ver establecimientos ni jardines, ni mercaderías, ni anteojos, ni ascensores. Sucede que me canso de mis pies y mis uñas y mi pelo y mi sombra. Sucede que me canso de ser hombre. Sin embargo sería delicioso asustar a un notario con un lirio cortado o dar muerte a una monja con un golpe de oreja. Sería bello ir por las calles con un cuchillo verde y dando gritos hasta morir de frío. No quiero seguir siendo raíz en las tinieblas, vacilante, extendido, tiritando de sueño, hacia abajo, en las tripas mojadas de la tierra, absorbiendo y pensando, comiendo cada día. No quiero para mí tantas d

Contra o fascismo verde e amarelo

Arte minha: "Lendo Jameson em desespero" "—Ya ves, todo esto no sirve de nada —dijo el escultor, barriendo el aire con un brazo tendido—. No sirve de nada, Noemí, yo me paso meses haciendo estas mierdas, vos escribís libros, esa mujer denuncia atrocidades, vamos a congresos y a mesas redondas para protestar, casi llegamos a creer que las cosas están cambiando, y entonces te bastan dos minutos de lectura para comprender de nuevo la verdad, para...             —Sh, yo también pienso cosas así en el momento —le dije con la rabia de tener que decirlo—. Pero si las aceptara sería como mandarles a ellos un telegrama de adhesión, y además lo sabes muy bien, mañana te levantarás y al rato estarás modelando otra escultura y sabrás que yo estoy delante de mi máquina y pensarás que somos muchos aunque seamos tan pocos, y que la disparidad de fuerzas no es ni será nunca una razón para callarse. Fin del sermón. ¿Acabaste de leer? Tengo que irme, che.&qu

Notas para livros impossíveis 1

Um livro com oito contos [quatro em espanhol, quatro em português]: 1. "Tigre de los llanos" [trecho de Facundo de Sarmiento] 2. "Juan Darrién" de Horacio Quiroga 3. "Meu tio o iauaretê" de Guimarães Rosa 4. "Axolotl" de Julio Cortázar 5. "Búfalo" de Clarice Lispector 6. "O crime do professor de matemática" de Clarice Lispector 7. "La pantera" de Sergio Pitol 8. "A vaca" de Moacyr Scliar Título: Entre o cru e o cozido Perspectiva de sucesso editorial: zero porque não traduz os contos e forma um livro bilingue, isso sem pensar nos imensos problemas com direitos autorais.

Música: The Wolves (Act I &II)

The Wolves (Act I And II) Someday my pain Someday my pain will mark you Harness your blame Harness your blame, walk through With the wild wolves around you In the morning, I'll call you Send it farther on Solace my game Solace my game, it stars you Swing wide your crane Swing wide your crane and run me through And the story's all over In the morning, I'll call you Can't you find a clue When your eyes are all painted Sinatra blue What might have been lost What might have been lost What might have been lost What might have been lost Don't bother me (Don't bother me) What might have been lost (Don't bother me) What might have been lost (Don't bother me) What might have been lost (Don't bother me) What might have been lost (Don't bother me) What might have been lost (Don't bother me) What might have been lost (Don't bother me) What might have been lost What might have been lost Ah, ah Someday