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Pindorama em ano de eleição

Pessoas profundamente insatisfeitas com certos rumos do governo federal estão agora prontas para "fazer campanha" [nesse mundinho restrito que ainda são as redes sociais a não ser que você seja um desses que deriva um séquito de milhões pelo seu status de celebridade televisiva]. O foco obsessivo dessas campanhas vai ser certamente os candidatos a presidente da república, o que eu considero um erro causado por um personalismo exacerbado pela longa tradição autoritária no Brasil. Considero esse foco sempre excessivo, quase exclusivo, nas campanhas para o executivo um erro terrível porque você pode eleger Jesus Cristo para presidente com Buda como vice e, no sistema em que vivemos hoje, se a chapa JC/Buda for de um partido com uma bancada de 100 deputados num mar de 513 a decepção será, de novo, inevitável.
Principalmente com uma sólida bancada de 123 ruralistas com presença determinante em todos os partidos grandes e médios com exceção do PT [os ruralistas são mais ou menos 40% de PMDB, DEM e PSD e mais ou menos 30% de PSDB, PP, PDT e PTB] e uma bancada de 76 "religiosos" espalhada principalmente nos partidos menores. Juntos eles são quase 200.
Aproximemos a lupa. No meu estado [Minas Gerais], 42% da bancada é de ruralistas [23 deputados]. Entre eles 5 [que são do triângulo/oeste do estado] tiveram a cara-de-pau de votar CONTRA a emenda constitucional 438/2001, que prevê o confisco de propriedades em que trabalho escravo for encontrado, destinando-as à reforma agrária e ao uso social urbano. São eles José Humberto do PHS, Antônio Andrade do PMDB, Bernardo Santanna de Vasconcelos do PR, Marcos Montes do PSD e Jairo Ataide do DEM. Além desses 5 deputados, outros 3 se abstiveram: João Magalhães do PMDB, Aelton Freitas do PR e Diego Andrade do PSD.
Juntos são 8 deputados federais da bancada mineira [mais de um terço da tal bancada ruralista mineira] que deveriam no mínimo ter que suar a camisa dobrado para conseguir se reeleger em 2014. Eles foram derrotados no caso da emenda em questão, mas ganham em muitas outras oportunidades. E nos fazem muito mal.
Note-se que não fiz aqui qualquer referência à questão da corrupção. Não porque não ache que ele tenha importância, mas porque acho que a obsessão, a ênfase quase que exclusiva na suposta honestidade/desonestidade dos políticos é também expressão dessse personalismo exagerado que só prejudica nossa cultura política. 

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