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Showing posts from June, 2008

A imbecilidade é uma epidemia...

Não faz muito tempo que eu trombei na internet com um bando de panguás que tinham criado uma ridícula Copa da Literatura [espécie de concurso idiota em que o sujeito é obrigado a escolher entre dois livros]. Pois semana passada a FSP cometeu uma sandice parecida, levando esse "conceito" digno de um programa de auditório de tarde de domigo, pasmem, para "decidir" qual o melhor: Machado de Assis ou Guimarães Rosa. O resultado anunciado foi que Machado ganhou de "goleada" por 11 a 2; na verdade 17 dos 30 escolhidos para responder a tal imbecilidade tiveram o bom senso de responder "são da mesma estatura:" [12] ou "não é possível comparar" [5]. Deveríamos talvez fazer uma copa da idiotice: qual é a maior estupidez que você já leu na imprensa? Mas aí estaríamos talvez sem querer nos juntamos aos idiotas.

O fascismo

Para quem não sabe da ferocidade da ditadura argentina: "Primero mataremos a todos los subversivos; luego mataremos a los colaboradores; luego a los que permanezcan indiferentes. Y por ultimo, mataremos a los indecisos." Ibérico Saint-Jean, general argentino, governador da provincia de Buenos Aires, 1977.

Saudades de Belo Horizonte (desde muito longe)

“- Dói muito? - Muito, Doutor. Dói demais. Tem um país saindo de dentro de mim e não entra nada no buraco que fica latejando, velando minha insônia, pedindo não sei bem o quê. E não há tango argentino que resolva, Doutor. Nem o tango argentino me resta.” O melhor texto que eu já li passou ali na minha frente quando eu nem esperava nem queria. O capricho das palavras, os caprichos da poesia, como os de Goya, caindo de fora de dentro do meio pediam pelo silêncio sutilmente histérico da cidade que é a minha casa. Ela é que me faz falta. O resto é um outro silêncio que me abraça cada vez que eu encaro duro o fato de que o ser humano humano mesmo como a imaginação humana concebe nesse sonho que é a vida não existe – o ser humano de fato é assim, que nem eu: o ser humano mesmo não passa mesmo de um negocinho muito besta. [esse é um poema já meio velho escrito de um outro momento de exílio e é estranho para mim relê-lo agora que estou de volta mais uma vez por apenas um par de meses a Belo Ho

Sociedade da Desinformação

Sociedade da Desinformação Um caso ilustrativo do poder de reverberação da informação pelos meios de comunicação: uma biógrafa nos informa que o seu biografado, um famoso autor mexicano que publicou diversos contos numa revista literária mexicana nos anos 40 e 50, ilustrava seus textos com suas próprias, também hoje famosas, fotografias, comparando-o com um autor mais recente, W.G.Sebald, que incorporava imagens fotográficas aos seus romances [li e recomendo muito Austerlitz, desse autor alemão morto precocemente]. Um jornalista “especializado” nesse famoso autor mexicano publica artigo em jornal respeitado no próprio México e cita a tal biógrafa, falando justamente da integração entre fotografia e literatura na obra do autor e repetindo a associação entre ele e W.G. Sebald. O autor em questão é nada menos que Juan Rulfo, um dos melhores escritores do século XX [um levantamento junto a especialistas pelo jornal El País elegeu seu romance Pedro Páramo a mais importante obra em espanhol

Esperança à moda Carlos Drummond de Andrade

O elefante Fabrico um elefante de meus poucos recursos. Um tanto de madeira tirado a velhos móveis talvez lhe dê apoio. E o encho de algodão, de paina, de doçura. A cola vai fixar suas orelhas pensas. A tromba se enovela, é a parte mais feliz de sua arquitetura. Mas há também as presas, dessa matéria pura que não sei figurar. Tão alva essa riqueza a espojar-se nos circos sem perda ou corrupção. E há por fim os olhos, onde se deposita a parte do elefante mais fluida e permanente, alheia a toda fraude. Eis meu pobre elefante pronto para sair à procura de amigos num mundo enfastiado que já não crê nos bichos e duvida das coisas. Ei-lo, massa imponente e frágil, que se abana e move lentamente a pele costurada onde há flores de pano, e nuvens, alusões a um mundo mais poético onde o amor reagrupa as formas naturais. Vai o meu elefante pela rua povoada, mas não o querem ver nem mesmo para rir da cauda que ameaça deixá-lo ir sozinho. É todo graça, embora as pernas não ajudem e seu ventre balof

Cidade do México

A Cidade do México é uma das cidades mais interessantes que eu já conheci. Eu moro perto de Nova Iorque e visito a cidade pelo menos uma vez por mês, mas comparada com a Cidade do México, a gringolândia fica no [meu] chinelo. Vou me explicar, traduzindo em termos familiares: imagine juntos, no mesmo lugar, a força cultural e econômica da São Paulo de hoje em dia, os tesouros da longa história de capital desde os tempos da colônia de Salvador e Rio de Janeiro, o poder e grandiosidade arquitetônica [e a intriga] de Brasília e, ainda por cima [ou melhor por baixo] uma gigantesca Machu Pichu Asteca. Em um passeio de não mais que DEZ quarteirões pelo centro dessa cidade você passa por um Teatro Municipal do Rio, uma Confeitaria Colombo, uma São Francisco de Assis de Ouro Preto, um palácio colonial, um MASP, uma Avenida Paulista, um Pelourinho, um par de livrarias fantásticas e uma pirâmide Asteca! Imagine ainda uma cidade que, além de atrair os maiores talentos do seu país, tem as marcas de

Alfonso Reyes e o Rio de Janeiro

Alfonso Reyes foi embaixador mexicano no Rio de Janeiro por seis anos. Companheiro de geração de José Vasconcelos [que escreveu seu famoso Raza Cósmica depois de uma viagem ao Brasil como ministro da educação mexicano em 1922], Reyes era um homem ameno de natureza bem diferente da de Vasconcelos - enquanto Vasconcelos trouxe consigo a imensa estátua de Cuautemoc em trajes de guerra que ainda hoje recebe quem chega ao centro do Rio vindo pelo aterro, Reyes doou uma pequena estátua de Xochipilli, deus Maia das flores, que fica escondida dentro do Jardim Botânico. Além de figurante ilustre no "Rondó dos Cavalinhos" de Manuel Bandeira [com quem Don Alfonso fez excursões memoráveis ao Mangue e à Lapa], Reyes escreveu um livro em homenagem ao Rio de Janeiro e fez uma pequena edição caprichada que presenteou a amigos antes de ir embora. Apresento aqui só a entrada do primeiro poema: Río de Enero, Río de Enero fuiste río y eres mar: lo que recibes con ímpetu

Campanha política na sociedade de massas na Babilônia [e no resto do mundo]

Roger Stone é um operador republicano tipo peixe-pequeno envolvido em várias campanhas eleitorais americanas, desde Nixon a Bush Filho. Por mais pequeno e desimportante que Stone seja, ele esteve próximo de dois momentos muito simbólicos do pior da política americana recente: a recontagem de votos na Flórida na primeira “eleição” de Bush e a recente queda do governador Spitzer de Nova Iorque. O sujeito é uma peça rara, um sessentão com o corpo todo malhado que tem uma cara de Richard Nixon tatuada nas costas e vive em Miami com a segunda esposa de uma dessas “veneráveis” famílias de exilados cubanos. Entre as suas “artes” mais recentes está um “grupo” anti-Hillary Clinton chamado de Citizens United Not Timid – CUNT [um trocadilho infame com essa palavra que pode ser usada para o orgão sexual feminino e para um xingamento difícil de traduzir para pessoas do sexo feminino]. Entre várias lorotas e bravatas ditas por ele em reportagem especial da New Yorker sobre a sua pessoa, Roger Stone

Uma voz - poema em quatro partes

I Torce os duros tendões do tempo, guarda o mundo dentro, mergulha entre escrito e não-escrito (os dois lados de todo livro). Densa, funda, muda, nua na frente, vestida de gente, finge que finge que finge que finge e antes da visita do ponto final engole a sua derrota no prato de cal, seca o rosto e some.

Novos e velhos capitães da indústria na Babilônia e em Pindorama

A história da industrialização dos Estados Unidos é marcada pelos nomes de um bando de homens extremamente ricos, os chamados capitães da indústria e das finanças americanas: Andrew Mellon, Jay Gould, James Fisk, J.P. Morgan, John D. Rockefeller senior and junior, William H. and Cornelius Vanderbilt, William Randolph Hearst, Daniel Guggenheim, Andrew Carnegie, etc. Eles eram também chamados pejorativamente de “robber barons” (algo como barões ladrões, termo de origem incerta que alguns dizem ter se originado na Alemanha para se referir a nobres que extorquiam quem passasse pelo rio Reno), termo que ganhou grande popularidade durante a depressão que devastou a economia americana nos anos 30. Seus apologistas por outro lado inventaram o termo “industriais estadistas”, que, acredito, dispensa maiores explicações. Essa coisa da filantropia em si é, para mim, questionável. Afinal quem defenderia em sã consciência que um sujeito expropriasse ao máximo seus empregados e clientes para depois f