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Campanha política na sociedade de massas na Babilônia [e no resto do mundo]


Roger Stone é um operador republicano tipo peixe-pequeno envolvido em várias campanhas eleitorais americanas, desde Nixon a Bush Filho. Por mais pequeno e desimportante que Stone seja, ele esteve próximo de dois momentos muito simbólicos do pior da política americana recente: a recontagem de votos na Flórida na primeira “eleição” de Bush e a recente queda do governador Spitzer de Nova Iorque. O sujeito é uma peça rara, um sessentão com o corpo todo malhado que tem uma cara de Richard Nixon tatuada nas costas e vive em Miami com a segunda esposa de uma dessas “veneráveis” famílias de exilados cubanos. Entre as suas “artes” mais recentes está um “grupo” anti-Hillary Clinton chamado de Citizens United Not Timid – CUNT [um trocadilho infame com essa palavra que pode ser usada para o orgão sexual feminino e para um xingamento difícil de traduzir para pessoas do sexo feminino].
Entre várias lorotas e bravatas ditas por ele em reportagem especial da New Yorker sobre a sua pessoa, Roger Stone disse que pretende publicar um livro com suas “regras de Stone [um trocadilho com o nome, “pedra”] para a Guerra, política, moda e vida” e adiantou algumas. Eu destaco três para caracterizar o personagem:
“Quando eu escuto a palavra ‘cultura’, pego logo meu revólver.”
“Você é preto? É latino? É gay? Então que caralho você está fazendo no Partido Democrata?”
“O ódio é uma força motivadora maior que o amor.”
E outras quatro para caracterizar a cultura política que ele representa:
“Sempre use atalhos.”
“Ataque, ataque, ataque – nunca se defenda.”
“Não admita nada, negue tudo e lace um contra-ataque”
“Fique na moita, finja-se de bobo, continue agindo.”
Esses quatro “princípios” são significativos dos descaminhos da tática política na sociedade de massas em qualquer lugar. Os detalhes que variam de um país para o outro são o conteúdo do discurso político [já é um sintoma pernicioso a gente ver o conteúdo da mensagem ser mero detalhe]; a essência está aí e pode ser aplicada a qualquer lado, direita, esquerda, tanto faz. Essa gente domina a prática política atual em escala global, às vezes pessoalmente, o próprio Stone anda agora metido em campanhas na Ucrânia. Na base dessa tática barra pesada de campanha está um velho princípio de um coronel mineiro que eu tenho certeza que contaria com a concordância entusiasmada de Stone:
“Em eleições o único pecado é perder.”
No Brasil os imitadores de Stone e companhia ganharam literalmente todas as eleições presidenciais até hoje e a transformação de Lula do “sapo-barbudo comunista perigoso pobre ressentido que nunca vai ganhar” no triunfal “Lulinha paz e amor” das metáforas futebolísticas, ternos impecáveis e sorriso ameno é a sua maior “glória”. O que aconteceu depois de cada uma dessas eleições é prova cabal de que essas mudanças não são meramente cosméticas. Até quando eles vão ganhar as eleições?

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