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Ponta de Areia de Milton Nascimento

"Ponta de Areia" é uma daquelas canções especiais dos anos 70. Especial por quê? A música popular, mesmo depois da indústria cultural, tem muito de repetição de motivos e ritmos convencionais, que já foram tocados antes. Assim, cada "nova" composição é uma recombinação de retalhos [as vezes só um par deles, as vezes apenas a reciclagem de um retalho só]. "Ponta de Areia" é tão "estranha" que parece ter sido composta na lua - basta seguir o trabalho rítmico de baixo e bateria para entender o que eu quero dizer. Estão misturadas tantas ideias musicais nessa pontinha de areia tão singela, ideias que parecem ter sido tiradas antes de tudo do violão e da voz de Milton Nascimento do que da escuta de algum disco velho empoeirado.  Além disso a letra de Fernando Brant, curtinha e telegráfica, fala de duas coisas que calam fundo a tantos mineiros. Afinal eu, que no fundo sou mineiro só ao meio, conheci centenas e centenas de mineiros de todos os tipos...

Milton entre letristas num momento luminoso

A música [sensacional, melodicamente e ritmicamente tão ousada] é de Milton Nascimento, mas a letra é dividida entre os dois parceiros mais importantes dele: Márcio Borges [que predomina na primeira parte da carreira nos anos 70] e Fernando Brant [que predomina na segunda, nos anos 80]. Ainda que eu prefira muito mais o Milton Nascimento dos anos 70, Fernando Brant era um excelente letrista, tão bom quanto Márcio Borges. São letristas excelentes e diferentes: as letras de Márcio Borges são mais ácidas, tem mais arestas e momentos de surrealismo, enquanto as de Fernando são bem mais claras, luminosas, alcançando num equilíbrio difícil entre a circunspecção e a sinceridade.  Suponho, sem saber ao certo, que Fernando Brant começa e que Márcio Borges assume a partir de "Alertem todos os alarmas". Aqui a letra: O que foi feito, amigo, De tudo que a gente sonhou? O que foi feito da vida? O que foi feito do amor? Quisera encontrar aquele verso menino que escrevi há tant...

Adeus, Fernando Brant!

Foto minha: Água e Pedra em Diamantina Nessa época na casa dos meus pais cada disco novo de Milton Nascimento ou de Chico Buarque era um acontecimento. Meu pai comprava o disco, levava para casa e a família inteira se reunia em volta da vitrola. Escuteavamos quase me silêncio um lado, alguns faziam uns comentários [nunca eu] e escutávamos o segundo lado. Meu pai se maravilhava com Fernando Brant e eu me encantava mesmo era com a voz do Milton. Pensava comigo que o Milton podia compor em cima de um anúncio de Colorama e tudo ficava lindo. Um desses grandes enganos da infância, direito de qualquer um. Além do mais eu curtia os discos mais antigos, menos doces e as letras nonsense do Márcio Borges. O fato é que quando Milton se fazia acompanhar de um grande letrista que sabia encontrar as palavras justas para os meandos delicados dessas melodias de fazer o coração palpitar... Fernando Brant, nos seus momentos mais felizes, era o melhor deles; meu pai tinha razão.  Itamarandiba ...