A música [sensacional, melodicamente e ritmicamente tão ousada] é de Milton Nascimento, mas a letra é dividida entre os dois parceiros mais importantes dele: Márcio Borges [que predomina na primeira parte da carreira nos anos 70] e Fernando Brant [que predomina na segunda, nos anos 80]. Ainda que eu prefira muito mais o Milton Nascimento dos anos 70, Fernando Brant era um excelente letrista, tão bom quanto Márcio Borges. São letristas excelentes e diferentes: as letras de Márcio Borges são mais ácidas, tem mais arestas e momentos de surrealismo, enquanto as de Fernando são bem mais claras, luminosas, alcançando num equilíbrio difícil entre a circunspecção e a sinceridade.
Suponho, sem saber ao certo, que Fernando Brant começa e que Márcio Borges assume a partir de "Alertem todos os alarmas". Aqui a letra:
O que foi feito, amigo,
De tudo que a gente sonhou?
O que foi feito da vida?
O que foi feito do amor?
Quisera encontrar
aquele verso menino
que escrevi há tantos anos atrás.
Falo assim sem saudade.
Falo assim por saber:
Se muito vale o já feito,
Mais vale o que será. [Mais vale o que será!]
E o que foi feito é preciso conhecer
para melhor prosseguir.
Falo assim sem tristeza.
Falo por acreditar
Que é cobrando o que fomos
Que nós iremos crescer. [Nós iremos crescer]
Outros outubros virão.
Outras manhãs
plenas de sol e de luz.
Alertem todos os alarmas
Que o homem que eu era voltou.
A tribo toda reunida.
Ração dividida ao sol
de nossa Vera Cruz.
Quando o descanso era luta pelo pão
E aventura sem par.
Quando o cansaço era rio
E rio qualquer dava pé.
E a cabeça rodava
num gira-girar de amor.
E até mesmo a fé não era cega nem nada
Era só nuvem no céu e raiz.
Hoje essa vida só cabe
Na palma da minha paixão.
Devera nunca se acabe
Abelha fazendo o seu mel. [No canto que criei!]
Nem vá dormir como pedra e esquecer
O que foi feito de nós.
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