Amália Rodrigues e Paulo Maurício como Eugénia Camara e Castro Alves no filme Vendaval Maravilhoso de 1949 |
Trecho muito interessante da última entrevista de Castro Alves, de 1871 [a entrevista completa pode ser encontrada aqui ou aqui], quando ele fala sobre o fim do seu relacionamento com a atriz Eugénia Camara:
"... lá [em São Paulo] o nosso amor chegou ao fim. O meu objetivo era terminar os estudos
na Faculdade do Largo de São Francisco e o de D. Eugênia retornar aos
palcos. No início retomamos a vida intelectual e boêmia, freqüentando
saraus e salões, sempre com muito sucesso. Porém, rapidamente, o nosso
relacionamento se deteriorou. Eram cada vez mais constantes as nossas
desavenças. Cenas violentas, ciúmes, brigas, precárias reconciliações.
Sopravam-me histórias de adultério. No entanto, sei que ela me amou,
como sei que, talvez, meu amor tenha sido insuficiente para sua paixão.
Não a recrimino. Em determinado momento, largou a carreira para me
seguir. Depois, me largou para seguir a si própria. Rompemos em 68 e a
última vez que a vi foi no ano seguinte apresentando-se no Teatro Fênix
Dramática, no Rio de Janeiro, quando pude lhe oferecer meus derradeiros
aplausos. Despedi-me de Eugênia com a poesia 'Adeus', que termina assim
(acomodando-se na cadeira):
Quis te odiar, não pude. – Quis na Terra
Encontrar outro amor. – Foi-me impossível.
Então bendisse a Deus que no meu peito
Pôs o germe cruel de um mal terrível.
Sinto que vou morrer! Posso, portanto,
A verdade dizer-te santa e nua:
Não quero mais teu amor! Porém minh’alma
Aqui, além, mais longe, é sempre tua.
E
Eugênia me respondeu com uma outra e que sei de cor. Vou dizer-lhe a
primeira e a derradeira das 14 estrofes (a voz um pouco mais baixa):
Adeus, irmão desta alma, digo-te Adeus!
Mas deixa que eu evite esse – jamais! –
Que o céu se compadeça aos rogos meus
E um dia cessarão teus e meus ais!
Adeus! Se um dia o Destino
Nos fizer ainda encontrar
Como irmã ou como amante
Sempre! Sempre me hás de achar."
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