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Showing posts with the label Postais
"Um artista faz algo novo de forma que outra pessoa faça daquilo algo bonitinho."  Pablo Picasso "Dizem que as crianças fingem que as coisas que elas amam tem vida. Bobagem - elas têm vida." Mary Butts "O colonizado é uma pessoa perseguida cujo sonho mais constante é tornar-se um perseguidor." Franz Fanon "História é ironia em movimento." E. M. Cioran

Postais: o dentro e o fora das coisas

"Para mim, estilo é exteriorização do conteúdo, e conteúdo, a internalização do estilo; como as partes externa e interna do corpo humano, ambos caminham juntos e não podem ser separados". Jean-Luc Godard "... os  Road Movies  mais interessantes são justamente aqueles em que a crise de identidade do protagonista da história reflete a crise de identidade de uma cultura, de um país." Walter Salles Desenho meu: "... the only way to survive." "... eventos são reais não porque ocorreram mas porque, em primeiro lugar, ele alguém se lembrou deles e, em segundo lugar, porque eles encontram seu lugar numa sequência ordenada cronologicamente. [...] ... o valor dado à narratividade na representação de eventos reais vem do desejo de ver nos eventos reais uma exibição de coerência, integridade, completude e fechamento que pertencem a uma imagem da vida que é, e só pode ser, imaginária. " Hayden White

Postais do Inferno: Sobre tamanhos

"Eu estou tentando dizer tudo numa só frase, entre uma Maiúscula e um ponto final. Estou ainda tentando conter tudo, se possível, na cabeça de um alfinete. Eu não sei como fazê-lo. Eu só sei continuar tentando cada vez de um jeito diferente."  “I’m trying to say it all in one sentence, between one Cap and one period. I’m still trying to put it all, if possible, on one pinhead. I don’t know how to do it.  All I know to do is to keep on trying in a new way.” William Faulkner, carta a Malcolm Cowley Desenho meu: Auto-Retrato  "( …) o que me interessa, na ficção, primeiro que tudo, é o problema do destino, sorte e azar, vida e morte. O homem a “N” dimensões ou então, representado a uma só dimensão: uma linha, evoluindo num gráfico. Para o primeiro caso, nem o romance ainda não chega; para o segundo, o conto basta. Questão de economia. ” João Guimarães Rosa, entrevista a Ascendino Leite -->

Postais do Inferno: soluções de Mencken, Cage e Aguilar Mora

Desenho meu: Schoenberg e Cage “Para cada problema complexo há uma resposta clara, simples e errada”.  H. L. Mencken "For every complex problem there is an answer that is clear, simple, and wrong." "[Schoenberg] me perguntou qual era o princípio na base de todas as soluções e eu não sabia a resposta. Isso foi em 1935 e se passariam pelo menos 15 anos até que eu pudesse responder àquela pergunta. Hoje eu responderia que o princípio na base de todas as nossas soluções é a pergunta que fazemos." John Cage "[Schoenberg] asked me what the principle underlying all the solutions was I couldn't answer. This happened in 1935 and it would be at least fifteen more years before I could answer his question. Now I would answer that the principle underlying all of our solutions is the question we ask." "Eu queria evitar essas reações de triste debilidade que imediatamente buscam interpretações ou argumentos para 'demonstrar' algo da obra ou...

Postal: Turner

Máscara mortuária de Turner feita por Thomas Woolner em 1851 "Ninguém acreditaria,  ao ver uma imagem da minha pessoa,  que fui eu que pintei esses quadros." JMW Turner Quadro de Turner com o qual convivi por nove anos. Perdi a conta das vezes em que me sentei na frente dele.

Postais do Inferno: O testamento de Victor Hugo

Testamento de Victor Hugo, um exemplo de concisão: " Je donne cinquante mille francs aux pauvres. Je veux être enterré dans leur corbillard. Je refuse l'oraison de toutes les Eglises. Je demande une prière à toutes les âmes. Je crois en Dieu. " "Dou cinquenta mil francos aos pobres. Quero ser enterrado num féretro como os deles. Eu recuso as orações de todas as igrejas. Eu peço uma prece a todas as almas. Eu creio em Deus.

Postal do passado recente feito ruína

Um shopping, uma fábrica, um teatro em Detroit: marcas visíveis, cicatrizes na paisagem urbana gritando em silêncio uma das nossas muitas perversas insanidades do capitalismo,   aquilo que Marx chamava de destruição ou aniquilamento [ Vernichtung ]  criativa/o:  a destruição sistemática da riqueza  para que se abra espaço  para a criação de nova riqueza  e a reconfiguração da ordem econômica.  Tem gente que acha lindo .  As fotos são - na minha opinião - lindas não só pela composição e jogo de luz e cores e tal mas porque uma ruína assim nos fala de uma morte íntima e monumental daquele momento em que um passado reconhecível começa a fazer parte da história, quando de repente a nossa própria vida  vira também matéria de arqueologia e as coisas que vimos construírem  pirâmides em ruínas. É na morte que as pedras  que a gente achava mortas revelam-se, paradoxalmente, vidas.

Postal: Sobre a nossa nudez dos outros

Da série de Bonecas de Bellmer, 1934 “Todos andam inteiramente nus, as mulheres, porém, trajam uma tanga de forma triangular feita de folhas de palmeira bastante modesta , sendo maior do que um olho, mas menor do que uma orelha. Neste respeito o sentimento de vergonha, oriundo da nossa educação é inteiramente desconhecido por elles. Mas também não se póde contestar que já depois de uma curta estada no meio delles a sua nudez não dá mais na vista e pelo costume a falta de todas as vestimentas desapparece diante de nossos olhos. Nós tambem, já disse um philosopho, no final de contas, estamos nus dentro da nossa roupa.” Karl Von Steinen, "O rio Xingu", 1888 [ortografia e outras marcas como no original da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, Tomo IV, 3o Boletim]

Postal: Lição de Astronomia no Xingu em 1888

Foto em  Unter den Naturvölkern Zentral-Brasiliens , de Karl von den Steinen (1894) Lição de Astronomia … observaram com attenção  cada nuvemzinha no ceo e me ensinaram sobre as estrellas  uma astronomia exquisita; pois o sol representa uma  corôa de pennas de arara, a lua, outra de pennas de japú, o Orion a estiva que elles usam  para torrar a massa de mandioca, e os Pleiades um montezinho  de farinha de mandioca, o Cruzeiro um mondéo  para apanhar passarinhos, a Via lactea uma arvore colossal sem folhagem, que se usa para produzir sons iguaes ao jongo dos negros. Cada pio das aves ou voz de quadrupedes, que vinha da matta aos nossos ouvidos era observado. por elles com toda attenção e imitado. [198] Karl von den Steinen, “Xingu” publicado na Revista Geográfica do Rio de Janeiro em 1888 [na grafia original]

Substitua "Estado Novo" por "Ditadura Militar" e veja o "hoje" se transformar em hoje

Coisa custosa arrumar uma foto da Pagu nos anos 40. Tive que cortar o Geraldo Ferraz dessa foto que você encontra aqui . "Agora tenho que pensar: realmente, nos anos do Estado Novo,  era comum a justificativa: 'não posso escrever sem liberdade'.  Hoje o 'slogan' é outro: 'preciso ganhar para viver'.  Mas, na realidade, só excepcionalmente  vive um escritor, aqui,  de literatura. Uns tem negócios, outros um emprego." Patrícia Galvão, "Cor Local", 1946 

Lima Barreto desce ao inferno: "Despeço-me de um por um dos meus sonhos"

Foto da Ficha de Internação de 1814, na qual Lima Barreto diz ser "alcoolista imoderado, não fazendo questão da qualidade"  Despeço-me de um por um  dos meus sonhos.  Trecho do diário de Lima Barreto em 20 de abril de 1914 Hoje tive um pavor burro.  Estarei indo para a loucura? Trecho da entrada seguinte, de 13 de julho de 1914 Estive no hospício de 18-8-14 a 13-10-1914.  Entrada seguinte do diário, completa.

Postal: Pagu traduzindo a segunda-feira braba

Foto minha da série "The Land of the Free" "Os chinelos de cor se arrastam sonolentos ainda sem pressa na segunda-feira. Com vontade de ficar para trás. Aproveitando o último restinho de liberdade." Trecho de "TEARES" capítulo inicial de  Parque Industrial de Patrícia Galvão 

Postal: O pastor pianista

Foto minha: Fantasmas em Erector Square O pastor pianista Murilo Mendes Soltaram os pianos na planície deserta Onde as sombras dos pássaros vêm beber. Eu sou o pastor pianista, Vejo ao longe com alegria meus planos Recortarem os vultos monumentais Contra a lua. Acompanhado pelas rosas migradoras Apascento os pianos que gritam E transmitem o antigo clamor do homem Que reclamando a contemplação Sonha e provoca a harmonia, Trabalha mesmo à força, E pelo vento nas folhagens, Pelos planetas, pelo andar das mulheres, Pelo amor e seus contrasts, Comunica-se com os deuses. As Metamorfoses 1941 Source: acd.ufrj.br/pacc/literaria/pastor.html

Postal: Voando em asas de pedra com Murilo Mendes

Foto minha: Asa de Pedra Cantiga de Malazarte  Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo,  ando debaixo da pele e sacudo os sonhos.  Não desprezo nada que tenha visto,  todas as coisas se gravam pra sempre na minha cachola.  Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos,  destelho as casas penduradas na terra,  tiro os cheiros dos corpos das meninas sonhando.  Desloco as consciências,  a rua estala com os meus passos,  e ando nos quatro cantos da vida.  Consolo o herói vagabundo, glorifico o soldado vencido,  não posso amar ninguém porque sou o amor,  tenho me surpreendido a cumprimentar os gatos  e a pedir desculpas ao mendigo.  Sou o espí­rito que assiste à  Criação  e que bole em todas as almas que encontra.  Múltiplo, desarticulado, longe como o diabo.  Nada me fixa nos caminhos do mundo.