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"Fresh off the Boat", como eu aprendi a ser bilíngue


Para além do discurso de tolerância e cultivo à diversidade, nos Estados Unidos vive-se uma imensa pressão diária para que o imenso contingente de imigrantes se enquadre à cultura desse que é o menos globalizado dos países do mundo, mesmo porque globalização em termos culturais significa primordialmente americanização. Uma expressão comum mesmo entre crianças representa bem essa pressão: um pessoa é FOB ou "fresh off the boat" [algo como "com cheiro de quem acabou de desembarcar"], que significa que a tal pessoa ainda não consegue se comportar de forma a não chamar nenhuma atenção para si mesmo como diferente. Como é que uma criança se revela como "fresh off the boat" na escola? Pelos sapatos, meias, calça, cinto, camisa, casaco, penteado, mochila, cadernos, hábitos alimentares na hora do recreio, lancheira, tipo de lancheira, sotaque, vocabulário e sintaxe, pelo jeito de assentar na carteira, de guardar os cadernos, de cumprimentar a professora, de brincar, de praticar esportes, pelo tipo de esporte, por assistir televisão, pelos tipos de programa de televisão etc.
Nada de disso me soa estranho: eu já fui o único carioca numa escola com quinhentos mineiros no coração de Belo Horizonte.

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