Skip to main content

Charles B. Johnson, cidadão exemplar



Em 2012 o governador da Califórina Jerry Brown propôs um aumento nos impostos [um equivalente ao nosso ICMS e ao imposto de renda estadual que não existe no Brasil] dos mais ricos do estado para financiar melhor o sistema de universidades estaduais. Os opositores da medida [chamada de Prop 30] investiram mais de um milhão de dólares numa campanha publicitária destinada a convencer o eleitor que era uma má ideia. O maior contribuinte desse esforço foi o principal acionista no time de baseball San Francisco Giants, o bilionário Charles B. Johnson, dono do grupo de investidores Franklin Resources, que doou $200,000 para a campanha. A proposta era aumentar o imposto de quem tem renda acima de um milhão de dólares por ano de 10.3% para 13.3%.  [leia aqui]


Aqui uma das propagandas contra a proposta do governador Jerry Brown:




Em 2013 o mesmo Charles B. Johnson se aposentou e resolver dar 250 milhões de dólares para Yale [onde ele se formou em 1954]. É até o momento a maior doação já feita ao Yale College. Não foi a primeira vez mas coroou uma vida de doações generosas ao programas de esportes [com a reforma do estádio de futebol americano] e relações internacionais [com um centro de estudos da diplomacia americana que recebeu os papéis do malfadado Henry Kissinger com pompa e circunstância] da universidade possibilitando numa só tacada que o plano de expandir a graduação com a criação de mais dois centros de residência [a vida universitária gravita em torno desses centros de residência chamados de “residential colleges” – são 12 hoje em dia]. [Mais aqui]

Não há nada de errado em doar dinheiro para uma universidade – no Brasil as pessoas costumam chamar universidades como Yale, Columbia, Princeton e Harvard de “privadas” como se elas fossem universidades-empresas feitas para gerar lucro, que não é o caso de jeito nenhum. Essas universidades não têm acionistas, não tem que dar lucro e, em geral, não dependem primordialmente do dinheiro arrecadado pelas mensalidades para funcionar. Mas me chama a atenção que o mesmo sujeito – que herdou a empresa criada pelo seu pai em 1947 – gaste 200 mil dólares contra a educação pública e um ano depois se dispunha a gastar 250 milhões com a educação privada.

A fundo de investimento de Johson, a Franklin Resources administra 900 bilhões de dólares [mais que o PIB da Argentina] e vale $34 bilhões. De acordo com aquela revista Caras dos endinheirados ele “vale” 6.5 bilhões de dólares.

Para completar o perfil do filantropista de 82 anos falta saber que bicho vai dar uma história meio cabulosa de um caso na justiça em que Charles está sendo acusado de fraudar um dos primeiros investidores na empresa em 150 milhões de dólares. O investidor teria emprestado dinheiro em troca de ações quando Charles tornou a empresa que recebeu do pai em 1957 em empresa pública com ações no Mercado nos anos 70. O caso apareceu no começo de 2015 e pode não dar em nada. [leia aqui a notícia sobre o caso]

Não tenho o menor interesse aqui nesse meu quintal jogado às moscas de criar vilões de cinema americano e sair malhando judas. Sem entrar nas entranhas da personalidade ou dos detalhes da vida do sujeito em questão, o contraste entre o inimigo ferrenho da Prop 30 e melhor amigo de Yale é o suficientemente exemplar para mim. Não estou falando de um homem malvado ou cheio de boas intenções. Estou falando aqui de uma verdadeira guerra de princípio contra qualquer forma de distribuição de renda, vinda da parte de uma pequena mas cada vez mais poderosa classe de bilionários que souberam explorar as frustrações com os muitos fracassos do estado e também ressentimentos de classe/raça profundos de uma classe média cada vez mais pressionada economicamente. Essa é uma guerra que só poderia ser nivelada se aumentassem as restrições à influência do poder econômico no processo político. O que se vê é, infelizmente, justamente o contrário. Num processo político de uma sociedade de massas o que pode um sindicato, por exemplo, contra um sujeito que tem metade do PIB da Argentina para doar? O governador Jerry Brown conseguiu convencer um número considerável de bilionários e multimilionários da conveniência da sua proposta, arrecadou mais dinheiro que seus opositores e ganhou essa parada. Mas os limites do processo democrático concebido nessas bases são gritantes e as frustrações crescem. 

Comments

Popular posts from this blog

Diário do Império - Antenado com a minha casa [BH]

Acompanho a vida no Brasil antes de tudo pela internet, um "lugar" estranho em que a [para mim tenebrosa] classe m é dia brasileira reina soberana, quase absoluta, com seus complexos, suas mediocridades e sua agressividade... Um conhecido, daqueles que ao inv és de ter um blogue que a gente visita quando quer, prefere um papel mais ativo, mandando suas "id éias" para os outros por e-mail, me enviou o texto abaixo, que eu vou comentar o mais sucintamente possível: resolvi a partir de amanh ã fazer um esforço e tentar, al ém do blogue, onde expresso minhas "id éias" passivamente, tentar me comunicar diretamente com as pessoas por carta... OS ALUNOS DE UNIVERSIDADES PARTICULARES DERAM UMA RESPOSTA; E A BRIGA CONTINUOU ... 1 - PROVOCAÇÃO INICIAL Estudar na PUC:............... R$ 1.200,00 Estudar no PITÁGORAS:..........R$ 1.000,00 Estudar na NEWTON:.....R$ 900,00 Estudar na FUMEC:............ R$600,00 Estudar na UNI-BH:........... R$ 550,00 Estudar na

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p

Protestantes e evangélicos no Brasil

1.      O crescimento dos protestantes no Brasil é realmente impressionante, saindo de uma pequena minoria para quase um quarto da população em 30 anos: 1980: 6,6% 1991: 9% 2000: 15,4%, 26,2 milhões 2010: 22,2%, 42,3 milhões   Há mais evangélicos no Brasil do que nos Estados Unidos: são 22,37 milhões da população e mais ou menos a metade desses pertencem à mesma igreja.  Você sabe qual é? 2.      Costuma-se, por ignorância ou má vontade, a dar um destaque exagerado a Igreja Universal do Reino de Deus e ao seu líder, Edir Macedo. A IURD nunca representou mais que 15% dos evangélicos e menos de 10% dos protestantes como um todo. Além disso, a IURD diminuiu seu número de fiéis   nos últimos 10 anos de acordo com o censo do IBGE, ao contrário de outras denominações, que já eram bem maiores. 3.      Os jornalistas dos jornalões, acostumados com a rígida hierarquia institucional católica não conseguem [ou não tentam] entender muito o sistema