Foto Minha: Água em Norman |
Deslumbramento foi o que eu senti quando li Alberto Caeiro, essa face mais luminosa de Fernando Pessoa. Se eu pudesse escrever como eu quisesse - uma triste impossibilidade, porque a gente não escreve o que quer como quer, a gente escreve o que dá conta como dá conta - gostaria de escrever forte e simples como Caeiro. Que Caeiro seja apenas uma das muitas faces de Fernando Pessoa me parece um exagero. Como é que Fernando Pessoa guardava tanta coisa assim dentro? Como é que ele dava conta de tanto? Eis um pedacinho do "Guardador de Rebanhos":
IX
Sou guardador de rebanhos
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheira-la
E Comer um fruto é saber-lhe o sentido.
E Comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de goza-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado no realidade
Sei a verdade e sou feliz.
Me sinto triste de goza-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado no realidade
Sei a verdade e sou feliz.
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