Skip to main content

East Haven, Cracolândia, Pinheirinho, show da Rita Lee

Quatro policiais em East Haven [cidade vizinha a New Haven] foram presos pelo FBI semana passada. O motivo era a violência e intimidação gratuita desses policiais contra os latinos da cidade e as tentativas de calar os que protestaram contra essas atitudes. Disse o diretor responsável pela operação:


“The four police officers charged today allegedly formed a cancerous cadre that routinely deprived East Haven residents of their civil rights. The public should not need protection from those sworn to protect and serve. In simple terms, these defendants behaved like bullies with badges.”


Até quando os policiais brasileiros vão ser aplaudidos por fazerem exatamente isso? Vou traduzir o miolo da declaração: “o público não deve precisar de proteção contra aqueles que juraram protegê-lo e servi-lo.”

Eis o vídeo do momento no show da Rita Lee em que ela “desacata” os policiais:





Em vista das manifestações na internet de que “maconheiro tem que apanhar” reafirmo aqui uma coisa, para mim óbvia: a polícia não tem direito de bater em NINGUEM. Nem em maconheiro, nem em traficante, nem em estelionatário, nem em proxeneta, nem em prostituta, nem em assaltante de banco, nem em batedor de carteira, nem em fumante, nem em travesti. Estejam certos ou errados, gostem ou não do que eles fazem, a polícia não tem o direito de abusar da força com ninguém. NINGUEM.

O Brasil pode crescer 5000% e virar a maior economia da via láctea; enquanto as pessoas não entenderem que a polícia não foi feita para dar cascudos em “quem está errado” e enquanto nós não tratarmos o problema do abuso da autoridade e da violência policial com a seriedade que ele tem, não adianta nada.

Viciado ou traficante na Cracolândia, morador ou manifestante no Pinheirinho, maconheiro ou não no show de Rita Lee; NINGUEM pode sofrer abuso policial. Recebidos com flores, baforadas ou pedradas, a polícia não tem direito de bater, xingar, empurrar, intimidar, torturar NIGUEM. Ela já tem o direito de prender – desde que a partir de um motivo justo – e isso, convenhamos, já é muito. A ditadura militar precisa acabar de vez ou o período democrático brasileiro é uma piada sem graça.

Comments

José Roberto said…
Prezado Paulo,
Perfeito seu comentário! As reações quanto ao episódio da Rita Lee estão variando muito, apesar do tom preconceituoso das críticas quanto à postura dela. Como todo fato tem 3 versões, a minha, a sua e a verdadeira, neste link http://oglobo.globo.com/pais/moreno/ temos a versão do governador Marcelo Déda quanto ao caso. Particularmente acho que houve exagero de todas as partes.
A filmagem infelizmente não mostra o que é que os policiais estavam fazendo que incomodou tanto a Rita Lee e aí fica difícil a gente julgar o caso em si. O que tem me chamado a atenção não é o caso em si, mas é a reação de muita gente, uma reação infelizmente muito comum no Brasil, que de "X tem mesmo é que levar porrada", sendo X alguma figura que não agrada a quem emite a opinião. Seja X o que for, inclusive figuras que eu desprezo e mesmo odeio, nem a polícia nem ninguém pode dar porrada nelas nem em ninguém. Acho inclusive que muita gente participa dessa conversa engajado num determinado interesse partidário - não estou de jeito nenhum dizendo que é o seu caso ou mesmo o do Moreno - e usam critérios contraditórios de avaliação para cada notícia.
Obrigado pela visita!
José Roberto said…
Perfeito novamente! Como eu tentei dizer em meu comentário as reações contrárias à atitude da Rita Lee não tem nada de analisadas, são em sua maioria preconceituosas, reacionárias e violentas. Gosto muito de seu blog e principalmente com suas análises que fogem do comum. Parabéns!

Popular posts from this blog

Contos: "O engraçado arrependido" de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...

Poema meu: Saudades da Aldeia desde New Haven

Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia, 
 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p...