Skip to main content

Missão Impossível: desarmar patrulhas num matagal de mal-entendidos - Parte III


[foto: pollo con mole]

Então – só para enfatizar, eu não quero que me prendam de jeito nenhum nesse matagal de mal-entendidos – não é questão de ser anti-crítico, nem bancar o cabotino com sinal invertido, nem tentar uma versão literária do – para mim detestável – Lulinha Paz e Amor, nem fazer uma leitura conspiratória de uma vida cultural governada por uma luta de interesses espúrios.
Para mim o importante é poder discutir literatura finalmente sem patrulhamentos, sabendo que alguns têm o direito de dizer apenas o pouco ou muito que já diz a sua obra; sabendo que não há nem nunca houve uma linha evolutiva muito menos um único caminho redentor para a literatura [nem para nada]; e principalmente sabendo que, mais do que as escolhas literárias em si, é o que o escritor faz com elas que realmente interessa.
Não dá para julgar a obra de ninguém pelas escolhas que supostamente a guiaram. Só para citar algumas das dicotomias mais manjadas do século passado [espero]: não é por ser nem urbano ou rural, nem social ou intimista, nem experimental ou tradicional, nem nacional ou cosmopolita, nem armado de emoção ou de intelecto que um texto literário se salva ou se dana.
Vamos a uma analogia culinária. Não são os ingredientes em si mas sim o que o cozinheiro faz com eles que determina a qualidade do produto final na mesa. Já imagino alguém pensado “ah, é? Mas têm ingredientes que não combinam de jeito nenhum.” Em literatura, não. E talvez nem em culinária: se vocês acham que chocolate com frango não combina, é porque nunca provaram um mole mexicano.

Comments

Anonymous said…
Eu tento, mas vcs me inspiram.
http://carambolismos.blogspot.com/
:-D

Popular posts from this blog

Protestantes e evangélicos no Brasil

1.      O crescimento dos protestantes no Brasil é realmente impressionante, saindo de uma pequena minoria para quase um quarto da população em 30 anos: 1980: 6,6% 1991: 9% 2000: 15,4%, 26,2 milhões 2010: 22,2%, 42,3 milhões   Há mais evangélicos no Brasil do que nos Estados Unidos: são 22,37 milhões da população e mais ou menos a metade desses pertencem à mesma igreja.  Você sabe qual é? 2.      Costuma-se, por ignorância ou má vontade, a dar um destaque exagerado a Igreja Universal do Reino de Deus e ao seu líder, Edir Macedo. A IURD nunca representou mais que 15% dos evangélicos e menos de 10% dos protestantes como um todo. Além disso, a IURD diminuiu seu número de fiéis   nos últimos 10 anos de acordo com o censo do IBGE, ao contrário de outras denominações, que já eram bem maiores. 3.      Os jornalistas dos jornalões, acostumados com a rígida hierarquia inst...

Poema meu: Saudades da Aldeia desde New Haven

Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia, 
 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.

Contos: "O engraçado arrependido" de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...