Skip to main content

Vá pra Porto Rico!

Cuba recentemente se transformou numa obsessão no Brasil. Tendo em vista a insularidade brasileira, qualquer interesse por um país estrangeiro é a princípio bem vinda. Além das idealizações e demonizações meio bestas que imperam no mundo gritado das redes sociais e na imprensa brasileira, acredito que devíamos olhar para Cuba, sim. Mas sinceramente não faz muito sentido querer comparar uma ilha caribenha pertinho da Flórida com um país imenso como o Brasil. Então, que tal comparar Cuba com Porto Rico? Assim a gente aproveita e conhece um pouquinho mais sobre essa outra ilha de gente orgulhosa e batalhadora, que tem muito mais a mostrar do que o tal “Despacito” [como, por exemplo, “Latinoamérica” do Calle 13, que pode não ser nenhuma “Despacito” mas tem mais de 80 milhões de acessos no iutúbio]: 

Infelizmente muito da História recente de Porto Rico não foi feita na ilha. Por exemplo, o Jones Act aprovado no congresso dos Estados Unidos em 1920 estipula unilateralmente que Porto Rico só pode receber em  seus portos bens e pessoas trazidos por navios dos Estados Unidos.  Qualquer semelhança com aquele velho “Pacto Colonial” que estudamos na escola não é mera coincidência. Graças ao Jones Act a pequenina Porto Rico oferece o quinto maior mercado consumidor de produtos estadounidenses do mundo e tem o maior acúmulo de Walmarts e Walgreens [cadeias comerciais americanas] por metro quadrado do mundo. Sem o Jones Act os preços ao consumidor na ilha abaixariam de 15 a 20% e a ilha poderia estabelecer comércio com a América Latina e o Caribe. Mas o Jones Act depende única e exclusivamente da vontade soberana do congresso nos Estados Unidos.

Antes de qualquer furacão a ilha vinha sendo devastada por uma crise de endividamento que chega a 107% do PIB de Porto Rico - 34.000 dólares por habitante, num lugar em que mais da metade da população está abaixo da linha da pobreza e a economia já encolheu mais de 9% nos últimos 10 anos. As soluções de novo são impostas pelos Estados Unidos e consistem naquela manjada receita do FMI: cortar gastos no governo – por exemplo, desmanchando a excelente universidade pública do país – e usar o dinheiro para pagar os credores. Na raiz do problema, a política econômica de industrializar Porto Rico oferecendo insenções fiscais ou impostos baixíssimos a empresas dos Estados Unidos – e mais uma vez o velho Pacto Colonial me vem à mente.




-->

Comments

Popular posts from this blog

Diário do Império - Antenado com a minha casa [BH]

Acompanho a vida no Brasil antes de tudo pela internet, um "lugar" estranho em que a [para mim tenebrosa] classe m é dia brasileira reina soberana, quase absoluta, com seus complexos, suas mediocridades e sua agressividade... Um conhecido, daqueles que ao inv és de ter um blogue que a gente visita quando quer, prefere um papel mais ativo, mandando suas "id éias" para os outros por e-mail, me enviou o texto abaixo, que eu vou comentar o mais sucintamente possível: resolvi a partir de amanh ã fazer um esforço e tentar, al ém do blogue, onde expresso minhas "id éias" passivamente, tentar me comunicar diretamente com as pessoas por carta... OS ALUNOS DE UNIVERSIDADES PARTICULARES DERAM UMA RESPOSTA; E A BRIGA CONTINUOU ... 1 - PROVOCAÇÃO INICIAL Estudar na PUC:............... R$ 1.200,00 Estudar no PITÁGORAS:..........R$ 1.000,00 Estudar na NEWTON:.....R$ 900,00 Estudar na FUMEC:............ R$600,00 Estudar na UNI-BH:........... R$ 550,00 Estudar na

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p

Protestantes e evangélicos no Brasil

1.      O crescimento dos protestantes no Brasil é realmente impressionante, saindo de uma pequena minoria para quase um quarto da população em 30 anos: 1980: 6,6% 1991: 9% 2000: 15,4%, 26,2 milhões 2010: 22,2%, 42,3 milhões   Há mais evangélicos no Brasil do que nos Estados Unidos: são 22,37 milhões da população e mais ou menos a metade desses pertencem à mesma igreja.  Você sabe qual é? 2.      Costuma-se, por ignorância ou má vontade, a dar um destaque exagerado a Igreja Universal do Reino de Deus e ao seu líder, Edir Macedo. A IURD nunca representou mais que 15% dos evangélicos e menos de 10% dos protestantes como um todo. Além disso, a IURD diminuiu seu número de fiéis   nos últimos 10 anos de acordo com o censo do IBGE, ao contrário de outras denominações, que já eram bem maiores. 3.      Os jornalistas dos jornalões, acostumados com a rígida hierarquia institucional católica não conseguem [ou não tentam] entender muito o sistema