A coisa mais valiosa que eu aprendi quando saí do Brasil para estudar (e depois trabalhar) foi algo que eu descreveria como uma técnica de leitura. Uma prática, primeiro, de leitura e, depois, de escrita persuasiva. Para ser justo, fui apresentado a ela ainda na UFMG, mas só porque me formei no bacharelado em literatura de língua inglesa com muitos professores que tinham sido treinados nos Estados Unidos. Me explico: essa técnica de leitura é absolutamente central no mundo de língua inglesa, sendo praticado por aqui de forma contumaz desde o ensino médio em todas as aulas que envolvam literatura e escrita na língua inglesa.
Enquanto isso no Brasil (no meu tempo de aluno pelo menos), era um esforço fútil e absurdo de tentar enquadrar textos dentro de uma lista escolas e estilos de época, normalmente descritos de uma forma tão vaga e formalista que chega a produzir textos didáticos que são simplesmente surreais.
Um exemplo:
O parnasianismo é definido como uma escola literária e tem a frase “arte pela arte” como principal frase de definição. Umas das principais características do parnasianismo se refere ao objetivismo. O parnasianismo é marcado pela influência direta de universalismo e do racionalismo. O movimento surgiu com o objetivo de combater o subjetivismo proposto pelas correntes literárias que o antecederam, a exemplo do romantismo. A influência e tradição clássica, o culto a forma, baseada na impessoalidade e na impassibilidade, o uso de uma linguagem mais clássica, rebuscada, culta e refinada e o uso de temas históricos e temas ligados a mitologia grega, também são algumas das principais características do parnasianismo.
Coitado de quem lê guiado por esse festival de generalidades bestas!
As pessoas no Brasil, especialmente aquelas formadas no Brasil apenas, costumam não entender muito bem essa técnica de ensino/pesquisa, chamada em inglês de "close reading", algo como leitura cerrada.
Vou tentar explicar às moscas:
Digamos que, em primeira estância, trata-se de encarar leitura como uma arte, uma técnica que a gente precisa praticar bastante para aprender bem. No Brasil, onde um livro custa mais de 10% do salário mínimo e a escola pública sobrevive na base do heroísmo de professores, um privilégio. Trata-se da arte de ler um texto complexo bem e de escrever algo interessante sobre essa experiência de leitura. Ler com atenção e cuidado e transformar sua leitura num texto argumentativo que só vale a pena existir porque ele revela algo minimamente interessante/novo sobre o texto em questão.
Vamos tentar de outro jeito:
Uma leitura bem cuidadosa de um texto em busca de uma interpretação interessante do mesmo e uma segunda leitura em busca de citações desse texto que funcionem como pistas concretas, evidências de que essa tal interpretação procede. Na prática da leitura cerrada, a autoridade, portanto, é o texto em si, não o que se disse sobre ele. Há uma demanda foco sustentado na leitura, coisa que cada vez menos gente é capaz, justamente por falta de prática.
Ou seja trata-se de um primeiro encontro com o texto em busca de entendê-lo em si mesmo, da melhor forma possível:
Por exemplo, vamos a um soneto de Raimundo Correia de 1883:
AMOR E VIDA
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