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De volta a Oklahoma

Abrindo caixas, fechando contas, lendo correspondências atrasadas, resolvendo pendências novas e antigas, vou encaixando minhas horas de escrita e leitura de volta à minha rotina. Antes das sete horas, já ajustados aos costumes e horários daqui, vamos todos jantar no fast-food baratinho de comida chinesa chamado Panda Express, uma franquia espalhada pelo país inteiro [acho]. 

Sentados bem ao nosso lado, um casal bem mais velho nos olha com aqueles olhinhos azul piscina apertados entre rugas queimadas de sol, com umas caras de poucos amigos ao escutar a gente falando entre nós mesmos numa língua estrangeira - isso se tornou uma coisa comum por aqui desde que Trumpete e cia soltaram os seus cachorros xenófobos pelas estepes e pradarias dos meios de comunicação de massa, despertando o furor anglo-saxão dormente no peito de muita gente. Cadeiras se roçam levemente e Letícia vira-se, sorrindo, e pergunta em inglês fluente e perfeito se eles precisam de mais espaço. Não, está tudo bem, respondem nossos vizinhos com aquela mesma cara de quem acabou de comer um rolinho de primavera estragado, uma expressão típica que me recebe em muitos lugares onde eu vou por aqui e que eu resolvi batizar de "Welcome to Oklahoma".  O detalhe é que logo depois, quando o senhor se levanta para pegar guardanapos ou qualquer coisa que o valha, vemos que ele tem um baita revólver amarrado na cintura entre o bermudão e a camiseta de verão! 

Um revólver na cintura numa calma tarde ensolarada de verão de uma cidade de 120 mil habitantes com índices de criminalidade pífios [inexistentes em comparação aos brasileiros]. Um revólver na cintura num pacato restaurante chinês num shopping plaza [desses centros de lojas com estacionamentos no meio que se encontra em qualquer canto dos Estados Unidos]. Um revólver na cintura. 

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