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Sobre Moçambique 1

 O grande momento do futebol português foi na Copa do Mundo de 1966. O país chegou ao terceiro lugar, derrotando a União Soviética depois de perder para a Inglaterra nas semifinais. O artilheiro da competição foi o maior jogador da seleção portuguesa Eusébio, "o pantera negra". 

O que poucos sabem é que Eusébio nasceu e viveu até os 17 anos em Moçambique. Eusébio era apenas um de quatro moçambicanos que formavam a espinha dorsal daquele time lendário. Eram Hilário da Conceição na defesa, Vicente Lucas e Mário Coluna no meio-campo e o mais novo deles todos, Eusébio, no ataque.

Naqueles tempos Moçambique era ainda colônia portuguesa. A guerra pela independência havia começado em 1964 e prosseguiria por mais dez anos. Em 1966, não havia vagas para times africanos na Copa do Mundo e fora os moçambicanos do time de Portugal praticamente só havia negros no time brasileiro. 

Em Moçambique, Eusébio jogou no "Futebol Clube os Brasileiros", time do mítico bairro de Mafalala em Maputo (então chamada de Lourenço Marques). Em meio a grande pobreza material, criou-se em Mafalala o que há de mais rico na cultura Moçambicana: a literatura de José Craveirinha [então preso na terrível prisão do Tarrafal em Cabo Verde] e o estilo musical Amarrenta. 

Em entrevista, Hilário da Conceição descreveu o bairro e o papel de Craveirinha nele: 

"Todos nós, nos bairros ou nas escolas tínhamos a mania de fazermos jogos entre bairros, entre o bairro da Mafalala, o bairro de Xipamanine e o bairro da Malhangalene. E como também tínhamos disputas de organizações entre bairros através do atletismo... Era o futebol e o atletismo. Eu digo atletismo porque nós tínhamos na Mafalala o poeta José Craveirinha. Ele vivia lá na Mafalala também, e nunca quis ir para a Polana [bairro nobre de Maputo]. E ele então é que incutiu que nós praticássemos basquete, que nós praticássemos atletismo, que nós praticássemos futebol. Era através do Craveirinha que nos incentivava para nos tirar... para não sermos bandidos, para não sermos gatunos. Então nós nos preocupávamos além da escola com a prática do desporto. Para nos tirarem esses vícios maldosos que havia por aí. Tudo o que eu sou hoje, tudo o que o Eusébio é hoje, devemos ao falecido José Craveirinha. Porque ele é que incutiu no nosso espírito esta maneira de fazer desporto. E nós tínhamos orgulho de fazer isso... porque era uma ocupação que nós tínhamos."

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