Skip to main content

Posts

Showing posts from April, 2025

A Liberdade e a Tutela do Liberalismo - John Stuart Mill

John Stuart Mill é uma espécie de santo padroeiro do liberalismo no âmbito da língua inglesa. Vejam, por exemplo, como se derrama o colunista Adam Gopnik na revista New Yorker logo na aberta de um artigo sobre o pensador inglês: "Com certeza ninguém nunca teve razão sobre tantas coisas diferentes por tanto tempo como John Stuart Mill, o filósofo, político e sabe-tudo-mor da Inglaterra no século XIX."  Uma boa forma de introdução ao pensamento político/filosófico de Stuart Hill é o primeiro capítulo do livro "Sobre Liberdade". Ali ele fala sobre três pilares da liberdade: a liberdade de consciência, a liberdade de decidir livremente o que fazer com a própria vida [desde que não se prejudique ninguém] e a liberdade de associação [desde que todos os membros tenham escolhido juntar-se].  Frequentemente ignorada é uma frase, a meu ver importantíssima daquele texto introdutório: "O despotismo é uma forma legítima de governo quando se trata de bárbaros, desde que seu ...

Música: Head of the Lake de Leanne Betasamosake Simpson

  Head of the Lake Lyrics by Leanne Betasamosake Simpson* Music by Nick Ferrio, Jonas Bonnetta, Ansley Simpson In a basement full of plastic flowers, Pierogis, cabbage rolls. At the head of the lake, thinking under accusation. At the mouth of the catastrophic river, Disappearing our kids. At the foot of the nest Beside trailer hitches, coffee, spoons. We made a circle And it helped. The smoke did the things we couldn’t. Singing broke open hearts, I hold your hand Without touching it. We’re in the thinking part of the lake. Faith under accusation At the mouth of the river. And the spectre of the free At the foot of Animikig** Beside bones of stone and red silver In a basement full of increasing entropy, Moose ribs, wild rice. ( We made a circle ) We made a circle ( We made a circle ) And it helped ( And it helped ) The smoke did the things we couldn’t ( The smoke did the things we could not ) Singing broke open hearts I hold your hand without touching it ( I hold your hand without t...

Sessenta anos: Martin Luther King Jr., gênio da retórica na sua cultura

1. Concordo com Benedict Anderson em ver na imaginação a cola que mantém uma nação minimamente coesa. 2. Somos um animal coletivo narcisista e por isso imaginamos comunidades nacionais criando mitos fundamentalmente positivos. 3. Falo dessa imaginação mítica [ainda com a mesma sanha sintética] em dois lugares que conheço intimamente: Nos Estados Unidos, o mito de ser um ícone luminoso da liberdade produtiva; no Brasil, o mito de ser um ícone luminoso da afetividade prazeirosa. 4. Nenhum mito é simplesmente uma mentira. Os mitos, como os estereótipos, têm poder porque vão buscar em alguma realidade a medula da sua construção fundamentalmente fantasiosa. 5. Entendi mais firmemente o gênio retórico de MLK, lendo a fantástica carta aberta que ele escreveu em abril de 1963 (há 60 anos) no xilindró em Birmingham, Alabama. A carta se dirige ostensivamente a outra carta aberta, publicada no jornal local por líderes religiosos, condenando as manifestações que lançaram o "Projeto C" (...

Trinta Anos: O monstro que hoje está no poder levanta sua face mais feia

 No dia 19 de abril de 1995 um atentado de extrema direita na cidade de Oklahoma City (há vinte minutos de onde eu moro) destruiu o edifício Alfred Murrah. Um carro cheio de explosivos feitos com três toneladas de fertilizante e diesel foi estacionado em frente ao prédio e detonado às nove da manhã. 168 pessoas morreram, entre elas 19 crianças que frequentavam uma creche no prédio, e 800 ficaram feridas. O prédio foi escolhido porque lá havia agências do governo federal. Sinceramente, sem retoques, a gente que explodiu o Murrah em 1995 chegou ao poder trinta anos depois. As ideias extermistas de Timothy McVeigh e Terry Nichols hoje estão no poder.  Salve-se quem puder!

Saudades

 Primeiro aniversário sem a minha mãe.  Leio sobre os americanos de ascendência japonesa que foram levados à campos de concentração nos Estados Unidos. O autor pergunta aos descendentes daqueles que foram aprisionados em seu próprio país só por causa da sua etnia na Segunda Guerra Mundial, "onde é que você vai para estar em contato com os seus antepassados".  Algumas das respostas: no ar na água na terra na natureza perto de água corrente em momentos de quietude  num jardim com pedras     E eu? Onde é que eu me encontro com a minha mãe?  Minha mãe passou os seus últimos anos muito mal: incapaz de usar as mãos e os pés e com apenas breves momentos de consciência. Foram anos difíceis para nós mas muito mais duros para ela, uma pessoa sempre ativa, que se ocupava com mil coisas o tempo todo.   Vou estar com a minha mãe então nas fotos que tenho aqui comigo dela antes desse período difícil. Muitas delas são fotos de antes de eu nascer [minha mãe era d...

Novos [velhos] tempos

 A pior face do conglomerado homogeneizador Netflix é, de longe, os documentários produzidos e/ou promovidos pela plataforma. São quase todos sensacionalistas, esteticamente e epistemologicamente obsoletos. Eles reproduzem o pior da TV a cabo. De um lado, documentários que pretendem "dizer a verdade" sobre "casos" notórios: Flodelis, João de Deus, a mulher que esquartejou o marido, a filha que matou os pais, etc. Do outro lado, documentários que pretendem "dizer a verdade" sobre assuntos "científicos", principalmente de saúde: "curas" para o autismo ou o câncer, "verdades" sobre o funcionamento do cérebro humano etc.  O curioso é que, quando o Netflix entrou no mercado dos EUA, não era como uma plataforma, mas como uma espécie de videolocadora online. Sem a exigência de ter lojas físicas [os DVDs eram enviados pelo correio já com um envelope pronto para o retorno pelo mesmo correio], o acervo era muitíssimo maior do que qualqu...