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Contra o excepcionalismo tupiniquim


Muitas pessoas inteligentes no Brasil são também profundamente provincianas porque acreditam no que os Americanos chamam de “excepcionalismo”: tudo no Brasil é especial [para bem e para mal] e diferente do resto do mundo. Achar que o que está acontecendo no Brasil por causa da Copa da Mundo e das Olimpíadas é um problema fundamentalmente brasileiro é um grande erro, principalmente porque as pessoas insatisfeitas com o rumo das coisas não aprendem nada com as lutas e os erros e acertos de pessoas parecidas com elas em outros países. Veja o caso do controle social na Inglaterra. Separei alguns trechos de um artigo do The Guardian [http://www.theguardian.com/commentisfree/2014/jan/06/law-to-stop-eveyone-everything?CMP=fb_gu] sobre o assunto, trechos em que os paralelos com o que está acontecendo em várias partes do mundo [inclusive o nosso Brasil varonil das praias mais isso e dos engarrafamentos mais aquilo e da corrupção mais não-sei-o-quê]. Peço perdão mas não tenho tempo de traduzir para o português.

“social exclusion follows inequality as night follows day, and now, with little public debate, our city centres are again being privatised or semi-privatised. They are being turned by the companies that run them into soulless, cheerless, pasteurised piazzas, in which plastic policemen harry anyone loitering without intent to shop.”

“You get an asbo for behaving in a manner deemed by a magistrate as likely to cause harassment, alarm or distress to other people. Under this injunction, the proscribed behaviour becomes a criminal offence. Asbos have been granted which forbid the carrying of condoms by a prostitute, homeless alcoholics from possessing alcohol in a public place, a soup kitchen from giving food to the poor, a young man from walking down any road other than his own, children from playing football in the street. They were used to ban peaceful protests against the Olympic clearances.”

“They allow the courts to imprison people for offences which are not otherwise imprisonable. One homeless young man was sentenced to five years in jail for begging: an offence for which no custodial sentence exists.”
“The bill would permit injunctions against anyone of 10 or older who "has engaged or threatens to engage in conduct capable of causing nuisance or annoyance to any person". It would replace asbos with ipnas (injunctions to prevent nuisance and annoyance), which would not only forbid certain forms of behaviour, but also force the recipient to discharge positive obligations. In other words, they can impose a kind of community service order on people who have committed no crime, which could, the law proposes, remain in force for the rest of their lives.
The bill also introduces public space protection orders, which can prevent either everybody or particular kinds of people from doing certain things in certain places. It creates new dispersal powers, which can be used by the police to exclude people from an area (there is no size limit), whether or not they have done anything wrong.”
“The new injunctions and the new dispersal orders create a system in which the authorities can prevent anyone from doing more or less anything. But they won't be deployed against anyone. Advertisers, who cause plenty of nuisance and annoyance, have nothing to fear; nor do opera lovers hogging the pavements of Covent Garden. Annoyance and nuisance are what young people cause; they are inflicted by oddballs, the underclass, those who dispute the claims of power.”

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