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Música: "Freight Train" de Elizabeth Cotten

Elizabeth Cotten é uma dessas canhotas danadas que autodidaticamente acabam inventando coisas fantásticas "brigando" com instrumentos e objetos feitos para destros. Falando de forma egoísta, Elizabeth Cotten é também um desses talentos maravilhosos que a pobreza muitas vezes nos esconde e nos nega. Desde esse ponto de vista, a história dela é uma história feliz. Cotten passou 25 anos sem fazer música mas, trabalhando como babá numa casa de músicos, reencontrou o violão e tocou para seus patrões essa canção, "Freight Train" (Trem de Carga), que ela compôs quando tinha 11 anos. 

Já imaginou uma menina de 11 anos cantando “when I’m dead and in my grave [...] Place the stones at my head and feet]!? A letra se encaixa na música de uma forma de certa forma infantil, mas a canção tem uma gravitas incomum. Há uma maravilhosa economia de palavras: a conexão causal entre "Please, don't tell what train I'm on" e "They won't know what route I'm gone" é muda. O fim da rua Old Chestnut é obviamente perto dos trilhos mas esse nomear [da rua e do trem] transmitem uma familiaridade entre quem canta e aquele lugar. Finalmente, há um lindo movimento dissonante entre a abertura [que fala em fuga daquele lugar] e as duas estrofes seguintes [que falam em retorno, num pertencimento final]. 

Freight train, freight train, run so fast.
Freight train, freight train, run so fast.
Please don't tell what train I'm on,
They won't know what route I'm gone.

When I'm dead and in my grave,
No more good times ere I crave.
Place the stones at my head and feet
And tell them all I'm gone to sleep.

When I die, Lord, bury me deep
Down at the end of old Chestnut Street
So I can hear old Number Nine
As she comes rolling by.

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Sinceramente me dá agonia pensar nos muitos talentos, em todas as áreas, que o Brasil já sepultou na sua pobreza e opressão sem dó nem piedade. Sem redenção no final da vida. Enterrados sem dividir com a gente tanto. 



Um pouquinho mais nova:


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