Arte Minha: O Senhor é o meu pastor |
4. Chegam dois
candidatos à campanha presidencial. De um lado, um sujeito que traz em seu
currículo seis falências, sete trocas de partido político e 3.350 disputas na
justiça. Esse sujeito proporciona um ciclo interminável de discursos absurdos –
colagens de frases soltas e afirmações ao mesmo tempo vagas e esdruxulas – em comícios
grotescos cheios de gente que grita coisas como “Lock her up” [bota ela na
cadeia] e ”Hang that Bitch!” [enforca aquela vaca].
Do outro
lado, uma candidata que é uma política experiente “normal” em tudo o que isso
poderia representar de ruim [dando limites claros para a sua ação] como de bom
[com um currículo de atuação pública concreta e uma carreira política respeitáveis].
Quase que
num reflexo do sistema bipartidário, insiste-se na imprensa num paralelismo
entre os dois candidatos, tão desiguais. Discute-se, por exemplo, como
equivalentes uma política externa detalhada por uma pessoa que dirigiu a política
externa do seu país recentemente e uma coleção de respostas de não mais que
duas frases em entrevistas esparsas no tempo. Exemplo mais impressionante dessa
anemia de conteúdo: a posição do candidato sobre a uma etapa da tal guerra
interminável – a invasão do Iraque – é baseada num vago “I guess so” [Acho que
sim] quando perguntado sobre o assunto num programa de rádio que pode ser
explicado para um brasileiro sucintamente como uma espécie de Ratinho.
Desenho meu: Auto-retrato |
As
tentativas de analisar de forma simétrica uma barulheira desprovida de conteúdo
e um programa de governo detalhado expõem cada vez mais o abismo entre os dois
candidatos e os debates na televisão são dolorosos de ver, com o contraste
entre o nada e uma candidatura em todos os sentidos organizada e articulada. Pode-se
gostar ou desgostar das ideias de uma candidatura política, mas como articular de
forma paralela uma discordância de um nada? Como comparar um programa de
governo com um completo vazio intelectual, uma expressão quase inarticulada de sentimentos
como raiva, frustração e ódio, algo parecido com um grunhido?
5. Em
tempos de Tuíto, controvérsia gera atenção e atenção é poder. Um exército de imbecis
insuflados por fanatismos e obsessões [misoginia, religião, racismo, machismo] produz
uma constante onda de boatos e alimenta polêmicas tiradas do nada. Continua a
levantar poeira de um inquérito da polícia federal arquivado por causa da
decisão equivocada de usar um servidor da internet para e-mails do departamento
do estado [tendo sido constatado que não houve nem vazamento nem atos de espionagem
propiciados pela decisão]. São convocados não menos que 10 inquéritos
parlamentares sobre um notório ataque a uma embaixada dos Estados Unidos na
Líbia sem chegar a nenhum tipo de condenação à atuação da candidata quando
ministra. Levantam insistentemente dúvidas quando ao estado de saúde da
candidata. Infindáveis polêmicas vazias são conduzidas e reconduzidas por
personalidades políticas e figuras da mídia conservadora com estridência histérica.
Arte minha: a locomoção de cegos - o desejo é uma corrida rumo ao nada |
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