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Showing posts from February, 2018

Recordar é viver: A Gaiola dos Loucos

Era uma vez a internet no começo do século. Trata-se para mim de um pular de um blogue para outro, procurando coisas interessantes, postando comentários e tentando [às vezes sem sucesso] engrenar uma conversa aqui ou ali. Alguns tinham listas intermináveis de comentários em debates bizantinos sobre política ou teoria onde o bate-boca se misturava com jargões e longas explicações. Outros compartilhavam textos dos outros e alguns só textos de autoria própria. Passei longe do tal do Orkut e seus grupos sobre tudo quanto é assunto. Nem sequer me inscrevi. A internet era então isso de visitar blogues e a visita periódica aos jornalões que eu conhecia no papel, desde a casa dos meus pais: Estado de Minas, O Tempo, O Globo, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Estado de S, Paulo . Eu morava fora e aquilo era uma forma surpreendente de se manter conectado ao Brasil estando tão longe, de uma maneira nova, que era antes impossível. Sabia de uma batida de carros no Anel Rodoviário antes que ...

Cinema: O Apartamento

Duas cenas para mim são memoráveis:  a esposa/atriz coadjuvante da peça abre num só gesto  a porta  do apartamento arranjado às pressas  e some de  cena, a camera persiste na porta que vai se fechando sozinha lentamente, silenciosamente, sem bater - saberemos depois que quem subia as escadas não era o marido, mas sim um homem relacionado à antiga inquilina, homem que ataca violentamente a esposa no banheiro do apartamento. Outra cena sem diálogos ou atores me impressionou, a camera  registra silenciosamente a partir do ponto de vista do protagonista que precisa abandonar rapidamente seu apartamento  o trabalho indiferente de um guindaste que continua a cavocar a terra do lote ao lado do prédio, como se fosse um barulhento   brinquedo de crianças, indiferente à evacuação das famílias ao lado. O filme O Apartamento  do diretor iraniano Asghar Farhadi  é um filme sutil e a sua sutileza fica meio fenomenal no contexto de um audiovisual c...

Primeiro rascunho: Onde estamos?

Onde estamos? Estamos no inferno: Aqui a vida em baixa não vale mais nada. As minas cavam labirintos bloqueados e as barragens sangram merda química que escorre pelos rios circulando febre e morte até o mar até o mar até o mar até o mar. Os dinossauros voltaram do fundo do oceano, os crocodilos saem pelas manilhas do esgoto, os escorpiões aprenderam com os dragões fogosos do capital a voar cuspindo navalhas e os tubarões passeiam na praia de uniforme. As engrenagens do inferno se encaixam e os amplificadores berram seu mantra: “Agora, sim, tudo entra nos eixos e que se fodam todos os parasitas inúteis do nosso tão suado dinheirinho: Os doentes são lixo esperando a coleta e todos os loucos terão o seu choque elétrico. Os que dormem debaixo da ponte são vermes, os que pedem esmola são baratas e os que dormem na calçada são ratos. Quem não anda de carro é um alvo no asfalto e quem reclama fome e frio que espere a esteira dos tanques e dep...