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Currais Novos e a velha chama



Visitei Currais Novos esta semana. Currais Novos fica há três horas de Natal, no sertão do Rio Grande do Norte. A UFRN tem lá um campus, simples, mas muito bem cuidado, atendendo alunos em geral das localidades ali em volta além da própria cidade.

Fui lá dar um curso sobre Guimarães Rosa e Machado de Assis. Foi sensacional. Alunos interessados, participantes e inteligentes nos seus questionamentos. Acho que parte disso é fruto do trabalho de um colega de trabalho que leciona por lá, gaúcho da serra formado pela excelente pós-graduação da UFMG, onde tive o privilégio de fazer algumas matérias para completar o meu doutorado. Tenho certeza que a qualidade dos seus alunos e a atitude deles na sala são frutos da postura dele, séria e ao mesmo tempo verdadeiramente aberta, livre daquele ranço autoritário que aparecia em tantos [bons e maus] professores que eu tive no Brasil, ranço que encarava uma pergunta do aluno como um desafio à autoridade do professor e um comentário qualquer como ofensa pessoal. Sem exageros acho que é fruto de gente formada e criada em tempos de democracia.

Confesso que lá em Currais Novos se acendeu de novo aquele meu velho desejo de voltar ao Brasil. Agora apenas uma pequena, tímida chama, sem muitas esperanças. As coisas estão mesmo feias por aqui - dava para ver lá de fora e dá para ver aqui de perto, de dentro. Nem tanto pelas asneiras de um governo que, pela quantidade e pela qualidade, faz os piores momentos do nosso passado recente [creio que Collor com seu governo de Zélia e Magri e pixotadas como o confisco da poupança e o fim da Embrafilme] parecerem piada.

Mas a chama, confesso, se acendeu. Tantos já vão se apressar em me chamar de louco. Bom, se eu não fosse "louco" não seria professor de literatura [se é que ainda mereço o nome] e teria trabalhado com qualquer outra coisa que me remuneraria melhor e me daria muito menos dores de cabeça. Então, assumidamente "louco", porque não confessar que eu seria muito mais feliz numa sala de aula como a que encontrei no auditório de Currais Novos?

Comments

Paulo, muito tocante o seu depoimento! Acredite, é um sopro de ânimo para os momentos difíceis!

Eu mesmo já devo ter chamado você de louco no passado, por conta desse mesmo assunto. Mas agora, depois das nossas muitas conversas desta semana, consigo entender talvez um pouco melhor a sensação. Conte comigo para o que precisar, e vamos seguir com novas parcerias.

Obrigado, André. Foi realmente excelente a experiência.
Estamos ansiosos aqui pela sua visita. Este ano a Mostra Cultural de setembro vai Literária e a biblioteca ficou com o Guimarães Rosa. Comecei com Manuelzão e Miguilim e vamos avançando. Li esse post fiquei feliz com a sincronicidade.
Legal, Norma. Vou estar em Belo Horizonte só em Julho, mas espero que dê para a gente fazer alguma coisa.

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