Leituras da
Semana
1. Ando
lendo muito Andrés Bello e lendo bastante sobre ele também. Junto com as
leituras que ando fazendo de e sobre José Bonifácio de Andrada, ando vivendo no
começo do século XIX por esses dias. Tendo vivido o mundo colonial, as independências
e depois a dura luta pela consolidação dos novos países latino-americanos, Andrés
Bello talvez seja o intelectual mais importante da época.
Era um
conservador, como Bonifácio. Se não foi protagonista de qualquer independência
(trabalhou no serviço diplomático de Venezuela, Colômbia e Chile), teve longa
carreira no governo do Chile, onde morreu consagrado como patrono da
universidade e senador da república. Acreditava que a ordem era o aspecto mais
importante para a consolidação dos estados nacionais e a paz na América Latina.
E a ordem para ele só poderia vir com um governo forte e centralizador – capaz de
atuar sem muita interferência do legislativo ou mesmo do judiciário. Simpatizava
com a monarquia liberal, não absoluta, no modelo inglês. Na impossibilidade de
um regime desse tipo na América espanhola, ele tinha como ideal uma república relativamente
autoritária que promovesse através do estado a educação de elites e povo com o
objeto de preparar os cidadãos para exercer a vida cívica de acordo com os princípios
da razão e da ciência. Também era favorável que se enfatizasse os laços
tradicionais com a Espanha e a sua cultura (incluindo o catolicismo), como
forma de prover um estado nacional coeso e ordenado.
Pessoalmente,
não poderia discordar mais de Andrés Bello em todos esses pontos. Reconheço sua
inteligência e na sua voz ponderada vejo um equilíbrio difícil de manter num
mundo virado de cabeça para baixo. Aprendo com ele, mesmo que ele se refira a
um mundo muito distante do meu no tempo e no espaço. Eis aí um tipo de
conservadorismo que acho que vale a pena discutir e debater. Discordando dele
percebo que torno meus próprios argumentos melhores, pois ele me força a levar
em conta fatores e problemas que eu tenderia a descontar.
Discordar
de qualquer lunático que pensa que a terra é plana, ao contrário, me parece uma
tremenda perda de tempo. Sinto que o seu discurso agressivo e infantil acaba pautando
os meus contra-argumentos, que assim se deixam balizar pela sua ignorância e a
estupidez. Daí ter me decidido a me afundar nos livros e deixar grande parte
das requisições do mundo das redes sociais.
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