-->
O dia 7 outubro marcou o décimo-oitavo da guerra no Afeganistão.
Os Estados Unidos já gastaram 850 bilhões de dólares na guerra. 750.000 pessoas foram
mandadas pelas suas forças armadas para combater o aparentemente indestrutível Talibã. Pelo menos 150.000
pessoas foram mortas nos combates. Dezoito anos depois mais ou menos a metade do
Afeganistão está sob controle do Talibã ou é disputado por ele. O governo oficial é uma quase ficção: metade do seu orçamento consiste de "doações" de governos estrangeiros, O Afeganistão tem 2 milhões e meio de pessoas expulsas das suas casas, inchando a capital Cabul, que triplicou de tamanho desde 2001.
A guerra no Afeganistão dura dezoito anos e não gerou
nada de útil para ninguém, a não ser que você ganhe dinheiro com armamentos e serviços
diversos para sustentar a máquina de guerra. Um símbolo visual poderoso dessa
futilidade absurda são as fotos da gigantesca base militar de Leatherneck, construída
numa província ao sul do Afeganistão. A imensa base foi abandonada no final do
governo Obama – que, com todo o seu charme eloquente de ex-aluno de Ivy League, não foi capaz de melhorar em nada a situação no Afeganistão durante
oito anos de governo. As fotos por satélite – pelo jeito ninguém tem coragem de ir
fotografar o complexo abandonado por terra - são impressionantes. Parece que a
areia do deserto vai lentamente comendo Leatherneck, indiferente a tudo. O Talibã, hoje com 60.000
guerrilheiros, tem feito pó de todos os planos e estratégias e bilhões de dólares de Bush,
Obama, Trump e seu punhado de aliados europeus.
2011 |
2014 |
2015 |
Novidades depois de 18 anos? A presença do fanatismo internacionalista
do ISIS, agora em combates frequentes contra o Talibã. O presidente laranja cancelou todas
as restrições a operações como bombardeios que possam causar vítimas civis no
Afeganistão, além de oferecer perdão presidencial a soldados e oficiais de
baixa patente depois que a própria justiça militar americana os havia condenado
por conduta criminosa no Afeganistão e no Iraque. A guerra
passou a ser feita pela CIA – bombardeios com drones e “tropas especiais” que
massacram civis indiscriminadamente. A nova fórmula agrada aos estadunidenses: um aumento significativo de mortos civis (um terço deles crianças) tem
correspondido a uma diminuição significativa de soldados dos Estados Unidos mortos. E já há quem aposte em seguir nessa toada por mais uns dez anos.
Talvez isso pudesse explicar o que aconteceu no
segundo semestre de 2019. Em setembro parecia que um acordo entre o Talibã e os
Estados Unidos seria firmado: 5.400 militares americanos sairiam do Afeganistão
em 135 dias e o restante 8.600 em um ano e meio. O “governo” afegão sequer
participou das negociações. A paz viria em troca de promessas que o Talibã não iria mais dar
abrigo a grupos como Al Qaeda e iria começar a negociar com o tal “governo”
algum tipo de acordo de paz em Oslo. Aí entra o instinto de palhaço de reality
show do Agente Laranja da Casa Branca, cancelando o acordo inteiro em um twitter
intempestivo. É o que ele pode fazer, não o que ele gostaria de fazer. Numa bravata recente, o Agente Laranja disse que “se eu
quisesse entrar e ganhar uma guerra no Afeganistão, eu poderia ganhar em uma
semana. O Afeganistão seria varrido da face da terra.” Por enquanto, é o campo Leatherneck vai sendo lentamente varrido da face da terra."
Comments