Sinceramente personalizar a natureza é um ato grosseiro de vaidade
humana, comparável com aquele velho hábito de personalizar os Deuses. A
natureza (ou deus, se você preferir) não é uma pessoa e não precisa atuar de acordo com parâmetros humanos
de necessidade e satisfação. Acabei de ler, por necessidade de trabalho, o
livro Verde brillante: Sensibilità e intelligenza del mondo vegetale de
Alessandra Viola e Stefano Mancuso. Interessantíssimo o assunto, mas a linguagem do livro está cheia desse vício
de linguagem. A natureza personalizada que Viola e Mancuso imaginam atua como um executivo de
uma empresa, seguindo a cartilha neoliberal de cortar gastos inúteis e aumentar
a produtividade, em busca de agradar a um suposto código de leis que eles
chamam de Evolução, mas que sinceramente parecem os mandamentos do Senhor
Mercado.
Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...
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