Sinceramente personalizar a natureza é um ato grosseiro de vaidade
humana, comparável com aquele velho hábito de personalizar os Deuses. A
natureza (ou deus, se você preferir) não é uma pessoa e não precisa atuar de acordo com parâmetros humanos
de necessidade e satisfação. Acabei de ler, por necessidade de trabalho, o
livro Verde brillante: Sensibilità e intelligenza del mondo vegetale de
Alessandra Viola e Stefano Mancuso. Interessantíssimo o assunto, mas a linguagem do livro está cheia desse vício
de linguagem. A natureza personalizada que Viola e Mancuso imaginam atua como um executivo de
uma empresa, seguindo a cartilha neoliberal de cortar gastos inúteis e aumentar
a produtividade, em busca de agradar a um suposto código de leis que eles
chamam de Evolução, mas que sinceramente parecem os mandamentos do Senhor
Mercado.
Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia,
que pertence a menos gente
mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia
foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.
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